sábado, 26 de abril de 2014

SESSÃO 17: 27 DE MAIO DE 2014


COM JEITO VAI MESTRE (1959)

A série de comédias inglesas “Com Jeito Vai…” foi uma das de maior sucesso popular em Inglaterra e em todo o mundo. Produziram-se 31 filmes entre 1958 e 1992, mas 30 delas até 1979. Eram comédias com um tema central para cada uma delas, organizando-se como uma sucessão de sketches, parodiando o assunto, muitas vezes outros filmes de grande sucesso (Cleópatra, westerns, filmes de terror, 007, Emmannuelle, etc.) ou então certas instituições, como a escola, o hospital, o exército, a marinha, o campismo, os cruzeiros, etc.
São comédias populares, sem grandes subtilezas, vivendo de trocadilhos linguísticos e de situações dúbias. São brejeiras, qb, sem entrarem na ordinarice, por vezes com um humor ingénuo, aos nossos olhos de hoje, mas que não só fizeram um tempo, como hoje são vistas como objectos de culto por plateias de várias idades e extractos sociais. Na época foram atacadas por serem uma forma de fuga à realidade (veja-se o ataque que lhes moveram os “angry young men” e o “free cinema”), o que se compreende.


“Com Jeito Vai, Mestre”, terceiro título da série, e um dos mais divertidos destes primeiros anos, passa-se quase todo no interior de uma escola (a Maudlin Street Secondary Modern School), onde acontece uma inspecção que irá analisar o desempenho da instituição, tanto da parte de professores como dos alunos. Há duas concepções pedagógicas que se confrontam, o rigor autoritário de um lado e a “compreensão” laxista para o comportamento dos alunos. Em causa está a continuação ou não de um director de escola (o “headmaster”), consoante os inspectores aprovem ou não o desempenho da escola. Se aprovarem, o director pode ganhar um novo posto, numa nova escola, deixando aquela onde se encontra há vinte anos. Mas alguns alunos resolvem intrometer-se na avaliação, causando os maiores embaraços aos professores. As aulas de música ou de química tornam-se verdadeiros pesadelos para quem as ministra, enquanto um inspector se perde de amores por uma professora de educação física e outra se deixa seduzir (ou seduz) um desastrado mestre.
Os gags tem graça e não ofendem, e a série é hoje em dia uma curiosidade com muitos fans nos clubes de vídeo onde pululam os DVDs desta pandilha que funcionou com um agradável espírito de grupo. Na verdade os actores iam rodando de filme em filme, mantendo-se um núcleo fixo. Em “Com Jeito Vai, Mestre” encontramos alguns deles, como Kenneth Connor, Charles Hawtrey, Leslie Phillips, Joan Sims, Kenneth Williams, Hattie Jacques, Rosalind Knight, enquanto outros, como Sid James, Peter Butterworth, Terry Scott, Bernard Bresslaw, Barbara Windsor, Jack Douglas ou Jim Dale os vamos encontrar noutras aventuras do mesmo jeito.
Depois de “Carry On Sergeant” e “Carry On Nurse”', este “Carry on Teacher”, como sempre produzido por Peter Rogers e realizado por Gerald Thomas (uma dupla que concedeu os trinta e um títulos da série, o que é obra!), prolonga de certa forma um certo tipo de humor tradicional inglês que vem do music hall e dos entertainers.
Curiosidade: anos mais tarde, Morrissey homenageia o filme com uma canção que cita a escola do filme: "Late Night, Maudlin Street".


COM JEITO VAI MESTRE
Título original: Carry on Professor
Realização: Gerald Thomas (Inglaterra, 1959); Argumento: Norman Hudis; Produção: Peter Rogers; Música: Bruce Montgomery; Fotografia (p/b): Reginald H. Wyer; Montagem: John Shirley; Casting: Betty White; Direcção artística: Lionel Couch; Maquilhagem: Olga Angelinetta, George Blackler; Guarda-roupa: Laurel Staffell; Direcção de Produção:  Frank Bevis; Assistentes de realização: Bert Batt, Ian Goddard, David Tringham; Departamento de arte: Terence Morgan; Som: Robert T. MacPhee, Gordon K. McCallum, Les Wiggins, Cyril Crowhurst; Peter Rogers Productions, Beaconsfield Productions; Intérpretes: Kenneth Connor (Gregory Adams), Charles Hawtrey (Michael Bean), Leslie Phillips (Alistair Grigg), Joan Sims (Sarah Allcock), Kenneth Williams (Edwin Milton), Hattie Jacques (Grace Short), Rosalind Knight (Felicity Wheeler), Cyril Chamberlain (Alf Hudson), Ted Ray (William 'Wakie' Wakefieldo), Richard O'Sullivan (Robin Stevens), George Howell (Billy Haig), Diana Beevers (Penelope 'Penny' Lee), Jacqueline Lewis (Pat Gordon), Roy Hines (Harry Bird), Carol White (Sheila Dale), Jane White (Irene Ambrose), Paul Cole (John Atkins), Larry Dann, Francesca Annis, Josephine Bailey, David Barry, Sandra Bryant, Jeremy Bulloch, Peter Cleall, Terry Cooke, Leonard Davey, Jane Evans, Daphne Foreman, Irene French, Vicky Harrington, Lorna Henderson, Diane Langton, David Tilley, etc. Duração: 86 minutos; Distribuição em Portugal: LNK; Classificação etária: M/ 12 anos; Data de estreia em Portugal: 23 de Dezembro de 1960.

CARRY ON  - A SÉRIE
A série “Carry On” (“Com Jeito Vai…” na sua tradução portuguesa) é um conjunto de comédias inglesas que se iniciaram em 1958 e que se prolongou até 1992, inicialmente distribuídos pela   Anglo-Amalgamated (1958 – 1966), pela Rank Organisation (1967 – 1978), todas elas rodadas nos Pinewood Studios. Consta de 31 títulos para cinema, três especiais de Natal, e uma outra série de televisão, com  treze episódios, além de três espectáculos teatrais que estrearam no West End de Londres e fizeram tournées pela província.
Peter Rogers e Gerald Thomas foram respectivamente o produtor e o realizador, sendo que por duas vezes ambos assinaram conjuntamente a direcção. Empregavam um conjunto de actores mais ou menos constante que circulavam pelas diversas obras, consoante as necessidades do projecto. Os nomes mais assíduos foram os de Sid James, Kenneth Williams, Charles Hawtrey, Joan Sims, Kenneth Connor, Peter Butterworth, Hattie Jacques, Terry Scott, Bernard Bresslaw, Barbara Windsor, Jack Douglas e Jim Dale. Entre 1958 e 1992, surgiram sete argumentistas, entre os quais Norman Hudis (1958–62) e Talbot Rothwell (1963–74). As partituras musicais tiveram três compositores principais: Bruce Montgomery (1958–62), Eric Rogers (1963–75, 1977–78) e Max Harris (1976: Carry On England).
É até hoje a segunda série de filmes ingleses com maior duração, só ultrapassada pelo James Bond, 007.  Existiu um longo hiato entre 1978 e 1992.
Foi uma série muito popular, não só Inglaterra, como um pouco por todo o lado. Em Portugal estrearam-se quase todas no Cinema São Jorge, em épocas apropriadas, Carnaval ou Natal. 
Filmografia: 1958: Carry On Sergeant (Com Jeito Vai, Sargento), de  Gerald Thomas; 1959: Carry On Nurse, de  Gerald Thomas; Carry On Teacher (Com Jeito Vai, Mestre), de  Gerald Thomas; 1960: Carry On Constable (Com Jeito Vai, Sr. Guarda), de  Gerald Thomas; Carry On Regardless, de Gerald Thomas, Ralph Thomas; 1962: Carry On Cruising, de  Gerald Thomas,Ralph Thomas; 1963: Carry On Cabby, de Gerald Thomas; Carry On Jack, ou Carry On Venus, de Gerald Thomas; 1964: Carry On Spying, de  Gerald Thomas; Carry On Cleo (Com Jeito Vai... Cleópatra), de  Gerald Thomas; 1965: Carry On Cowboy, de  Gerald Thomas; 1966: Carry On Screaming! (Com Jeito Vai... Gritando), de  Gerald Thomas; Carry On – Don't Lose your Head, de  Gerald Thomas; 1967: Carry On – Follow that Camel, de  Gerald Thomas; Carry On Doctor (Doutor, Vamos a Isto), de  Gerald Thomas; 1968: Carry On up the Khyber (Saias Acima), de  Gerald Thomas; 1969: Carry On Camping (Com Jeito Vai... Campista), de  Gerald Thomas; Carry On Again Doctor (Doutor... Agora É Que São Elas), de  Gerald Thomas; 1970: Carry On Up the Jungle ( Agência de Vigarices), de  Gerald Thomas; Carry On Loving, de  Gerald Thomas; Carry On Henry (A Sétima Mulher de Henrique VIII), de  Gerald Thomas; 1971: Carry On At your Convenience (Os Revoltados do Cano), de  Gerald Thomas; 1972: Carry On Matron (Até à... Maternidade!), de  Gerald Thomas; Carry On Abroad (Com Jeito Vai... na Pândega!), de  Gerald Thomas; 1973: Carry On Girls (Simplesmente... 'Garotas'), de  Gerald Thomas; 1974: Carry On Dick (Com Jeito Vai... de Bacamarte à Solta), de Gerald Thomas; 1975: Carry On Behind (Com Jeito Vai... na Farra), de  Gerald Thomas; 1976: Carry On England (Com Jeito Vai... Inglaterra), de  Gerald Thomas; 1978: Carry On Emmannuelle (Com Jeito Vai Emmannuelle), de  Gerald Thomas; 1979: That's Carry On (Com Jeito Vai... Pessoal), de  Gerald Thomas; 1992: Carry On Columbus (Com Jeito Vai... Colombo), de  Gerald Thomas; em televisão: 1998: Carry on Snogging (TV), 2001: Can We Carry On, Girls? (TV), 2011: Greatest Ever Carry On Films (TV).
Em 1969, o canal de televisão ITV apresentou um “Christmas Special”,  "Carry On Christmas", produzido pela Thames Television, que foi visto por mais de oito milhões de tele espectadores. Dois outros “Especiais de Natal” foram lançados em 1972 e 1973. Em 1975 surgiu a primeira série de seis episódios para televisão, a que se seguiu uma segunda série de sete episódios, todos de meia hora. 
A escritora Penelope Gilliatt escreveu sobre uma serie:.. "A carga habitual de fazer contra o Carry On filmes é dizer que eles poderiam ser muito melhor feito Isso é verdade suficiente Olham terrível, eles parecem ser editado com um cortador de toucinho , os efeitos são superficiais e os empurrões de ritmo ao longo de quadrinhos como um gato em uma manhã fria Mas se todas essas coisas eram mais elegante que eu realmente não acho que os filmes seriam mais agradável:.. a maldade faz parte da funniness "
Na imagem, que serviu de capa a um DVD, em 2003, apresentam-se as caricaturas de alguns dos principais actores da série (da esquerda para a direita): Bernard Bresslaw, Kenneth Williams, Joan Sims, Sid James, Hattie Jacques, Jim Dale, Barbara Windsor e Charles Hawtrey.
Uma outra série de comédias desta época, iniciada com "Doctor at Sea" (Uma Garota a Bordo), em 1955, sempre com realização de Ralph Thomas, teve um sucesso algo semelhante. Seguiram-se "Doctor at Large" (Não Diga, Doutor, 1957), "Doctor in Love" (Doutor Apaixonado, 1960), "Doctor in Distress" (Diga... 33 e 1/2, 1963), "Doctor in Clover" (Doutor... tenha Maneiras, 1966), “Doctor in Trouble” (1970), com participação de alguns excelentes actores, como Dirk Bogarde , James Robertson Justice, Leslie Phillips ou Harry Secombe, mas, apesar disso, não conseguiu a continuidade e o êxito de “Com Jeito Vai…”.

