UM LUGAR NA ALTA RODA (1959)
O free
cinema não terá sido um movimento fechado, muito pelo contrário, mas teve o seu
núcleo inicial muito bem definido em redor de quatro membros que organizaram as
primeiras sessões: Lindsay Anderson, Karel Reisz, Tony Richardson e Lorenza
Mazzetti. Jack Clayton não fez parte deste grupo, mas o seu filme “Room at the
Top” acabou por se integrar coerentemente nos propósitos dos mentores do
movimento: um retrato de uma Inglaterra raramente vista no cinema durante a década
de 50, uma análise desencantada e irada sobre a situação social, um desviar de
foco, do puro entretenimento para a condição operária e para os conflitos de
classes, que só muito acidentalmente eram vistos na cinematografia inglesa
desta época. Por isso, “Um Lugar na Ata Roda” passou a ser “companheiro de
percurso” do free cinema.
Numa
pequena cidade da província inglesa vamos acompanhar a chegada de um jovem, Joe
Lampton (Laurence Harvey), que vem ocupar um lugar de secretaria numa das
empresas locais. Astuto e arrivista, com sucesso junto das mulheres, Joe começa
por cortejar uma francesa que conhece numa companhia de teatral da cidade,
Alice (Simone Signoret). Solitária e entrada na idade, Alice prolonga um
casamento infeliz e encontra em Joe uma nova esperança de bem-estar. Mas Joe
rapidamente muda o seu olhar para Susan Brown (Heather Sears), filha de um
importante empresário (Donald Wolfit), que lhe oferece outras garantias de
ascensão social. Afinal, tudo se resume a subir na vida, não olhando aos
degraus que se pisam para se atingir os fins.
Trata-se
mais uma vez de um anti-herói, encolerizado pela situação social, e educado
numa sociedade que só premeia os que triunfam e disfrutam de uma condição
económica desafogada.
Baseado
num romance de John Braine, o argumento de Neil Paterson e Mordecai Richler,
poderia facilmente cair nas armadilhas do melodramatismo fácil e piegas, do
sentimentalismo mais primário. A realização, sóbria mas vigorosa, de Jack
Clayton e as actuações dos principais intérpretes, Laurence Harvey, excelente
na sua máscara de um cinismo e pragmatismo extremos, Simone Signoret, numa
magnífica composição que lhe valeria o Oscar de Melhor Actriz do ano, e Heather
Sears, na figura de uma ingénua e desprevenida adolescente, mantêm o filme a um
nível de invulgar austeridade e qualidade plástica e emocional. No que são
ainda acompanhados pelo trabalho de dois secundários brilhantes, Donald Wolfit
e Hermione Baddeley. O segredo do sucesso desta obra, que correu contra a
corrente do tempo e afirmou um olhar novo sobre a realidade inglesa, foi
seguramente a sensibilidade de Jack Clayton para descrever o dia-a-dia de uma
pequena cidade industrial, a justeza de tom na imposição de personagens e a
discreta mas corajosa análise dos pequenos e grandes interesses que se jogam
numa sociedade onde impera a hipocrisia.
A
belíssima fotografia a preto e branco de Freddie Francis, e a banda sonora,
onde sobressai a partitura musical de Mario Nascimbene, são outros elementos a
valorizar esta obra que se afirmou como um dos mais altos momentos do cinema
inglês no final da década de 50. Curiosamente, começou por ser mal recebido na
sua estreia, mas foi progressivamente ganhando o relevo que hoje lhe é devido.
Um dos aspectos mais interessantes da obra foi a forma desassombrada como
tratou a questão sexual, muito pouco abordada até então. O facto de surgir um
adultério, de se apontarem relações sexuais anteriores ao casamento, e a
ousadia sensual de algumas cenas de amor provocaram polémica e geraram mal entendidos.
