segunda-feira, 3 de novembro de 2014

SESSÃO 56: 25 DE NOVEMBRO DE 2014


OU TUDO OU NADA (1997)

O cinema inglês tem uma forte tradição realista que vai radicar na época de ouro do documentarismo, aparecido nos anos 30, período em que surgiram autores como John Grierson, Basil Wright, Paul Rotha, Alberto Cavalcanti, etc. Depois, nos anos 60, o free cinema renovou essa tradição nunca atraiçoada, com realizadores como Lindsay Anderson, Tony Richardson, Karel Reisz, etc. Mais recentemente, homens como Kenneth Loach, Anthony Minghella, Mike Leight, e alguns outros vão mantendo acesa a luz.
Os títulos britânicos chegados a salas de Portugal durante a década de 90 prolongam estas preocupações. “Os Virtuosos” (Brassed Off), de Mark Herman, e “Ou Tudo ou Nada” (The Full Monty), de Peter Cattaneo, são dois exemplos com algo de comum - um pano de fundo que tem como base as dificuldades sociais que a onda de desemprego provoca por terras de Sua Majestade. Herança do governo conservador de Tatcher e Major, esses desempregados sobrevivem à deriva. No caso do filme de Peter Cattaneo, que depois de uma longa permanência na BBC se estreia na realização de uma longa-metragem para cinema, um grupo de amigos que diariamente se reúne num centro de emprego resolve inventar algo de inédito para sair da crise - criar um espectáculo de striptease masculino e propor-se assim ao olhar e ao desejo das mulheres de Sheffield, cidade inglesa que outrora fora um poderoso centro industrial, onde o aço comandava o ritmo da vida diária, e presentemente se descobre uma comunidade sem futuro. 


Grande sucesso nos écrans de todo o mundo, “Ou Tudo ou Nada” vive essencialmente do trabalho de um magnífico grupo de actores, comandados por Robert Carlyle, que todos recordam de “Trainspotting”, e que aqui volta a deslumbrar. Mas, a seu lado, Tom Wilkinson, Mark Addy, Lesley Sharp, Emily Woof, Steve Huison, Paul Barber e Hugo Speer compõem um excelente elenco de grande autenticidade e força expressiva, muito longe dos estereótipos do cinema mais convencional. Infelizmente, a história, apesar de muito divertida na sua estrutura anedótica, por vezes cola mal com o backgroung realista que é, indiscutivelmente, um dos pontos fortes do filme. A descrição da vida quotidiana em Sheffield, dos pequenos sonhos adiados, trocados por pequenos dramas do dia-a-dia, é quase sempre bastante bem conseguida. A inserção, simbólica e satírica, do grupo de strippers neste contexto nem sempre é brilhante, resultando por vezes conflituosa. O realismo seco do cenário não se ajusta muito bem ao “espectáculo” da história central, aqui e ali demasiado retórica e demonstrativa.
Mas, apesar disso, “The Full Monty” é uma boa surpresa, onde alguns momentos de apurado sentido crítico conseguem convencer plenamente. Os diversos elementos do grupo de strippers numa fila de desempregados, reagindo instintivamente ao som de uma canção que lhes servia de base de ensaios, é um bom exemplo desse tipo de humor.

OU TUDO OU NADA
Título original: The Full Monty
Realização: Peter Cattaneo (Inglaterra, EUA, 1997); Argumento: Simon Beaufoy; Produção: Paul Bucknor, Polly Leys, Uberto Pasolini, Lesley Stewart; Música: Anne Dudley; Fotografia (cor): John de Borman; Montagem: David Freeman, Nick Moore; Casting: Susie Figgis; Design de produção: Max Gottlieb; Direcção artística: Chris Roope; Guarda-roupa:  Jill Taylor; Maquilhagem: Lucy Bennett, Christine Blundell, Scott Beswick, Sian Richards; Assistentes de realização: David Gilchrist, Claire Hughes, Ben Johnson;  Departamento de arte: Mark Adams, Mike Houseman, John Mills, Terry Woods; Som: Alistair Crocker, Chris Dibble, Eddie Dougall, Steve Price, Adrian Rhodes, Ian Wilson; Efeitos especiais: Ian Rowley; Efeitos visuais: Rob Gordon; Companhias de produção: Redwave Films, Channel Four Films, Twentieth Century Fox Film Corporation; Intérpretes: Robert Carlyle (Gaz), Mark Addy (David 'Dave'), William Snape (Nathan), Steve Huison (Lomper), Tom Wilkinson (Gerald), Paul Barber (Horse), Hugo Speer (Guy), Lesley Sharp (Jean), Emily Woof (Mandy), Deirdre Costello (Linda), Paul Butterworth (Barry), Dave Hill (Alan), Bruce Jones (Reg), Andrew Livingston, Vinny Dhillon, Kate Layden, Joanna Swain, Diane Lane, Kate Rutter, June Broughton, Glenn Cunningham, Chris Brailsford, Steve Garti, Malcolm Pitt, Dennis Blanch, Daryl Fishwick, David Lonsdale, Muriel Hunt, Fiona Watts, Theresa Maduemezia, Fiona Nelson, The British Steel Stocksbridge Band, Marie Jackman, Enn Reitel, Elaine Young, etc. Duração: 91 minutos; Distribuição em Portugal (DVD): LNK; Classificação etária: M/ 12 anos; Data de estreia em Portugal:21 DE Novembro de 1997.