GERALD THOMAS (1920-1993)
Gerald Thomas, nascido a 10 de Dezembro de 1920 , em Hull, Yorkshire, Inglaterra, e falecidao a 9 de Novembro de 1993, em Beaconsfield, Buckinghamshire, Inglaterra, iniciou a sua carreira, em 1946, como montador da produtora Two Cities Films, sendo posteriormente realizador de toda a série “Com Jeito Vai…”, de que foi sempre produtor o seu amigo Peter Rogers. Irmão mais novo de Ralph Thomas, que dirigiu diversas obras para a Rank, incluindo a série iniciada com "Doctor at Sea" (Uma Garota a Bordo), em 1955.

Gerald Thomas esteve alistado no Exército inglês durante a II Guerra Mundial e tinha por hábito, para “preservar a espontaneidade dos actores”, utilizar quase sempre a primeira take de cada plano. Por uma questão de economia também, pensamos nós, dado que toda a série “Com Jeito Vai…! Tinha como característica  essencial ser muito económica. 

SESSÃO 16: 20 DE MAIO DE 2014


UM LUGAR NA ALTA RODA (1959)

O free cinema não terá sido um movimento fechado, muito pelo contrário, mas teve o seu núcleo inicial muito bem definido em redor de quatro membros que organizaram as primeiras sessões: Lindsay Anderson, Karel Reisz, Tony Richardson e Lorenza Mazzetti. Jack Clayton não fez parte deste grupo, mas o seu filme “Room at the Top” acabou por se integrar coerentemente nos propósitos dos mentores do movimento: um retrato de uma Inglaterra raramente vista no cinema durante a década de 50, uma análise desencantada e irada sobre a situação social, um desviar de foco, do puro entretenimento para a condição operária e para os conflitos de classes, que só muito acidentalmente eram vistos na cinematografia inglesa desta época. Por isso, “Um Lugar na Ata Roda” passou a ser “companheiro de percurso” do free cinema.
Numa pequena cidade da província inglesa vamos acompanhar a chegada de um jovem, Joe Lampton (Laurence Harvey), que vem ocupar um lugar de secretaria numa das empresas locais. Astuto e arrivista, com sucesso junto das mulheres, Joe começa por cortejar uma francesa que conhece numa companhia de teatral da cidade, Alice (Simone Signoret). Solitária e entrada na idade, Alice prolonga um casamento infeliz e encontra em Joe uma nova esperança de bem-estar. Mas Joe rapidamente muda o seu olhar para Susan Brown (Heather Sears), filha de um importante empresário (Donald Wolfit), que lhe oferece outras garantias de ascensão social. Afinal, tudo se resume a subir na vida, não olhando aos degraus que se pisam para se atingir os fins.
Trata-se mais uma vez de um anti-herói, encolerizado pela situação social, e educado numa sociedade que só premeia os que triunfam e disfrutam de uma condição económica desafogada.
Baseado num romance de John Braine, o argumento de Neil Paterson e Mordecai Richler, poderia facilmente cair nas armadilhas do melodramatismo fácil e piegas, do sentimentalismo mais primário. A realização, sóbria mas vigorosa, de Jack Clayton e as actuações dos principais intérpretes, Laurence Harvey, excelente na sua máscara de um cinismo e pragmatismo extremos, Simone Signoret, numa magnífica composição que lhe valeria o Oscar de Melhor Actriz do ano, e Heather Sears, na figura de uma ingénua e desprevenida adolescente, mantêm o filme a um nível de invulgar austeridade e qualidade plástica e emocional. No que são ainda acompanhados pelo trabalho de dois secundários brilhantes, Donald Wolfit e Hermione Baddeley. O segredo do sucesso desta obra, que correu contra a corrente do tempo e afirmou um olhar novo sobre a realidade inglesa, foi seguramente a sensibilidade de Jack Clayton para descrever o dia-a-dia de uma pequena cidade industrial, a justeza de tom na imposição de personagens e a discreta mas corajosa análise dos pequenos e grandes interesses que se jogam numa sociedade onde impera a hipocrisia. 
A belíssima fotografia a preto e branco de Freddie Francis, e a banda sonora, onde sobressai a partitura musical de Mario Nascimbene, são outros elementos a valorizar esta obra que se afirmou como um dos mais altos momentos do cinema inglês no final da década de 50. Curiosamente, começou por ser mal recebido na sua estreia, mas foi progressivamente ganhando o relevo que hoje lhe é devido. Um dos aspectos mais interessantes da obra foi a forma desassombrada como tratou a questão sexual, muito pouco abordada até então. O facto de surgir um adultério, de se apontarem relações sexuais anteriores ao casamento, e a ousadia sensual de algumas cenas de amor provocaram polémica e geraram mal entendidos. Mas, após algumas semanas em estreia, o filme começaria a ganhar os favores do público e acabaria por ser o quarto maior sucesso de bilheteira do ano. Ganharia inúmeros prémios internacionais: nos Oscars, para lá da estatueta para Simone Signoret, há a referir outro Oscar para Melhor Argumento Adaptado, além de ter sido nomeado para Melhor Filme, Melhor Actor, Melhor Actriz Secundária e ainda Melhor Realizador. Nos Globos de Ouro, ganhou o Samuel Goldwyn Award e Simone Signoret foi igualmente nomeada, ela que tinha anteriormente vencido o Festival de Cannes, onde Clayton foi vedeta. Nos BAFTA de 1959, ganhou o Prémio de Melhor Filme do Ano e de Melhor Filme Inglês do Ano. Simone Signoret não fugiu à regra e viu o seu memorável desempenho galardoado. O filme foi ainda nomeado para Melhor Actor Inglês (Laurence Harvey e Donald Wolfit); Melhor Actriz Inglesa (Hermione Baddeley) e Revelação em Cinema (Mary Peach). 