Mas, após algumas semanas em estreia, o filme começaria a ganhar os favores do
público e acabaria por ser o quarto maior sucesso de bilheteira do ano. Ganharia
inúmeros prémios internacionais: nos Oscars, para lá da estatueta para Simone
Signoret, há a referir outro Oscar para Melhor Argumento Adaptado, além de ter
sido nomeado para Melhor Filme, Melhor Actor, Melhor Actriz Secundária e ainda
Melhor Realizador. Nos Globos de Ouro, ganhou o Samuel Goldwyn Award e Simone
Signoret foi igualmente nomeada, ela que tinha anteriormente vencido o Festival
de Cannes, onde Clayton foi vedeta. Nos BAFTA de 1959, ganhou o Prémio de
Melhor Filme do Ano e de Melhor Filme Inglês do Ano. Simone Signoret não fugiu
à regra e viu o seu memorável desempenho galardoado. O filme foi ainda nomeado
para Melhor Actor Inglês (Laurence Harvey e Donald Wolfit); Melhor Actriz
Inglesa (Hermione Baddeley) e Revelação em Cinema (Mary Peach).
UM LUGAR NA ALTA RODA
Título Original: Room at the Top
Realização: Jack Clayton (Inglaterra,
1959); Argumento: Neil Paterson, Mordecai Richler, segundo romance de John
Braine; Produção: Raymond Anzarut, James Woolf, John Woolf; Música: Mario
Nascimbene; Fotografia (p/b): Freddie
Francis; Montagem: Ralph Kemplen; Direcção artística: Ralph W. Brinton;
Guarda-roupa: Rahvis; Maquilhagem: Tony Sforzini; Direcção de Produção: James
H. Ware; Assistentes de realização: Ronald Spencer; Departamento de arte: Tom
Jung; Som: John Cox, Peter Handford, Ken Ritchie; Companhias de
produção:Romulus Films, Remus; Intérpretes:
Simone Signoret (Alice Aisgill), Laurence Harvey (Joe Lampton), Heather Sears
(Susan Brown), Donald Wolfit (Mr. Brown), Donald Houston (Charles Soames),
Hermione Baddeley (Elspeth), Allan Cuthbertson (George Aisgill), Raymond
Huntley (Mr. Hoylake), John Westbrook (Jack Wales), Ambrosine Phillpotts (Mrs.
Brown), Richard Pasco (Teddy), Beatrice Varley, Delena Kidd, Ian Hendry, April
Olrich, Mary Peach, Anthony Newlands, Avril Elgar, Thelma Ruby, Paul
Whitsun-Jones, Derren Nesbitt, etc. Duração: 115 minutos; Distribuição em
Portugal: inexistente; Classificação etária: M/ 12 anos; Data de estreia em
Portugal: 2 de Dezembro de 1959.
JACK CLAYTON (1921-1995)
Jack
Clayton nasceu a 1 de Março de 1921, em Brighton, Inglaterra, e viria a
falecer, com 73 anos, a 26 de Fevereiro de 1995, em Slough, Berkshire,
Inglaterra. Casado com Christine Norden (1947-1953), Katherine Kath (?-?) e
Haya Harareet (?-1995). Começou a sua carreira no cinema, como actor, com oito
anos, no filme “Dark Red Roses” (1929). Aos 14 anos, trabalhava para a empresa
de Alexander Korda, Denham Film Studios, como “tea boy”, continuando a subir
nos estúdios, passando a assistente de realização e montador. Alistado na Royal
Air Force durante a II Guerra Mundial, Clayton dirige o seu primeiro filme,
“Naples is a Battlefield” (1944). Terminada a guerra, trabalha como produtor
associado na Romulus Film Productions, de John e James Woolf, onde dirige uma
curta-metragem que ganharia um Oscar, “The Bespoke Overcoat” (1956), iniciando
assim uma carreira regular de realizador e produtor, sendo particularmente
atraído para adaptações de obras literárias. “Room at the Top” (1959) é o seu
primeiro grande triunfo, aparecendo associado aos movimentos dos angry young
men e free cinema que por essa altura surgiram em Inglaterra, recuperando uma
tradição realista e social do cinema inglês. O filme recebeu várias nomeações
para os Oscars, ganhou dois, e teve diversos prémios em festivais de todo o
mundo.
"Os Inocentes" (1961), Segundo Henry James, "The Pumpkin Eater" (1964) e "Casa de Nossa Mãe" (1967) confirmam UMA Reputação, Sendo Contratado DEPOIS POR Grandes Estúdios norte-Americanos de para algumas Produções seguintes, Como "O Great Gatsby "(1974), adaptando F. Scott Fitzgerald, OU" Something Wicked This Way Comes "(1983), Segundo Ray Bradbury. Doente from 1978, um SUA actividade começou a rarear. De Regresso a Inglaterra, dirigiu OS SEUS Dois Ultimos Filmes, um parágrafo cinema, "A Paixão Solitária de Judith Hearne" (1987), outro parágrafo Televisão, "Memento Mori" (1992), Ambos protagonizados POR Maggie Smith.
