segunda-feira, 2 de junho de 2014

SESSÃO 23: 25 DE JUNHO DE 2014

LAWRENCE DA ARÁBIA (1962)


1.A superprodução existiu quase desde sempre no cinema. Basta recordar os filmes históricos italianos ainda na época do mudo, como “Cabíria”, ou “Os Últimos Dias de Pompeia”, ou os épicos de Griffith, “O Nascimento de Uma Nação” e “Intolerância”, igualmente mudos. Sempre se pretendeu realizar o espectáculo “único” que despertasse o interesse de um cada vez mais vasto público.
Mas nos anos 50 e 60 do século passado, a explosão da superprodução teve ainda uma outra causa bem visível. A expansão da televisão, disseminando-se por todos os lares da América e do mundo, acarretou uma forte concorrência para as salas de cinema. Os produtores responderam com filmes que não se podiam ver da mesma forma no pequeno ecrã ou numa majestosa sala equipada com Cinemascope, Cinerama, TODD-AO, VistaVision ou 70 milímetros. Surgiram assim dezenas e dezenas de superproduções que marcaram esse período. Curiosamente a grande maioria foi entregue a mestres do cinema que quase sempre provocaram problemas com os produtores. Os primeiros a tentarem criar obras pessoais com meios astronómicos, os segundos a procuram salvaguardar o capital empatado e a rentabilizá-lo o melhor possível. Em quase todos os casos, as obras finais, apesar dos protestos dos realizadores que se sentiam lesados na sua integridade, foram de grande qualidade cinematográfica e de generosos proveitos. “Spartacus”, “A Queda do Império Romano”, “El Cid”, “Os 55 Dias de Pequim”, “A Ponte do Rio Kway”, “O Gigante”, “Cleópatra”, “Os Dez Mandamentos”, “Ben Hur, “A Conquista do Oeste”, e alguns mais, mostram bem as qualidades de cineastas como Stanley Kubrick, Anthony Mann, Nicholas Ray, Cecil B. De Mille, David Lean, John Ford, William Wyller, George Stevens, Joseph L. Mankiewicz, apesar de muitos deles se terem manifestado insatisfeitos com as montagens definitivas, muitas delas surgidas depois em “director’s cut”, quando editadas em DVD, ou mesmo em reposições em salas de cinema.


Entre todas estas superproduções que deixaram boas recordações e que pouco tem a ver com os blockbusters de agora, uma existe que se impõe sobre todas as outras: “Lawrence da Arábia”.
2. O inglês David Lean é um autor da minha particular estima, sendo que, ainda por cima, o julgo injustamente avaliado e, nalguns casos, mesmo esquecido. Mas David Lean é um verdadeiro autor, com temática própria e um estilo muito definido, ainda que se possam considerar na sua filmografia, que engloba 19 títulos como realizador, dois períodos bem vincados. Um, mais intimista e discreto, muito embora alguns dos seus títulos tenham por cenário a Inglaterra vitoriana ou os palcos da guerra, e que vai desde o início da década da 40, como “Sangue, Suor e Lágrimas” (1942), “Esta Nobre Raça” (1944), “Uma Mulher do Outro Mundo” e “Breve Encontro” (ambos de 1945), passando pelas duas magnificas adaptações de obras de Charles Dickens, “Grandes Esperanças” (1946) e “As Aventuras de Oliver Twist” (1948), até chegar a “Mais Forte que o Amor” (1949), “Culpada ou Inocente?” (1950), “A Barreira Sonora” (1952) ou “As Filhas do Sr. Hobson” (1954). É um período puramente britânico, que encerra algumas obras admiráveis de sensibilidade e pudor, de elegância e contensão emocional. Com “Loucura em Veneza” (1955) David Lean deixa os cenários ingleses, passa a Veneza, e trabalha com Katharine Hepburn e Rossano Brazzi, actores de outras nacionalidades. Este é o filme que marca a transição para o seu período internacional, o mais conhecido, que encerra cinco superproduções de uma qualidade invulgar: “A Ponte do Rio Kwai” (1957) “Lawrence da Arábia” (1962) “Doutor Jivago” (1965) “A Filha de Ryan” (1970) e “Passagem Para a Índia” (1984), seu derradeiro título.
David Lean, que nascera em Croydon, Surrey, em Inglaterra, a 25 de Março de 1908, iria falecer em Londres, a 16 de Abril de 1991. Tinha 83 anos de idade e andava a projectar a realização de "Nostromo", segundo romance de Joseph Conrad.

David Lean deixou impresso na história do cinema mundial um conjunto de obras admiráveis. Para mim, “Breve Encontro” e “Lawrence da Arábia” são duas obras-primas indiscutíveis. Mas algumas mais se aproximam.
3.Thomas Edward Lawrence, inglês por nascimento, era oficial do exército, poeta, erudito e excêntrico, exibicionista e muito mais, que se tornou árabe por opção. Escreveu “O Sete Pilares da Sabedoria”, correspondia-se com Virginia Woolf, Bernard Shaw, Thomas Hardy, E.M. Forster, Robert Graves, Noel Coward, entre outros, e era amigo de Winston Churchil, em casa de quem aparecia, para jantar, vestido de árabe, para grande gáudio dos filhos deste. Dizem.
O filme, que tem argumento escrito por Robert Bolt, historiador, escritor e dramaturgo, e Michael Wilson, um dos argumentistas norte-americanos colocados na lista negra do macarthismo, parece não respeitar integralmente os acontecimentos históricos que aborda, mas oferece seguramente uma abordagem muito interessante de um período histórico conturbado. Estamos em plena I Guerra Mundial e, no Próximo Oriente, entre o Cairo, a Arábia e a Turquia, o clima é duplamente tórrido. Os árabes estão divididos entre si, com tribos rivais que se guerreiam e são dominadas pelos turcos, que por sua vez são aliados dos alemães e inimigos dos ingleses no conflito mundial.  
O filme inicia-se com o acidente de motorizada que, em 1935, vitima Lawrence, em Inglaterra, passa pelo seu funeral com honras nacionais e, através do testemunho contraditório de algumas personalidades que se cruzaram com ele, desdobra-se num flash back para o seu período passado entre os árabes. Encontramo-lo no Cairo, aborrecido com a sua vida sem agitação, ele que gosta de se pôr continuamente à prova. Consegue ser enviado como observador até junto do Príncipe Feisal, consegue congregar os esforços de tribos desavindas, e lança-as ao ataque do porto de Aqaba, dominado pelos turcos.
Os problemas decorrentes das lutas anti colonialistas são depois o cerne da obra, com Lawrence com uma visão moderna, levando os árabes a pensarem numa independência, enquanto os ingleses intimamente têm outros projectos para aquele espaço estratégico. 