UM LUGAR NA ALTA RODA
Título Original: Room at the Top
Realização: Jack Clayton (Inglaterra, 1959); Argumento: Neil Paterson, Mordecai Richler, segundo romance de John Braine; Produção: Raymond Anzarut, James Woolf, John Woolf; Música: Mario Nascimbene; Fotografia (p/b):  Freddie Francis; Montagem: Ralph Kemplen; Direcção artística: Ralph W. Brinton; Guarda-roupa: Rahvis; Maquilhagem: Tony Sforzini; Direcção de Produção: James H. Ware; Assistentes de realização: Ronald Spencer; Departamento de arte: Tom Jung; Som: John Cox, Peter Handford, Ken Ritchie; Companhias de produção:Romulus Films, Remus; Intérpretes: Simone Signoret (Alice Aisgill), Laurence Harvey (Joe Lampton), Heather Sears (Susan Brown), Donald Wolfit (Mr. Brown), Donald Houston (Charles Soames), Hermione Baddeley (Elspeth), Allan Cuthbertson (George Aisgill), Raymond Huntley (Mr. Hoylake), John Westbrook (Jack Wales), Ambrosine Phillpotts (Mrs. Brown), Richard Pasco (Teddy), Beatrice Varley, Delena Kidd, Ian Hendry, April Olrich, Mary Peach, Anthony Newlands, Avril Elgar, Thelma Ruby, Paul Whitsun-Jones, Derren Nesbitt, etc. Duração: 115 minutos; Distribuição em Portugal: inexistente; Classificação etária: M/ 12 anos; Data de estreia em Portugal: 2 de Dezembro de 1959.

JACK CLAYTON (1921-1995)
Jack Clayton nasceu a 1 de Março de 1921, em Brighton, Inglaterra, e viria a falecer, com 73 anos, a 26 de Fevereiro de 1995, em Slough, Berkshire, Inglaterra. Casado com Christine Norden (1947-1953), Katherine Kath (?-?) e Haya Harareet (?-1995). Começou a sua carreira no cinema, como actor, com oito anos, no filme “Dark Red Roses” (1929). Aos 14 anos, trabalhava para a empresa de Alexander Korda, Denham Film Studios, como “tea boy”, continuando a subir nos estúdios, passando a assistente de realização e montador. Alistado na Royal Air Force durante a II Guerra Mundial, Clayton dirige o seu primeiro filme, “Naples is a Battlefield” (1944). Terminada a guerra, trabalha como produtor associado na Romulus Film Productions, de John e James Woolf, onde dirige uma curta-metragem que ganharia um Oscar, “The Bespoke Overcoat” (1956), iniciando assim uma carreira regular de realizador e produtor, sendo particularmente atraído para adaptações de obras literárias. “Room at the Top” (1959) é o seu primeiro grande triunfo, aparecendo associado aos movimentos dos angry young men e free cinema que por essa altura surgiram em Inglaterra, recuperando uma tradição realista e social do cinema inglês. O filme recebeu várias nomeações para os Oscars, ganhou dois, e teve diversos prémios em festivais de todo o mundo.
"Os Inocentes" (1961), Segundo Henry James, "The Pumpkin Eater" (1964) e "Casa de Nossa Mãe" (1967) confirmam UMA Reputação, Sendo Contratado DEPOIS POR Grandes Estúdios norte-Americanos de para algumas Produções seguintes, Como "O Great Gatsby "(1974), adaptando F. Scott Fitzgerald, OU" Something Wicked This Way Comes "(1983), Segundo Ray Bradbury. Doente from 1978, um SUA actividade começou a rarear. De Regresso a Inglaterra, dirigiu OS SEUS Dois Ultimos Filmes, um parágrafo cinema, "A Paixão Solitária de Judith Hearne" (1987), outro parágrafo Televisão, "Memento Mori" (1992), Ambos protagonizados POR Maggie Smith.

Filmografia
Como produtor
1944: Nápoles é um campo de batalha (Curta-metragem); 1956: O Bespoke Overcoat (Curta-metragem); 1959: Room at the Top (Um Lugar na Alta Roda); 1961: The Innocents (Os Inocentes); 1964: The Pumpkin Eater; 1967: Casa de Nossa Mãe (Todas como Noites como Nove); 1974: The Great Gatsby (O Grande Gatsby); 1983: Something Wicked This Way Comes; 1987: A Paixão Solitária de Judith Hearne (A Paixão Solitária de Judith Hearne); 1992: Memento Mori (TV)

LAURENCE HARVEY 
(1928-1973)
Laruschka Mischa Skikne (nome de baptismo de Laurence Harvey), nasceu a 1 de Outubro de 1928, em Joniskis, na Lituânia, e faleceu a 25 de Novembro de 1973, em Londres, Inglaterra, vítima de um cancro no estômago. Em 1934, a família emigra para a África do Sul, instalando-se em Joanesburgo. Durante a II Guerra Mundial, Laurence Harvey alista-se no exército, passa pelo Egipto e Itália, após o que regressa à África do Sul, onde começa uma carreira de actor. Ganhou uma bolsa para a Royal Academy of Dramatic Arts e viaja até Londres. Em Manchester, associa-se ao elenco do Library Theater.
Em 1948, estreia-se no cinema em “House of Darkness” e no teatro comercial aparece em "Hassan", um notório fracasso. Junta-se à companhia do Shakespeare Memorial Theatre em Stratford-upon-Avon, na temporada de 1952. Na Romulus Pictures vai construindo uma carreira discreta, de actor frio e distante, até que, em 1954, interpreta Romeu, na versão de “Romeu e Julieta”, de Renato Castellani, um papel que o lança internacionalmente. Chama a atenção de Hollywood e a Warner dá-lhe o protagonismo em “O Talismã” (1954). Prossegue o trabalho sem sobressalto até que, em 1959, Jack Clayton o contrata para “Um Lugar na Alta Roda” (1959), uma obra que, conjuntamente com “Paixão Proibida” (1959), renova o cinema inglês, e impõe o “free cinema”, ainda que Clayton não faça parte do movimento, sendo no entanto a ele associado pelas características sociais e realistas do filme. Harvey é nomeado para o Oscar de Melhor Actor e a sua carreira estava lançada, tanto em Inglaterra como nos EUA. Integra o elenco de um conjunto de obras importantes, como “Alamo”, de John Wayne, “O Número do Amor”, de Daniel Mann, “Fumo de Verão”, de Peter Glenville, “Restos de Um Pecado”, de Edward Dmytryk; “O Enviado da Manchúria”, de John Frankenheimer, “Darling”, de John Schlesinger, “Carga da Brigada Ligeira”, de Tony Richardson, entre outras. Casado com Margaret Leighton (1957 - 1961), Paulene Stone (1972 - 1973), Joan Perry (1968 - 1972).