Filmografia
1944: Nápoles é um campo de batalha (Curta-metragem); 1956: O Bespoke Overcoat (Curta-metragem); 1959: Room at the Top (Um Lugar na Alta Roda); 1961: The Innocents (Os Inocentes); 1964: The Pumpkin Eater; 1967: Casa de Nossa Mãe (Todas como Noites como Nove); 1974: The Great Gatsby (O Grande Gatsby); 1983: Something Wicked This Way Comes; 1987: A Paixão Solitária de Judith Hearne (A Paixão Solitária de Judith Hearne); 1992: Memento Mori (TV)
LAURENCE HARVEY
(1928-1973)
Laruschka
Mischa Skikne (nome de baptismo de Laurence Harvey), nasceu a 1 de Outubro de
1928, em Joniskis, na Lituânia, e faleceu a 25 de Novembro de 1973, em Londres,
Inglaterra, vítima de um cancro no estômago. Em 1934, a família emigra para a
África do Sul, instalando-se em Joanesburgo. Durante a II Guerra Mundial, Laurence
Harvey alista-se no exército, passa pelo Egipto e Itália, após o que regressa à
África do Sul, onde começa uma carreira de actor. Ganhou uma bolsa para a Royal
Academy of Dramatic Arts e viaja até Londres. Em Manchester, associa-se ao
elenco do Library Theater.
Em
1948, estreia-se no cinema em “House of Darkness” e no teatro comercial aparece
em "Hassan", um notório fracasso. Junta-se à companhia do Shakespeare
Memorial Theatre em Stratford-upon-Avon, na temporada de 1952. Na Romulus
Pictures vai construindo uma carreira discreta, de actor frio e distante, até
que, em 1954, interpreta Romeu, na versão de “Romeu e Julieta”, de Renato Castellani,
um papel que o lança internacionalmente. Chama a atenção de Hollywood e a
Warner dá-lhe o protagonismo em “O Talismã” (1954). Prossegue o trabalho sem
sobressalto até que, em 1959, Jack Clayton o contrata para “Um Lugar na Alta
Roda” (1959), uma obra que, conjuntamente com “Paixão Proibida” (1959), renova
o cinema inglês, e impõe o “free cinema”, ainda que Clayton não faça parte do
movimento, sendo no entanto a ele associado pelas características sociais e
realistas do filme. Harvey é nomeado para o Oscar de Melhor Actor e a sua
carreira estava lançada, tanto em Inglaterra como nos EUA. Integra o elenco de
um conjunto de obras importantes, como “Alamo”, de John Wayne, “O Número do
Amor”, de Daniel Mann, “Fumo de Verão”, de Peter Glenville, “Restos de Um
Pecado”, de Edward Dmytryk; “O Enviado da Manchúria”, de John Frankenheimer,
“Darling”, de John Schlesinger, “Carga da Brigada Ligeira”, de Tony Richardson,
entre outras. Casado com Margaret Leighton (1957 - 1961), Paulene Stone (1972 -
1973), Joan Perry (1968 - 1972).
