domingo, 13 de julho de 2014

SESSÃO 32: 29 DE JULHO DE 2914



OLIVER! (1968)

Partindo de um espectáculo teatral com excelente argumento, poemas e partitura musical de Lionel Bart, Carol Reed volta ao romance de Charles Dickens, mas agora em versão musical. Obviamente que a estrutura de um musical impõe características muito próprias, mas o talento de Carol Reed e da sua equipa conseguiu o milagre de se manter fiel ao espírito da obra e do autor, estruturando-a de forma a respeitar as regras do musical.
A obra teatral estreou-se nos palcos de Londres em 1960, manteve-se durante uma longa temporada, e lançou-se na Broadway três anos depois, com igual sucesso. Seria reposto no West End por duas vezes, em 1994-1998 e novamente entre 2008-2011. A peça, que alguma crítica da época considerou mais próxima do filme de David Lean do que do romance de Dickens, resume consideravelmente a intriga da obra literária, e aligeira-a nalguns aspectos. Sobretudo nos considerados mais sensíveis. A adaptação para argumento cinematográfico, devida a Vernon Harris, é bastante boa. A figura de Fagin, um judeu, tinha causado alguns dissabores a Dickens, que chegou a ser chamado de anti-semita. O próprio Dickens terá tentado limpar essa imagem em trabalhos futuros, mas Lionel Bart, um judeu igualmente, resolveu amenizar a personagem de Fagin, carregando mais o seu lado bonacheirão e cómico e diluindo as asperezas da sua vilania. No filme, estes aspectos mantêm-se, mas na globalidade a obra permanece muito próxima do espírito humanista e da crítica social do escritor.


De resto, conta com um brilhante elenco, Ron Moody, em Fagin, Oliver Reed, em Bill Sykes, Shani Wallis em Nancy, Hugh Griffith, Harry Secombe, Jack Wild e o pequeno Mark Lester, no protagonista. Deve referir-se ainda a reconstituição algo estilizada da Londres vitoriana, que se fica a dever a John Box, a coreografia dos números musicais, movimentando multidões de bailarinos e figurantes, invulgarmente coreografados e extremamente inventivos, da responsabilidade de Onna White, e a belíssima fotografia de um mestre, Oswald Morris. Deve dizer-se que toda a movimentação coreográfica e brilhante, o que se pode comprovar desde logo, no inicio, quando Oliver nos é apresentado no Asilo, numa concepção gráfica e arquitectónica que relembra o “Metropolis”, de Fritz Lang, ou nesse empolgante número de rua "Consider Yourself".
Carol Reed, que já nos tinha dado obras admiráveis, como o inesquecível “O Terceiro Homem”, volta a impressionar pela encenação envolvente deste drama de uma criança que toca a sensibilidade de todos os públicos, desde os mais jovens aos adultos mais obstinados. O retrato das personagens é esboçado de forma larga, mas consistente, e a sua inserção nos ambientes arquitectónicos e humanos é hábil e decisiva para o triunfo do filme, que se confirma como um dos grandes momentos do género, numa altura em que o musical começava já a dar mostras de estar longe da sua época de ouro.


Há vários números musicais excelentes. A sua ordem, depois da “Abertura” e do “Tema Central”, é a seguinte: "Food, Glorious Food"/"Oliver!", "Boy for Sale", "Where is Love?", "Consider Yourself", "Pick a Pocket or Two", "It's a Fine Life", "I'd Do Anything", "Be Back Soon", "Who Will Buy?", "As Long As He Needs Me", "Reviewing the Situation", "Oom-Pah-Pah", "Reviewing the Situation", “Final” (recuperando "Where is Love?" e "Consider Yourself"). Na cerimónia da atribuição dos Oscars de 1969, “Oliver!”, que tinha sido nomeado para onze estatuetas, acabaria por arrecadar seis, Melhor Filme, para o produtor John Woolf, Melhor Realização, para Carol Reed, Melhor Adaptação de partitura Musical, para John Green, Melhor Direcção Artística e Cenários, para John Box e Terence Marsh, Melhor Som, para a equipa Buster Ambler, John Cox, Jim Groom, Bob Jones e Tony Dawe, e ainda o Oscar Honorário da Academia, para Onna White, pelo seu “brilhante contributo para a arte da coreografia”. As restantes nomeações, não premiadas, foram para Melhor Actor, Ron Moody, Melhor Actor Secundário, Jack Wild, Melhor Argumento Adaptado, Vernon Harris, Melhor Fotografia, Oswald Morris, Melhor Guarda-roupa, Phyllis Dalton, e Melhor Montagem, Ralph Kemplen. Só 34 anos depois um outro musical, “Chicago”, voltaria a ganhar o Oscar de Melhor Filme do Ano.
Nos Globos de Ouro do mesmo ano, “Oliver!” voltaria a ganhar o Melhor Filme do Ano, na categoria de Comédia e Musical, e Ron Moody ganharia o de Melhor Actor, na mesma categoria. Carol Reed, Hugh Griffith e Jack Wild seriam igualmente nomeados. Nos BAFTAS de 1969 (os Oscars ingleses), o filme de Carol Reed contaria oito nomeações, mas perderia todas, muitas delas para “A Primeira Noite”, de Mike Nichols.