Filmografia
Como ator
Cinema: 1948: Casa das Trevas, de Oswald Mitchell; 1949: Man on the Run, de Lawrence Huntington; O Homem de Ontem, de Oswald Mitchell; Aterragem, de Ken Annakin; 1950: Os Anos de Dança (A Valsa Eterna), de Harold franceses; The Black Rose (A Rosa Negra), de Henry Hathaway; Cairo Road, de David MacDonald (NAO creditado); 1951: Linha Scarlet (A Corrida da Morte), de Lewis Gilbert; Há outro Sol, de Lewis Gilbert; 1952: Um assassino Caminhadas, de Ronald Drake; Eu acredito em você (Acredito los Ti), de Basil Dearden e Michael Relph; Mulheres de Crepúsculo, de Gordon Perry; 1953: Cavaleiros da Távola Redonda (Os Cavaleiros da Távola Redonda), de Richard Thorpe (NAO creditado e Localidade: Não Confirmado); Inocentes em Paris (Inocentes los Paris), de Gordon Perry; 1954: The Good Die Young (Os Bons Morrem Cedo), de Lewis Gilbert; Rei Ricardo e os cruzados (Talismã, Ricardo Coração de Leão), de David Butler; Romeo and Juliet (Romeu e Julieta), de Renato Castellani; 1955: I Am a Camera, de Henry Cornelius; Storm Over the Nile (As Quatro Penas), de Zoltan Korda e Terence Young; 1956: Três homens em um barco (Três Homens num Bote), de Ken Annakin; 1957: Depois da Bola, de Compton Bennett; A Verdade Sobre Mulheres, de Muriel Box; 1958: The Silent Enemy (O Inimigo Silencioso), de William Fairchild; 1959: Room at the Top (Um Lugar na Alta Roda), de Jack Clayton; Poder entre os homens, de Alexander Hammid, Gian Luigi Polidoro, VR Sarma; 1960: Expresso Bongo (Expresso Bongo), de Val Guest; The Alamo (Alamo), de John Wayne; Butterfield 8 (O Número do Amor), de Daniel Mann; 1961: A longo e curto eo Alto, de Leslie Norman; Dois Amores (Dois Amores), de Charles Walters; Summer and Smoke (Fumo de Verão), de Peter Glenville; 1962: Walk on the Wild Side (Restos de Um Pecado), de Edward Dmytryk; O Maravilhoso Mundo dos Irmãos Grimm (O Mundo Maravilhoso dos Irmãos Grimm), de Henry Levin e George Pal; The Manchurian Candidate (O Enviado da Manchúria), de John Frankenheimer; A Girl Named Tamiko (Uma Chamada Rapaz Rapariga Tamiko), de John Sturges; 1963: The Running Man (Um Homem los Fuga), de Carol Reed; A Cerimônia (A Cerimónia), de Laurence Harvey; 1964: Of Human Bondage (Servidão Humana), de Ken Hughes; O Outrage (Ultraje), de Martin Ritt; 1965: Darling (querida), de John Schlesinger; A vida no topo (Escândalo na Alta Roda), de Ted Kotcheff; 1966: O Espião com um nariz frio (Camarada Princesa, Agente los Londres), de Daniel Petrie; 1968: Kampf um Rom I UO The Last Roman, de Robert Siodmak; Um dândi em Aspic (A Beira do Pânico), de Anthony Mann; Conto do Inverno, de Frank Dunlop; A Carga da Brigada Ligeira (A Carga da Brigada Ligeira), de Tony Richardson; Casamento da Boneca (Documentário); 1969: L'Assoluto Naturale UO Ela e Ele, de Mauro Bolognini; The Magic Christian, de Joseph McGrath; Rebus (O Jogo do Crime), de Nino Zanchin; Tchaikovsky, de Igor Talankin e L. Sadikova (narrador); Kampf um Rom II - Der Verrat; 1970: A funda, de Orson Welles (incompleto); WUSA (Muro de Separaç ão), de Stuart Rosenberg; 1972: Fuga para o Sol, de Menahem Golan; 1973: Night Watch (A Noite dos Mil Olhos), de Brian G. Hutton; F for Fake, de Orson Welles; 1974: Welcome to Seta Praia, de Laurence Harvey;
Televisão: 1950: Otelo; 1953: As You Like It; 1955: ITV Play of the Week; A Hora Alcoa; 1956: A aposta; 1957: Holiday Noite Reunião; 1959: Alfred Hitchcock Presents; ITV Play of the Week; 1960: O que é minha linha; Eis Hollywood; 1962: The Milton Berle Show; O Dilúvio; 1964: Senha; The Ed Sullivan Show; O Eamonn Andrews Mostrar; 1965: The Eamonn Andrews Mostrar; O Danny Kaye Show; 1966: Hollywood Talent Scouts; Late Night Line-Up; 1967: The Merv Griffin Show; Dial M for Murder; 1968: The Joey Bishop Show; Marvelous Party!; 1969: Rowan e Martin Laugh-In; Selvagem do Coringa; 1970: The David Frost Show; 1971: ITV Saturday Night Theatre; The Dick Cavett Show; The Tonight Show Starring Johnny Carson; Bowling celebridade; 1972: Night Gallery; 1973: Colombo; 45 Oscar; The Tonight Show Starring Johnny Carson;

Documentário sobre  Laurence Harvey: 1965: The Love Goddesses, de Saul J. Turell.

SESSÃO 15: 13 DE MAIO DE 2014


PAIXÃO PROIBIDA (1959)

"Look Back In Anger", peça teatral de John Osborne, escrita em meados dos anos 50 e estreada a 8 de Maio de 1956, no Royal Court Theatre, em Londres, que no ano anterior tinha passado a ser dirigido pela The English Stage Company, dirigida por George Devine. Osborne teria enviado a sua peça a todos os agentes londrinos e todas as companhias a haviam recusado, até ser lida por Devine, que procurava textos que contrabalançassem a situação dominante no teatro inglês da época, dominado por produções de certo prestígio, mas de pouca autenticidade social. Ele e o seu assistente na época, Tony Richardson, abriram os braços à peça e trataram de a levar a cena de imediato, com um elenco de gente nova: Mary Ure, Alan Bates, Helena Hughes e Kenneth Haigh, este na figura do protagonista, Jimmy Porter. A publicidade falava de Osborne como um “angry young man”, um jovem irado, e esta frase iria criar História. O cenário é único e invulgar nesses anos, uma divisão de uma casa modesta, desarrumada e insalubre, onde quatro personagens esgrimiam acusações e raivas, demonstrando o mau estar das classes mais desfavorecidas. O produtor David Merrick e o encenador Tony Richardson viajam com a peça para a Broadway, no ano seguinte, com um elenco de que faziam parte Alan Bates, Vivienne Drummond e Mary Ure, recebendo três nomeações para o Tony, entre as quais a de Melhor Peça do Ano e Melhor Actriz Dramática (Mary Ure).
Com este original, Osborne dá corpo a um movimento literário e teatral que ficou conhecido por “angry young men” e que cortava com a prática desses anos, onde, sobretudo no teatro, no West End londrino, as peças se destinavam na sua maioria a adormecer o público, enlevando-o numa toada de grandes intérpretes, é certo, mas de reduzida, ou nula representatividade social. Este movimento estendeu-se depois ao cinema, com o aparecimento do “free cinema”, inicialmente com obras documentais de carácter vincadamente social, depois com ficções como este “Look Back in Anger”, assinado por Tony Richardson que havia encenado a peça e viria a ser um dos nomes fundamentais desse “free cinema”.


O impacto teatral e cinematográfico de "Look Back in Anger" foi enorme, criando umha polémica entre público e crítica, desde a sua estréia. Muitos detestaram esta visa "miserabilista", desencantada e brutal da sociedade inglesa. Um crítico de rádio, da BBC , diss que o quarto onde decorria a obra era "inqualificavelmente sujos e sórdido. É difícil de acreditar que a filha de UM coronel, criada com certa qualidade, Fosse capaz de permanecer nesta pocilga UM só dia. " O crítico do Daily Mail, Cecil Wilson, escreve: "a beleza de Mary Ure desperdiçou-se no papel de esposa que, considerando o tempo que leva para pássaros em ferro, parece ter-se encarregado da roupa de todo o país". Mas Kenneth Tynan, Um dos mais influentes críticos da época, deixou-se sensibilizar cabelo espetáculo: "Não conseguiria amar ninguem que nao desejassemos ver" Look Back in Anger ".
O protagonista Jimmy Porter (Richard Burton) toca raivosamente de noite trompete num pub e vende rebuçados e chocolates numa tenda no mercado de rua durante o dia. Vive numa casa sem condições, com a mulher, Alison (Mary Ure), um amigo e companheiro de trabalho na tenda, Cliff Lewis (Gary Raymond) e, mais tarde, com Helena Charles (Claire Bloom), uma amiga da mulher, candidata a actriz, que ali se acolhe enquanto espera por melhores dias. O irado é Jimmy Porter, uma impressionante personagem de revolta e angústia, que disfarça a ternura que sente pela mãe (Edith Evans) com a violência e a agressividade que dispersa por todos os outros à sua volta, inclusive a generosa e dedicada Alison.
A realização de Tony Richardson é magnifica, a começar desde logo pelas imagens do genérico, num pub, com Jimmy tocando trompete e a juventude a dançar, criando um clima que será contagiante para todo o resto da obra. Os actores são excelentes (mas já lá vamos), importa, porém, sublinhar a sensibilidade e o pudor com que a câmara de Richardson se aproxima deles, quer em interiores cerrados, quer em exteriores brumosos. Algumas cenas de Burton com Ure ou com Claire são brilhantemente “encenadas”, a hesitação de Mary Ure entre ficar com Burton ou seguir Claire até à igreja é notável, a sequência final, numa estação de comboios, é inesquecível. A forma como se movimenta entre os populares, nas cenas de mercado, mostrando o bulício do trabalho, são um exemplo para o movimento do “free cinema”.
Na verdade, a ligação de Jimmy e Claire é uma forma de mostrar a dificuldade de conciliação entre classes, ele trabalhador, ela filha de um coronel. A dada altura da peça, Claire percebe porque Jimmy e o seu pai não se conseguem entender: “o pai acha que tudo mudou, Jimmy pensa que nada se transformou”. Um pouco o pensamento de Lampedusa, em “O Leopardo”: “É preciso que alguma coisa mude, para que tudo fique igual”. Mas há quem não perceba as pequenas mudanças e quem aspire a grandes e profundas transformações.
Excelente a fotografia de Oswald Morris, num matizado preto e branco, como invulgar é a partitura musical de Chris Barber, com a sua sonoridade jazzística. Impossível não falar dos actores, desde Richard Burton, numa composição muito influenciada, é certo,  pelo Marlon Brando de “Um Eléctrico Chamado Desejo”, mas vincadamente british, cockney, oferecendo um retrato impulsivo e contraditório, mas de uma grande plasticidade pelas inflexões, até à suavidade e fragilidade da excelente Mary Ure, uma desditosa actriz que tinha à sua frente uma carreira brilhante, precocemente interrompida, passando por Claire Bloom, num trabalho complexo e muito bem resolvido, pela inigualável Edith Evans ou pelo impressivo Gary Raymond.
Resumindo, um marco na história do cinema inglês e igualmente uma pedra branca na história do cinema mundial, a partir daí tão influenciado pelo aparecimento desta nova vaga inglesa que, ao contrário da francesa, trazia consigo uma forte componente social e política.