Filmografia
Como ator
Cinema: 1948: Casa das Trevas, de Oswald Mitchell; 1949: Man on the Run, de Lawrence Huntington; O Homem de Ontem, de Oswald Mitchell; Aterragem, de Ken Annakin; 1950: Os Anos de Dança (A Valsa Eterna), de Harold franceses; The Black Rose (A Rosa Negra), de Henry Hathaway; Cairo Road, de David MacDonald (NAO creditado); 1951: Linha Scarlet (A Corrida da Morte), de Lewis Gilbert; Há outro Sol, de Lewis Gilbert; 1952: Um assassino Caminhadas, de Ronald Drake; Eu acredito em você (Acredito los Ti), de Basil Dearden e Michael Relph; Mulheres de Crepúsculo, de Gordon Perry; 1953: Cavaleiros da Távola Redonda (Os Cavaleiros da Távola Redonda), de Richard Thorpe (NAO creditado e Localidade: Não Confirmado); Inocentes em Paris (Inocentes los Paris), de Gordon Perry; 1954: The Good Die Young (Os Bons Morrem Cedo), de Lewis Gilbert; Rei Ricardo e os cruzados (Talismã, Ricardo Coração de Leão), de David Butler; Romeo and Juliet (Romeu e Julieta), de Renato Castellani; 1955: I Am a Camera, de Henry Cornelius; Storm Over the Nile (As Quatro Penas), de Zoltan Korda e Terence Young; 1956: Três homens em um barco (Três Homens num Bote), de Ken Annakin; 1957: Depois da Bola, de Compton Bennett; A Verdade Sobre Mulheres, de Muriel Box; 1958: The Silent Enemy (O Inimigo Silencioso), de William Fairchild; 1959: Room at the Top (Um Lugar na Alta Roda), de Jack Clayton; Poder entre os homens, de Alexander Hammid, Gian Luigi Polidoro, VR Sarma; 1960: Expresso Bongo (Expresso Bongo), de Val Guest; The Alamo (Alamo), de John Wayne; Butterfield 8 (O Número do Amor), de Daniel Mann; 1961: A longo e curto eo Alto, de Leslie Norman; Dois Amores (Dois Amores), de Charles Walters; Summer and Smoke (Fumo de Verão), de Peter Glenville; 1962: Walk on the Wild Side (Restos de Um Pecado), de Edward Dmytryk; O Maravilhoso Mundo dos Irmãos Grimm (O Mundo Maravilhoso dos Irmãos Grimm), de Henry Levin e George Pal; The Manchurian Candidate (O Enviado da Manchúria), de John Frankenheimer; A Girl Named Tamiko (Uma Chamada Rapaz Rapariga Tamiko), de John Sturges; 1963: The Running Man (Um Homem los Fuga), de Carol Reed; A Cerimônia (A Cerimónia), de Laurence Harvey; 1964: Of Human Bondage (Servidão Humana), de Ken Hughes; O Outrage (Ultraje), de Martin Ritt; 1965: Darling (querida), de John Schlesinger; A vida no topo (Escândalo na Alta Roda), de Ted Kotcheff; 1966: O Espião com um nariz frio (Camarada Princesa, Agente los Londres), de Daniel Petrie; 1968: Kampf um Rom I UO The Last Roman, de Robert Siodmak; Um dândi em Aspic (A Beira do Pânico), de Anthony Mann; Conto do Inverno, de Frank Dunlop; A Carga da Brigada Ligeira (A Carga da Brigada Ligeira), de Tony Richardson; Casamento da Boneca (Documentário); 1969: L'Assoluto Naturale UO Ela e Ele, de Mauro Bolognini; The Magic Christian, de Joseph McGrath; Rebus (O Jogo do Crime), de Nino Zanchin; Tchaikovsky, de Igor Talankin e L. Sadikova (narrador); Kampf um Rom II - Der Verrat; 1970: A funda, de Orson Welles (incompleto); WUSA (Muro de Separaç ão), de Stuart Rosenberg; 1972: Fuga para o Sol, de Menahem Golan; 1973: Night Watch (A Noite dos Mil Olhos), de Brian G. Hutton; F for Fake, de Orson Welles; 1974: Welcome to Seta Praia, de Laurence Harvey;
Televisão: 1950: Otelo; 1953: As You Like It; 1955: ITV Play of the Week; A Hora Alcoa; 1956: A aposta; 1957: Holiday Noite Reunião; 1959: Alfred Hitchcock Presents; ITV Play of the Week; 1960: O que é minha linha; Eis Hollywood; 1962: The Milton Berle Show; O Dilúvio; 1964: Senha; The Ed Sullivan Show; O Eamonn Andrews Mostrar; 1965: The Eamonn Andrews Mostrar; O Danny Kaye Show; 1966: Hollywood Talent Scouts; Late Night Line-Up; 1967: The Merv Griffin Show; Dial M for Murder; 1968: The Joey Bishop Show; Marvelous Party!; 1969: Rowan e Martin Laugh-In; Selvagem do Coringa; 1970: The David Frost Show; 1971: ITV Saturday Night Theatre; The Dick Cavett Show; The Tonight Show Starring Johnny Carson; Bowling celebridade; 1972: Night Gallery; 1973: Colombo; 45 Oscar; The Tonight Show Starring Johnny Carson;
Documentário sobre
Laurence Harvey: 1965: The Love
Goddesses, de Saul J. Turell.
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