OLIVER!
Título original: Oliver!
Realização: Carol Reed (Inglaterra, 1968); Argumento: Vernon Harris, segundo versão teatral de Lionel Bart, adaptando obra de  Charles Dickens ("Oliver Twist"); Produção: John Woolf; Música: Johnny Green; Fotografia (cor): Oswald Morris; Montagem: Ralph Kemplen; Casting: Jenia Reissar; Design de produção: John Box; Direcção artística: Terence Marsh; Guarda-roupa:  Phyllis Dalton; Maquilhagem: George Frost, Bobbie Smith, Hugh Richards; Direcção de Produção:  Denis Johnson Jr., Denis Johnson; Assistentes de realização: Colin M. Brewer, Ray Corbett, Mike Higgins, Chris Kenny; Departamento de arte: Vernon Dixon, Peter Dukelow, Percy Godbold, Ken Muggleston; Som: Buster Ambler, John Cox, Jim Groom, Bob Jones; Efeitos especiais: Alan Bryce; Companhias de produção: Romulus Films, Warwick Film Productions; Intérpretes: Ron Moody (Fagin), Mark Lester (Oliver) (dobrado nas canções por Kathe Green), Shani Wallis (Nancy), Oliver Reed (Bill Sikes), Jack Wild (Artimanhas), Harry Secombe (Mr. Bumble), Peggy Mount (Mrs. Bumble), Leonard Rossiter (Mr. Sowerberry), Hylda Baker (Mrs. Sowerberry), Joseph O'Conor (Mr. Brownlow), Sheila White (Bet), Megs Jenkins (Mrs. Bedwin), Hugh Griffith (Juiz), Kenneth Cranham (Noah Claypole), Wensley Pithey (Dr. Grimwigg), James Hayter, Elizabeth Knight, Fred Emney, Edwin Finn, Roy Evans, Norman Mitchell, Robert Bartlett, Graham Buttrose, Jeffrey Chandler, Kirk Clugston, Dempsey Cook, Christopher Duff, Nigel Grice, Ronnie Johnson,  Nigel Kingsley, Robert Langley, Brian Lloyd, Peter Lock, Clive Moss, Ian Ramsey, Peter Renn, Billy Smith, Kim Smith, Freddie Stead, Raymond Ward, John Watters, etc. Duração: 153 minutos; Distribuição em Portugal: Columbia Warner Filmes (DVD); Classificação etária: M/ 12 anos; Data de estreia em Portugal:11 de Dezembro de 1968.

RON MOODY (1924 - )
Ron Moody nasceu em Tottenham, a norte de Londres, Inglaterra, a 8 de Janeiro de 1924. Filho de Kate Ogus e Bernard Moodnick, este oriundo de uma família de judeus russos que emigraram para Inglaterra depois da Revolução Soviética. Primo de Laurence Moody, que viria a ser realizador televisivo, e da actriz Clare Lawrence. Frequentou a London School of Economics, com a ideia de se tornar contabilista, mas haveria de enveredar pelo espectáculo, como actor, de teatro, cinema e televisão. A sua composição mais célebre foi Fagin, em “Oliver!”, primeiro no teatro, depois no filme de Carol Reed, com o qual ganharia o Globo de Ouro de Melhor Actor e seria nomeado para o Oscar na mesma categoria. Na televisão integrou o elenco de diversas séries, algumas infantis, como “The Animals of Farthing Wood”, “Noah's Island”, “Telebugs”, “Into the Labyrinth” e “Discworld”. Actor muito versátil, apareceu em mais de oitenta títulos, a maior parte dos quais televisivos.

Filmografia

Como actor (títulos mais importantes): 1961: Five Golden Hours (O Cangalheiro e as Viúvas), de Mario Zampi; 1962: A Pair of Briefs, de Ralph Thomas; 1963: Mouse on the Moon (Um Rato em Órbita), de Richard Lester;  1963: Summer Holiday (Mocidade em Férias), de Peter Yates; 1964: Murder Most Foul (A Velha Investiga), de George Pollock; 1965: Every Day's a Holiday (Férias para Todos ), de James Hill; 1966: The Sandwich Man (Londres é de Gritos), de Robert Hartford-Davis; 1968: Oliver! (Oliver!), de Carol Reed; 1970: Balbúrdia no Leste (The Twelve Chairs), de Mel Brooks; 1975: Dogpound Shuffle, de  Jeffrey Bloom; Legend of the Werewolf (A Lenda do Lobisomem), de Freddie Francis;  1979: The Spaceman and King Arthur (Um Astronauta na Corte do Rei Artur), de Russ Mayberry; 1982: Wrong Is Right (O Homem das Lentes Mortais), de Richard Brooks; 1984: Where Is Parsifal? (onde está o Parsifal?), de Henri Helman; 1995: A Kid in King Arthur's Court (Uma Viagem à Corte do Rei Artur), de Michael Gottlieb.

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