Nota: “O Tempo e a Ira” foi por diversas vezes encenado em Portugal, a última das quais há meses, no Teatro Experimental de Cascais, numa encenação de Martim Pedroso, e um elenco composto por André Nunes, Dalila Carmo, Joana Seixas e Renato Godinho. Mas, anteriormente, e sem ser exaustivo, lembramo-nos das encenações de Fernando Gusmão, no Teatro Experimental do Porto, com Isabel de Castro, ou a de Artur Ramos, no Teatro Experimental de Cascais, com Maria do Céu Guerra.

PAIXÃO PROIBIDA
Título original: Look Back in Anger
Realização: Tony Richardson (Inglaterra, 1959); Argumento: Nigel Kneale, John Osborne, segundo peça teatral deste último; Produção: Harry Saltzman, Gordon Scott; Música: Chris Barber; Fotografia (p/b):  Oswald Morris; Montagem: Richard Best; Casting: Robert Lennard; Direcção artística: Peter Glazier; Guarda-roupa: Jocelyn Rickards; Maquilhagem: Eric Aylott, Polly Young; Direcção de Produção: Alfred W. Marcus; Assistentes de realização: Ross MacKenzie; Som: A.W. Lumkin; Companhias de produção: Orion, Woodfall Film Productions; Intérpretes: Richard Burton (Jimmy Porter), Claire Bloom (Helena Charles), Mary Ure (Alison Porter), Edith Evans (Mrs. Tanner), Gary Raymond (Cliff Lewis), Glen Byam Shaw (Coronel Redfern), Phyllis Neilson-Terry (Mrs. Redfern), Donald Pleasence (Hurst), Jane Eccles (Miss Drury), S.P. Kapoor (Kapoor), George Devine, Walter Hudd, Anne Dickins, John Dearth, Nigel Davenport, Alfred Lynch, Toke Townley, Bernice Swanson, Michael Balfour, Chris Barber, Abner Biberman, Marjorie Caldicott, Harriet Devine, Pat Halcox, Jenny Jones, Jordan Lawrence, Charles Saynor, Steven Scott, Stanley Van Beers, Catherine Willmer, etc. Duração: 98 minutos; Distribuição em Portugal: não existe; Classificação etária: M/ 12 anos.

TONY RICHARDSON (1928-1991)
Cecil Antonio Richardson nasceu a 5 de Junho de 1928, em Shipley, Yorkshire, Inglaterra, e viria a falecer a 14 de Novembro de 1991, em Los Angeles, California, EUA, vítima de SIDA. Filho de Clarence Albert Richardson, químico, e de Elsie Evans. Casado com Vanessa Redgrave (1962 - 1967) e companheiro de Jeanne Moreau, quando morreu. Foi presidente da Oxford University Dramatic Society, onde dirigiu peças como "Peer Gynt" ou "King John". Formado em Oxford, no ano de 1952 foi contratado pela BBC como produtor. Em 1956, torna-se assistente de encenação na English Stage Company. A primeira peça que encena foi o original de John Osborne "Look Back in Anger". Trabalhou em vários filmes com John Osborne, com quem lançou o movimento dos “Angry Young Men” e do “Free Cinema”, uma “nouvelle vague” inglesa de inspiração realista e social. Formou a sua própria companhia de produção, a Woodfall Films, em 1958, onde realizou várias obras de grande qualidade, como “O Comediante” (1960), “Uma Gota de Mel” (1961) ou “Tom Jones, Romântico e Aventureiro” (1963).

Filmografia:
Como cineasta
1952: The Sound of Stillness (TV); 1952-1955: BBC Sunday-Night Theatre (TV) (4 episodios: Família de negócios, uma nova geração, The Ruthless Destino, Markheim); 1953: Quarta Theatre (TV) (2 episodios: Caixa para One e Cortina de Down); 1954: O Parlamento da Ciência (Documentário TV); 1955: Nomeação de Drama (TV) (3 episodios: O Apollo de Bellac, The Birthday Present e The Rivals); Ela deve acontecer com um cão (TV); Você sabe que as pessoas estão (série de televisão) (6 episodios); Mr. Kettle e Sra. Moon (TV); 1955: Othello (TV); 1955: Momma Não Permitir (Curta-metragem documental); 1956: The Gambler (TV); ITV Play of the Week (TV) (1 Episodio: Look Back in Anger); 1958: Look Back in Anger (Paixão Proibida); 1960: BBC Sunday-Night Play (TV) (1 episodio: um assunto de escândalo e preocupação); The Entertainer (O Comediante); 1961: Sanctuary (Requiem parágrafo UMA Freira); 1961: A Taste of Honey (Uma Gota de Mel); 1962: A Solidão do Long Distance Runner; 1963: Tom Jones (Tom Jones, romantico e Aventureiro); 1965: The Loved One (O Caro defunto); 1966: Mademoiselle; 1967: Vermelho e Azul (Curta-metragem); 1967: O Marinheiro de Gibraltar; 1968: A Carga da Brigada Ligeira (A Carga da Brigada Ligeira); 1969: Riso no Escuro; Hamlet; 1970: Nijinsky: unfinshed Projeto; Ned Kelly (Ned Kelly); 1973: A Delicate Balance (Equilíbrio Instável); 1974: Dead Cert; 1975: Mahogany (NAO creditado); 1977: Joseph Andrews; 1978: A Morte em Canaã) (TV); 1982: The Border (A Fronteira da Vergonha); 1984: The Hotel New Hampshire (New Hampshire Hotel); 1986: A Fase Penalty) (TV); 1988: Beryl Markham: A Sombra do Sol (TV); 1990: Mulheres e Homens: Histórias de Sedução (Episodio "colinas como elefantes brancos") (TV); 1990: The Phantom of the Opera (O Fantasma da Ópera) (TV); 1994: Blue Sky (Céu Azul).

ANGRY YOUNG MEN
Os “Angry Young Men” (jovens irados, na sua tradução literal) formaram um grupo britânico, inicialmente literário e teatral, composto por jovens escritores e dramaturgos que, em meados dos anos 50 do século XX, retomam uma certa tradição de realismo social, procurando expressar nas suas obras o desencanto e a amargura, a raiva e o desespero das classes mais baixas da sociedade, que, por esses tempos, não se sentiam representadas na literatura e na arte então dominantes. Em simultâneo, revoltavam-se contra as classes preponderantes no mundo da finança, dos negócios, da política, que acusavam de corruptas, hipócritas e medíocres. A peça teatral “Look Back in Anger”, de John Osborne, publicada ao que se sabe em 1951 e estreada no Royal Court Theatre de Londres,  em 1956, foi o ponto de partida deste movimento, sobretudo no seu aspecto mais visível.
Foi num texto promocional a este espectáculo e ao seu jovem autor que surgiu a expressão “angry young man”, que viria a ficar como designação do movimento. Para lá de John Osborne, integraram inicialmente o grupo nomes como os de John Wain (1925–1994), Kingsley Amis (1922–1995), Alan Sillitoe (1928-2010) ou Bernard Kops (1926- ). O movimento teve existência efectiva durante pouco tempo, possivelmente até meados dos anos 60. Vários outros autores lhe podem ser associados: Edward Bond, John Braine, Amitabh Bachchan, William Cooper, Michael Hastings, Thomas Hinde, David Storey, Keith Waterhouse, Stuart Holroyd, Bill Hopkins, Philip Larkin, Harold Pinter, Kenneth Tynan, John Arden, Stan Barstow, Arnold Wesker, Colin Wilson, etc. Um dos autores anterior a este movimento que de certa forma se sente identificado com ele é Terence Rattigan. Na pintura inglesa deste período existiam já os “kitchen sink painters” (os pintores de lava-louças de cozinha) e, com os “angry young men”, apareceram os “kitchen sink dramatists” (os dramaturgos de lava-louças de cozinha).