PETER CATTANEO (1964 - )
Nascido em 1964, em Twickenham, Londres, Inglaterra. Filho de um conhecido autor de filmes publicitários, Tony Cattaneo (1927-2003). Peter Cattaneo tem uma importante carreira como produtor, argumentista, realizador. A sua colaboração no cinema inicia-se na montagem, na curta-metragem de 1989, “Fire and Steel”, de Martin Dunkerton. As suas obras mais conhecidas no cinema são “Ou Tudo ou Nada” (1997), “O Rocker” (2008) e “Lucky Break” (2001) e, na televisão, “Rev.” é uma série bastante apreciada. É membro da Ordem do Império Britânico, desde 1998. Recebeu duas nomeações para o Oscar de Melhor Realizador em 1991 e 1998. Ganhou o Hitchcock de Ouro, no Festival de Dinard em 1997, para “Full Monty”, obra que o celebrizou em todo o mundo e que arrecadou inúmeros outros prémios.

Filmografia:
Como realizador: 1990: Dear Rosie (curta-metragem); 1992: Say Hello to the Real Dr Snide (TV); 1993: Teenage Health Freak; 1995: Loved Up (TV); 1997: The Full Monty (Ou Tudo ou Nada), 2001: Lucky Break; 2005: Opal Dream (Amigos Imaginários); 2008: The Rocker (O Rocker); 2010-2012: Little Crackers (TV); 2010-2014: Rev. (TV).

ROBERT CARLYLE (1961 - )
Nasceu a 14 de Abril de 1961, em Maryhill, Glasgow, Escócia, Reino Unido. Filho de Elizabeth e de Joseph Carlyle, pintor e decorador. Educado pelo pai, desde os quatro anos, após a mãe ter abandonado a família, teve uma infância difícil e, aos 21, depois de ler a peça de Arthur Miller, "The Crucible", quis ser actor. Estudou no Cardonald College em Glasgow, e na Royal Scottish Academy of Music and Drama (mais tarde conhecida por Royal Conservatoire of Scotland). Com quatro outros pretendentes a actores fundou, em 1991, a “Raindog Theatre Company” (o nome era uma homenagem a uma canção de Tom Waits, do álbum "Rain Dog", um dos favoritos de Carlyle). Juntamente com Antonia Bird, Irvine Welsh e Mark Cousins, fundou a casa produtora de filmes 4 Ways. Conquistou inúmeros prémios e distinções ao longo da sua carreira, no teatro, no cinema, na televisão. Oficial da Ordem do Império Britânico desde 1999. Casado com Anastasia Shirley, maquilhadora (1997 – até ao presente).

Filmografia
Como actor / no cinema: 1990: Silent Scream, de David Hayman; Riff-Raff (Riff-Raff), de Ken Loach; 1993: Tender Blue Eyes, de Lasse Braun; Being Human (Gente Como Nós), de Bill Forsyth; Safe, de Antonia Bird; 1994: Pries (O Padre), de Antonia Bird; Marooned, de Jonas Grimås; 1995: Go now, de Michael Winterbottom; The Last Ten Minutes (curta-metragem); 1996: Trainspotting (Trainspotting), de Danny Boyle; Carla's Song (A Canção de Carla), de Ken Loach; 1997: Full Monty (Ou Tudo ou Nada), de Peter Cattaneo; Face, de Antonia Bird; 1999: Plunkett & Macleane (Estradas Perigosas), de Jake Scott; Ravenous (O Insaciável), de Antonia Bird; The World Is Not Enough (007 - O Mundo Não Chega), de Michael Apted; Angela's Ashes (As Cinzas de Ângela), de Alan Parker; 2000: The Beach (A Praia), de Danny Boyle; There's Only One Jimmy Grimble, de John Hay; 2001: To End All Wars (A Última das Guerras), de David L. Cunningham; The 51st State (Fórmula 51), de Ronny Yu; 2002: Once Upon a Time in the Midlands, de Shane Meadows; Black and White, de Craig Lahiff; 2004: Dead Fish (Tiros Certeiros), de Charley Stadler; 2005: The Mighty Celt, de Pearse Elliott; Marilyn Hotchkiss' Ballroom Dancing and Charm School (Um Toque de Sedução), de Randall Miller; 2006: Eragon (Eragon), de  Fangmeier; Flood (Londres - O Dia do Juízo Final), de Tony Mitchell; 2007: 28 Weeks Later (28 Semanas Depois), de Juan Carlos Fresnadillo; 2008: I Know You Know, de Justin Kerrigan; Stone of Destiny (Pedra do Destino), de Charles Martin Smith; Summer, de Kenneth Glenaan; 2009: The Tournament (O Torneio), de Scott Mann; 2012: California Solo, de Marshall; 2015: The Legend of Barney Thomson (post-production)
Na televisão: 1990: Taggart; 1991: The Bill; 1992: Advocates II; 1993: Screenplay;1994: 99-1; 1994: Cracker; 1995 - 1997: Hamish Macbeth; 1998: Looking After Jo Jo; 2003: Hitler: The Rise of Evil, de Christian Duguay; 2004: Gunpowder, Treason & Plot, de Gillies MacKinnon; 2005: Monroe: Class of '76; 2005: Human Trafficking, de Christian Duguay; 2005: Class of '76, de Ashley Pearce; 2006: Born Equal, de Dominic Savage; 2007: La Grande Inondation de Tony Mitchell; 2008: 24: Redemption, de Jon Cassar; 2008: The Last Enemy, de Iain B. MacDonald; 2009: Zig Zag Love, de Gillies MacKinnon; 2009: The Unloved, de Samantha Morton; 2009 - 2010: Stargate Universe, de Nicholas Rush; 2011-2014: Once Upon a Time.

Como realizador: 2010: SGU Stargate Universe (TV) (1 episódio); 2015: The Legend of Barney Thomson (pós-produção).

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