JOHN OSBORNE (1929-1994)
Nascido a 12 de Dezembro de 1929, em Fulham, Londres, Inglaterra, e falecido a 24 de Dezembro de 1994, com 65 anos, em Clun, Shropshire, Inglaterra, John Osborne foi um escritor, dramaturgo, argumentista, e actor que terá desencadeado a expressão “angry young men” como designação do movimento de realismo social (“kitchen sink realism”) que haveria de caracterizar uma parte considerável da cultura inglesa de meados da década de 50.  A sua família era caracterizadamente de “classe média”, classe contra a qual se revoltou em obras como “Look Back in Anger”, estreada em 1957, e que provocou uma violenta polémica que tornaria célebre o movimento. Seguem-se um conjunto de obras teatrais que solidificaram o seu prestígio, e o elevaram a figura preponderante da dramaturgia europeia do seculo XX, a que se juntaram alguns argumentos para cinema, ente os quais “Tom Jones”, segundo romance de Henry Fielding, novamente dirigido por Tony Richardson, e que ganharia, em 1963, o Oscar de Melhor Argumento Adaptado. Osborne morreu em consequência da diabetes, em 1994. Casado com Pamela Lane (1951 - 1957); Mary Ure (1957 - 1963); Penelope Gilliatt (1963 - 1968); Jill Bennett (1968 - 1977) e Helen Dawson (1978 - 1994). 
Peças de teatro: 1950: The Devil Inside, de colaboração com Stella Linden; 1955: Personal Enemy; 1956: Look Back in Anger (O Tempo e a Ira, no teatro, “Paixão Proibida, no cinema); 1957: The Entertainer (O Comediante, no cinema); 1958: Epitaph for George Dillon; 1959: The World of Paul Slickey; 1961: Luther; 1962: A Subject of Scandal and Concern; 1963: The Blood of the Bambergs; 1964: Inadmissible Evidence; 1965: A Patriot for Me; 1966: A Bond Honoured; 1968: Time Present ; The Hotel in Amsterdam; 1971: West of Suez; 1973: A Sense of Detachment; A Place Calling Itself Rome; 1976: Watch It Come Down; 1989: The Father (segundo Strindberg); 1992: Déjà vu.
Argumentos para cinema e televisão: 1963: Tom Jones (Tom Jones, Romântico e Aventureiro), de Tony Richardson; 1968: The Charge of the Light Brigade (A Carga da Brigada Ligeira), de Tony Richardson; 1968: Humorist, De (TV); 1974: The Gift of Friendship (TV); Ms or Jill and Jack (TV); 1976: Almost a Vision (TV); 1980: You're Not Watching Me, Mummy (TV); Hedda Gabler (TV); 1981: Very Like a Whale; 1985: A Better Class of Person (TV); God Rot Tunbridge Wells (TV); England, My England (Inglaterra, Minha Inglaterra), de Rony Palmer.
Como ator: 1953: Billy Bunter de Greyfriars Escola (série de TV); 1956: A História Makepeace (série de TV); 1970: Erste Liebe; 1971: A esposa do Presidente; 1971: Get Carter; 1978: Tomorrow Never Comes; 1980: Flash Gordon.

MARY URE (1933-1975)
Eileen Mary Ure nasceu a 18 de Fevereiro de 1933, em Glasgow, Escócia, e viria a falecer a 3 de Abril de 1975, em Londres, Inglaterra, sem nunca se ter percebido muito bem se por acidente ou suicídio com dose excessiva de barbitúricos. Loira de luminosa beleza e subtil talento, Mary Ure estreou-se no cinema num filme de Zoltan Korda, “As Quatro Penas” (1955). Em 1956, ela encarna "Alison" na peça de John Osborne, "Look Back in Anger", no Royal Court Theatre, em London. Envolve-se emocionalmente com o dramaturgo e Richard Burton, na sua autobiografia, confessa igualmente um affaire com a actriz durante a rodagem da adaptação ao cinema da mesma obra. A sua próxima paixão é Robert Shaw, com quem casa depois do divórcio de Osborne. “Paixão Proibida” (1959) e “Sons and Lovers” (1960) são dois sucessos retumbantes. No último, consegue mesmo uma nomeação para o Oscar. Entretanto vai conciliando o trabalho no teatro com o cinema.
"Estranha Obsessão" (1963), com Dirk Bogarde, "The Luck of Ginger Coffey" (1964), "Custer, Herói do Oeste (1967)," O Desafio das Águias "(1968), com Richard Burton e Clint Eastwood São alguns OUTROS Trabalhos SEUS. Entretanto, como desavenças com Robert Shaw POR Causa das infidelidades dEste multiplicam-se, e trabalha com elementos não Seu derradeiro Filme, um Psicodrama de terror, "um reflexo do medo" (1973). Entra NAS Drogas e Álcool e não Aparece morta los 1975, com apenas 42 Anos, DEPOIS de UMA desastrosa Noite de estreia num teatro de Londres.

Filmografia:
Como atriz
1955: Storm Over the Nile (As Quatro Penas), de Terence Young e Zoltan Korda; 1957: Caminho do Windom; 1958: Omnibus (TV) Não da senhora para a queima; Look Back in Anger (Paixão Proibida) de John Osborne; 1959: Uma Noite de Verão Sonho (TV); 1960: Filhos e Amantes, de Jack Cardiff; 1963: The Mind Benders (Estranha Obsessão) de Basil Dearden; 1964: The Luck of Ginger Coffey, de Irvin Kershner; 1967: Custer do Oeste (Custer, Herói do Oeste), de Robert Siodmak; 1968: Where Eagles Dare (O Desafio das Águias), de Brian G. Hutton; 1971: Os Dez Mandamentos (TV) Um pouco de sentimento de família; 1973: Uma Reflexão de medo, de William A. Fraker; 1973: Ironside (TV) Murder by One; 1974: O Wide World of Mystery (TV) The Break; 1956-1974: ITV Play of the Week (TV) The Break, Hamlet.
Algumas peças de teatro onde apareceu: Time Remembered (1954) (Londres); Hamlet (1955) (Stratford); A View from the Bridge (1956) (Londres); Look Back in Anger (1957) (Londres e Broadway); A Midsummer Night's Dream (1959) (Stratford); Othello (1959) (Stratford); Duel of Angels (1960) (Londres & Broadway); The Changeling (1961) (Londres); Old Times (1971) (Broadway); Love for Love (1974) (Broadway); The Exorcism (1975) (Londres). 

SESSÃO 14 (dupla): 6 DE MAIO DE 2014


Dracula (1958)

Se "A Máscara de Frankenstein" inaugurou o ciclo de cinema de terror da Hammer, em 1957, "Horror de Drácula" FAZ reaparecer este outro mito no ano seguinte, com UM filme admirável, sob a máscara inquietante de Um Jovem ator, Christopher Lee , que restitui o fascínio de UM Bela Lugosi, agora desenhado em ambientes de UM vigoroso erotismo que vai ao encontro da interpretacao do mito do vampiro dado por Ornella Volta: Uma atitude oposta (ou contrário) à proposta Pela necrofilia, UMA tentativa de permanecer para Alem da morte através de umha intensa atividade sexual post mortem. Mais interessante ainda tendo em conta a época em que o filme é estreado, Dois anos antes do início dos anos 60, marcados Pela libertação sexual, cabelo "Make love, not war" Pela emancipação da mulher, Pela luta pêlos direitos humanos, etc. O novo vampiro, Um sedutor erótico que FAZ as delícias das mulheres que ataca e que se lhe entregam ostensivamente.
O argumento de “O Horror de Drácula”, extraído mais uma vez de Bram Stoker, é, desta feita, assinado por Jimmy Sangster, um argumentista que viria a notabilizar-se pela qualidade das adaptações feitas para a Hammer. Estamos de novo no século XIX, em Klausenberg, na Bavária, onde Jonathan Harker se emprega, como bibliotecário do Conde Drácula, num castelo tido por medonho pelos habitantes das circundezas. Harker quer pôr fim aos crimes do vampiro, mas acaba por sucumbir a um dos ataques do Conde. Será um amigo de Harker, o doutor Van Helsing, quem retomará as investigações, começando por descobrir que Lucy, noiva de Harker, fora também vampirizada. Este facto traz até ao castelo dois novos personagens, Arthur Holmwood, o irmão de Lucy, e a namorada, Mina, reforços úteis à tarefa de Van Helsing.


Para libertar Lucy da condenação eterna, Van Helsing espeta-lhe uma estaca no peito. No entanto, o conde contra-ataca e rapta Mina, com quem pretende fugir pelos subterrâneos do castelo. Conhecedor profundo do vampirismo, Van Helsing sabe os antídotos possíveis para este estado de coisas e, no meio da obscuridade em que Drácula vive, abre uma janela que deixa a luz penetrar nas trevas e destruir a figura do Conde. Com a morte de Drácula, Mina regressa à normalidade, desaparecendo nela todos os vestígios de um convívio mais íntimo com vampiro.
Nesta obra deve sublinhar-se sobretudo a qualidade dos décors, a beleza plástica dos enquadramentos, o jogo simbólico das múltiplas referências que Terence Fisher espalha ao longo da sua hora e meia. Os dois actores principais, que transitaram de Frankenstein, constroem personagens notáveis, quer o já referido Christopher Lee, no Conde Drácula, quer Peter Cushing, na figura de Van Helsing. Será de referir ainda a participação de Michael Gough, outro actor excelente. Christopher Lee serve-se maravilhosamente do seu físico imponente para, envolto numa capa negra que esconde mistérios e ameaças, nos surgir, pela primeira vez, no cimo de uma escadaria e mostrar desde logo quem comanda o jogo. A vítima caiu na teia que lhe foi montada. O arranque da obra é notável de eficácia e economia de meios. As imagens sugerem e o vermelho do sangue estende-se pelo ecrã conferindo-lhe negros presságios. O sangue é a morte, mas igualmente a cor da sensualidade que perpassa pelo filme de princípio ao fim. Terence Fisher transporta-nos habilmente para o universo de Bram Stoker, sem que esta seja a mais fidedigna das adaptações. Mas, introduzindo algumas modificações quanto à obra literária donde parte, os responsáveis conseguem manter-se fiéis ao espírito.
O colorido é outro dos aspectos a sublinhar, jogando com cores fortes que dominam outras matizadas. Quando Lucy ou Mina são sugadas, os vestidos, as camisas de dormir, são claras ou brancas, identificado uma pureza que não tardará irá ser maculada. É o vermelho do sangue que se insinua, pressagiando o contágio, antecipando a terrível condição de morto-vivo.
A atmosfera de um gótico fantástico é admiravelmente conseguida, quer através do tratamento dos cenários e do guarda-roupa, como pela própria interpretação dos actores e sobretudo pela realização que, paradoxalmente, se mostra de um rigor clássico sem mácula.


Dois anos depois (1960), Terence Fisher regressa ao mito, dirigindo “As Noivas de Drácula”, agora com um inexperiente David Peel na figura de vampiro, o barão Meinster. Peter Cushing, porém, mantém-se fiel à composição do célebre doutor Van Helsing, que prossegue a sua tenaz luta contra o vampirismo.
A história, nascida da colaboração de Jimmy Sangster, Peter Bryan e Edward Percy, foge um pouco ao esquema de Bram Stoker, ainda que mantenha figuras e situações. No castelo dos barões de Meinster, a baronesa mantém prisioneiro o filho. Mas uma professora a caminho da sua terra (Marianne Danielle) é obrigada a parar e passa a noite no castelo, descobrindo o prisioneiro e libertando-o. Os crimes começam desde logo, sendo a primeira vítima a própria baronesa. Marianne, em pânico, foge e é encontrada pelo Doutor Van Helsing, que a interna numa Academia de Raparigas, enquanto ele sai em perseguição do conde. Mas este consegue chegar até Marianne, propor-lhe casamento, e raptá-la. O filme aproxima-se do fim, quando Van Helsing consegue fechar Meinster num velho moinho, mantendo com ele uma luta, onde a água benta desempenha papel preponderante, bem como as sombras em forma de cruz das velas do moinho abandonado. Reduzido a pó, o barão de Meinter deixa de exercer a sua influência maligna sobre Marianne Danielle, que recobra a vida. Decididamente menos logrado, num plano estético e cinematográfico, “As Noivas de Drácula” mantem, todavia, uma visão psicanalítica e social do vampirismo, que se mostra extremamente interessante e sugestiva. A falta de Christopher Lee no protagonista é, contudo, manifesta.
Fisher voltaria a encontrar-se com a lendária figura do conde Drácula em 1964, com “Dracula, Prince of Darkness”. Como protagonista, de novo Christopher Lee. Filme que nunca estrearia em Portugal. Questões de censura, obviamente. A Hammer só regressaria ao mito, quatro anos depois, com “Dracula Has Risen from the Grave”, filme não muito satisfatório de um realizador nem sempre inspirado, Freddie Francis. Com um argumento inteligente e pitoresco de John lder, baseado (vagamente) no romance de Bram Stoker, “O Sinal de Drácula” não aproveitou condignamente as potencialidades da base literária donde parte.

O HORROR DE DRÁCULA
Título original: Dracula ou Horror of Dracula
Realização: Terence Fisher (Inglaterra, 1958); Argumento: Jimmy Sangster segundo o romance de Bram Stoker; Produção: Michael Carreras, Anthony Hinds, Anthony Nelson Keys; Música: James Bernard; Fotografia (cor): Jack Asher; Montagem: Bill Lenny; Design de produção: Bernard Robinson; Direcção artística: Bernard Robinson; Guarda-roupa: Molly Arbuthnot; Maquilhagem:  Philip Leakey, Henry Montsash; Direcção de Produção: Don Weeks; Assistentes de realização: Robert Lynn, Tom Walls; Departamento de arte: Arthur Banks, Charles Davis, Mick Lyons; Som: Jock May, Claude Hitchcock; Efeitos especiais: Sydney Pearson, Les Bowie; Companhia de produção: Hammer Film Productions; Intérpretes: Peter Cushing (Dr. Van Helsing), Christopher Lee (Dracula/Donde Drácula), Michael Gough (Arthur), Melissa Stribling (Mina Holmwood), Carol Marsh (Lucy Holmwood), Olga Dickie (Gerda), John Van Essen (Jonathan), Valerie Gaunt (noiva do vampiro), Olga Dickie (Gerda), John Van Eyssen (Jonathan Harker), Janina Faye (Tania), Barbara Archer (Inga), Charles Lloyd Pack, George Merritt, George Woodbridge, George Benson, Miles Malleson, Geoffrey Bayldon, Paul Cole, etc. Duração: 82 minutos; Distribuição em Portugal: Warner Home Video; Classificação etária: M/ 12 anos; Data de estreia em Portugal:

TERENCE FISHER (1904-1980)
Terence Fisher nasceu a 23 de Fevereiro de 1904, em Londres, Inglaterra, e vira a falecer em 18 de Junho de 1980, em Twickenham, Londres, Inglaterra, vítima de ataque cardíaco. Ensinado por uma avó, numa rígida educação religiosa do chamado Cristianismo Científico, Terence Fisher mal acabou a escola passou a embarcado na marinha mercante. Deixou o mar e passou por vários empregos até chegar à indústria cinematográfica. Um dia, solicitou a J. Arthur Rank Studios a possibilidade de ser montador e foi aceite. Já com 43 anos, estreou-se como realizador na comédia “Coronel Bogey” (1948). A partir daí intercalou filmes de classe A, como “Veneno de Amor” (1950), segundo Noel Coward, “Uma Atrevida Aventura” (1950) com Jean Simmons e Dirk Bogarde ou “Retrato da Vida” (1948), com Herbert Lom, com outros de série B que lhe iam assegurando o ordenado para manter mãe e irmã.
Com 52 anos, a produtora Hammer Studios encomendou-lhe uma nova versão de “Frankenstein” (1931), cujos direitos tinha adquirido à Universal. Como resultado, “A Máscara de Frankenstein” (1957) bateu todos os recordes de bilheteira, Terence Fisher foi descoberto pela crítica internacional, e dois actores, Peter Cushing e Christopher Lee, entraram na lenda do cinema fantástico. A Hammer tornou-se um estúdio de culto, e para o sucesso terá contribuído em muito o facto de o filme ser rodado num voluptuoso Tecnicolor, a primeira vez que tal acontecia e que conferia ao terror um lado sangrento terrificante. Mas a arte e o bom gosto (gótico) de Terece Fisher muito contribuíram para o sucesso. Conta-se que Fisher se recusou a ver a versão de James Whale, com receio de se deixar influenciar e deste modo criar algo inteiramente novo. Seguiram-se novas versões de outros mitos da literatura e do cinema fantástico e Fisher assegurou uma reputação, consagrada pelo público e pela crítica. 
Dirigiu Peter Cushing por 14 vezes e Christopher Lee por 12. Formaram uma equipa de uma homogeneidade e eficácia notável.

Filmografia:
Como cineasta
1948: Coronel Bogey; Retrato Da Vida (RETRATO da Vida); Para o Perigo Público (Curta-metragem); Song for Tomorrow; 1949: O Coração Espantado (Veneno de Amor); Marry Me UO The Marriage Bureau; 1950: So Long na Feira ((Uma Atrevida Aventura)); 1951: Início de Perigo; 1952: Stolen rosto (A Máscara do Desejo); Asas de perigo; O Jogador ea Senhora (NAO creditado, NEM Confirmado); Quatro Triângulo lados; Trompete Distante; A última página UO Man Bait; 1953: Manthap; Spaceways (Viagem Espacial); Blood Orange; 1953-1955: Douglas Fairbanks, Jr., Presents (série de TV) (5 episodios); 1954: Nomeação Final; Encare o Musi; The Stranger Came Home; Máscara de poeira (O Circuito da Morte); Murder by Proxy; Três é demais (episodios "The Surgeon" r "Tome um número"); 1955: Crianças Galore; Atribuição roubado; A falha; 1956: The Last Man para desligar; O Gelignite Gang (NAO creditado); A Dívida; Uma Questão de Honra; The Knife Invisível; Coronel março de Scotland Yard (série de TV) (1 episodio); ITV Television Playhouse (série de TV) (1 Episodio: Stolen rosto); Atribuição Legião Estrangeira (série de TV) (2 episodios); 1956-1957: As Aventuras de Robin Hood (série de TV) (11episódios); 1957: Kill Me Tomorrow; The Curse of Frankenstein (A Máscara de Frankenstein); As Aventuras de Clint e Mac (série de TV); The Gay Cavalier (série de TV) (3 episodios); Sword of Freedom (série de TV) (2 episodios); 1958: The Revenge of Frankenstein (A Vingança de Frankesntein); Horror of Dracula (O Horror de Drácula); 1959: The Mummy (A Múmia); O Cão dos Baskervllle (O Cão dos Baskervilles); Os Stranglers de Bombay (Como Estranguladoras); O homem que poderia enganar a Morte (O Homem Que Enganou a Morte); Disque 999 (série de TV) (8 episodios); 1960: As Noivas de Drácula (como Noivas de Drácula); Sword of Sherwood Forest (Uma Aventura de Robin dos Bosques); As Duas Faces do Dr. Jekyll (As Duas Faces fazer Dr. Jekyll); 1961: A Maldição do Lobisomem (A Maldição do Lobisomem); Mãos do Diabo (Curta-metragem); 1962: The Phantom of the Opera (O Fantasma fa Ópera); 1963: Sherlock Holmes Und Das Halband Des Todes (Sherlock Holmes EO Colar da Morte); 1964: O horror de tudo isso; O Gorgon (A Morte Passou Por Perto); A Terra morre gritando; 1965: Ilha do Terror; Drácula, Prince Of Darkness (Drácula, Príncipe das Trevas); 1966: Frankenstein Criou a Mulher (Frankenstein CRIOU A Mulher); 1967: Night of the Big Calor; 1968: The Devil Rides Out; 1969: Frankenstein Must Be Destroyed (O Barão de Frankenstein); 1973 Frankenstein eo Monstro do Inferno (Frankenstein EO Monstro do Inferno); 1991 Robin Hood: The Movie (vídeo).

Hammer Films
William Hammer (*) criou a “Hamrner Productions Ltd.”, em 1934, em associação com a “British Lion”. O primeiro filme foi “The Public Life of Henry, the Ninth”. No mesmo ano, e de colaboração com Enrique Carreras, funda a “Exclusiva Films”, distribuidora de filmes ingleses e americanos. Até ao início da II Guerra Mundial as duas companhias funcionam regularmente. Durante a guerra, Hammer limita as suas actividades ao teatro, até que em 1946 renova a ”Exclusive Films”, alargando as suas actividades à produção de filmes, agrupando além de William Hammer e do seu filho, Anthony Hammer (que adopta os pseudónimos de Anthony Hinds, como realizador, e John Elder ou Henry Younger, como argumentista), Enrique e James Carreras. Adaptam então ao cinema uma série de folhetins radiofónicos populares, como “The Man in Black”, “Life with the Lyons” ou “Dick Barton's Special Agent”. Em Novembro de 1947, fundam uma nova companhia, a Hammer Film Prod., com sede e estúdios modestos em Bray, junto ao Tamisa.
Durante a década de 50, a Inglaterra recupera lentamente da depressão económica provocada pela guerra. 1956 é o ano-chave para a Hammer: Val Guest realiza a adaptação cinematográfica de um folhetim da BBC-Televisão, “The Quatermass Experiment”. O extraordinário êxito obtido por esta história fantástica, um mutante que se transforma em organismo gelatinoso e que se alimenta de sangue humano, é o indicativo para a companhia de que existe um mercado internacional para filmes do género. Decide assim readaptar alguns dos grandes clássicos do terror.
Este facto vem também confirmar a teoria que relaciona os momentos altos do cinema de terror com situações complexas de falta de estabilidade socioeconómica das sociedades e demonstra ao mesmo tempo o poder libertador da fantasia. Ao ambiente angustiante vivido na realidade alia-se a opressão figurativa que, devido ao seu forte atractivo plástico, faz esquecer os problemas do quotidiano, os problemas pessoais, as repressões. E uma libertação do espírito pelo grito, pela fuga ao real e por uma série de modificações psicofisiológicas. Para além disso, outros factores influenciavam o interesse do tema: a não existência, para além de algumas tentativas isoladas e sem futuro, do que se poderia chamar nos últimos 20 anos um grande “clássico” do cinema fantástico; um grande público jovem interessado e ignorando esses “clássicos” (não reeditados até então por diversas razões), disposto a aceitar os filmes do novo género, rodados segundo técnicas modernas (a cor, os novos formatos, novas tecnologias…) e trazendo o fantástico à realidade diária.
Em Novembro de 1956, inicia-se a rodagem de “The Curse of Frankenstein”, primeiro filme de terror britânico a cores, tentando renovar as grandes tradições da “Universal” dos anos 30. Terence Fisher como realizador, Peter Cushing e Christopher Lee como actores, e uma equipa unida de técnicos responsáveis é uma das características de produção da Hammer Films. É por este espírito de equipa que não se pode desligar a obra de Fisher da Hammer assim como acontecera com James Whale e a Universal. No entanto, e apesar de integrado nesta forma de produção, Fisher conseguiu destacar-se por um talento criador inato, grandes conhecimentos da técnica cinematográfica do género e, principalmente, pelo sentido eficaz, de um claro classicismo, dos seus filmes. São estes factores que nos permitem falar de “um filme de Fisher”, mais do que de uma “obra da Hammer”, como acontece na maioria das outras produções. A sua obra denota sempre uma ruptura com as normas clássicas dos personagens que faz reviver. Embora homenageando constantemente os seus antecessores, os seus “monstros” ou seres fantásticos assumem uma nova dimensão, mais adequada à época em que “ressuscitam” e, ao mesmo tempo, mais aproximada das figuras literárias em que se baseiam. O seu Frankenstein, embora monstro, perde o seu carácter fantasmagórico para se transformar num verdadeiro “puzzle” de membros enxertados; o seu Drácula perde a imagem espectral de Lugosi para se transformar numa personagem senhorial dotada de uma carga potencial de erotismo subconsciente; o seu Mr. Hyde é um ser vulgar, mundano, que escolhe as suas vítimas num “cabaret” ou na rua. As personagens perdem a “inocência” dos primeiros tempos. Fisher aborda sem complexos todos os tabus que costumam rodear não só o cinema fantástico como todos os outros géneros cinematográficos. Nos seus filmes aparecem cenas explícitas de incesto (“The Brides of Dracula”), o masoquismo (“The Brides of Dracula”), a homossexualidade tanto feminina como masculina (“The Horror of Dracula”, “The Brides of Dracula”), todos os tipos de sadismo (estrangulamentos, mutilações, violações, crucificações, lapidações, enforcamentos), o fetichismo (“The Mummy”), o desejo sexual de mortos em relação a pessoas vivas (“The Mummy”), o exibicionismo, as orgias, ou seja, tudo aquilo que parecia inimaginável nos anos 30, toda uma série de elementos que, sem dúvida, contribuíram grandemente para o auge do cinema fantástico - e do que não o é - dos nossos dias.
Fisher introduziu também nos seus filmes a cor. E um tipo de colorido, o Technicolor, que faz com que os mantos dos vampiros sejam mais negros, que os contrastes luminosos nos apareçam mais sinistros e o sangue mais sangue. Constante de toda a obra fisheriana, o vermelho, é o elemento vital que transborda, invade o “écran”, inundando irremediavelmente o mundo dos personagens, actuando como elemento purificador. Quando mais tarde homenagearam este estúdio chamaram-lhe “Hammer: The Studio That Dripped Blood!”.
"A Máscara fazer Frankenstein" tapa Varia Sequel: The Revenge of Frankenstein (1959), The Evil of Frankenstein (1964) Frankenstein CRIOU uma Mulher (1967), Frankenstein Must Be Destroyed (1969), The Horror of Frankenstein (1970) Frankenstein UO EO Monstro do Inferno (1974). Quanto a "O Horror ELES Drácula" continuou a vampiresca SUA Ameaça Entre 1960 e 1974: As Noivas de Drácula (1960) Dracula: Prince of Darkness (1966) Dracula Has Risen from the Grave (1968), Taste the Blood of Dracula (1969 ) Scars of Dracula (1970) Dracula AD 1972 (1972), os ritos satânicos de Drácula (1973), A Lenda dos 7 Vampiros de Ouro (1974).
OUTROS Filmes Importantes Desta Produtora FORAM: A Múmia (1959), O Cão dos Baskervilles (1959), As Duas Faces da Doctor Jekyll (1960), O Fantasma da Ópera (1962), The Devil Rides Out (1967), etc .

(*) William Hammer (1887 – 1957) produtor dinâmico de espectáculos de variedades, revistas e operetas, proprietário de diversos teatros em toda a Inglaterra e actor. Começou a sua carreira com uma cadeia de lojas de bicicletas e cabeleireiro.