O que surpreende nesta obra, em primeiro lugar, é a aparente contradição entre a estrutura de superprodução e a sua concretização, tanto a nível do argumento, extremamente rico de implicações e nuances emocionais, sexuais, sociais, políticas, militares, como no plano estilístico. Não é muito vulgar uma superprodução internacional possibilitar uma tal maturidade de questões que, muito embora incorra numa ou noutra imprecisão histórica ou nalgumas liberdades ficcionais para dar algum dramatismo ao enredo, debate temas graves e de difícil apreensão pelas plateias habituadas ao facilitismo. Na verdade não é só no plano estritamente político que o filme aborda questões essenciais. Aflora de maneira púdica e discreta o tema da violência sexual e da homossexualidade, nada vulgar em inícios da década de 60.
Mas, para lá desses aspectos que se prendem com a ficção, “Lawrence da Árabia” impõe-se ainda pelo olhar do cineasta, pelo estilo de narrativa escolhido, pela forma como a paisagem adquire um papel preponderante em todo o desenrolar da narrativa. Claro que existem sequências movimentadas e momentos de alguma intensidade bélica, mas no essencial “Lawrence da Arábia” é um filme contemplativo, onde várias personagens se confrontam e defrontam, sendo que as principais serão Lawrence e as areias do deserto. A câmara de David Lean, tal como Lawrence, deixa-se fascinar pela imensidão desse deserto infinito, pela incandescência da areia, pelas nuvens de poeira fustigadas pelo vento, e tudo isso faz desta obra um poema que tem sobrevivido aos anos e às gerações. Não será por acaso que entre todas as listas dos melhores filmes de sempre este ocupa um destacado lugar, sendo mesmo o primeiro nas preferências das melhores superproduções de sempre.
Este é ainda o trampolim decisivo para a carreira de Peter O´Toole, com uma composição brilhante, de uma discreta cintilação, que o tornará num dos maiores actores ingleses de sempre. Igualmente a esplendorosa fotografia de Freddie Young e a inspirada partitura de Maurice Jarre, compositor habitual das bandas sonoras de David Lean, ajudam ao sucesso. Um filme belíssimo. 

                                               o verdadeiro Lawrence 
LAWRENCE DA ARÁBIA
Título original: Lawrence of Arabia
Realização: David Lean (Inglaterra, 1962); Argumento: Robert Bolt, Michael Wilson (inicialmente não creditado, o que só aconteceu a partir de 1978, na cópia restaurada), segundo escritos de T.E. Lawrence; Produção: Sam Spiegel, David Lean;  Música: Maurice Jarre; Fotografia (cor): Freddie Young; Montagem: Anne V. Coates; Casting: Maude Spector; Design de produção: John Box; Direcção artística: John Stoll, Anthony Masters; Decoração:  Dario Simoni; Guarda-roupa:  Phyllis Dalton; Maquilhagem: Charles E. Parker, A.G. Scott;  Direcção de Produção: John Palmer, R.L.M. Davidson, Tadeo Villalba; Assistentes de realização: Noël Howard, André Smagghe, Roy Stevens, Bryan Coates, André De Toth (segunda unidade), Benchekroun Larbi, Michael Stevenson, David Tringham; Departamento de arte: Peter Dukelow, Eddie Fowlie;  Som: John Cox, Paddy Cunningham, Winston Ryder; Efeitos especiais: Cliff Richardson, Wally Veevers; Agradecimentos especiais (restauro de cópia 1989): Jon Davison, David Lean, Martin Scorsese, Steven Spielberg; Companhias de produção: Horizon Pictures; Intérpretes: Peter O'Toole (T.E. Lawrence), Alec Guinness (Príncipe Feisal), Anthony Quinn (Auda Abu Tayi), Jack Hawkins (General Allenby), Omar Sharif (Sherif Ali), José Ferrer (Turkish Bey), Anthony Quayle (Coronel Brighton), Claude Rains (Mr. Dryden), Arthur Kennedy (Jackson Bentley), Donald Wolfit (General Murray), I.S. Johar (Gasim), Gamil Ratib (Majid), Michel Ray (Farraj), John Dimech, Zia Mohyeddin, Howard Marion-Crawford, Jack Gwillim, Hugh Miller, Robert Rietty, John Barry, Bruce Beeby, Fred Bennett, John Bennett, Steve Birtles, Robert Bolt (oficial de cachimbo), Peter Burton, J.R.M. Chapman, Tim Clutterbuck, Barbara Cole, John Crewdson, Basil Dignam, Peter Dukelow, Mohamed El Habachi, Kenneth Fortescue, Harry Fowler, Jack Hedley, Rafael Hernández, Bert Holliday, Noel Howlett, Cher Kaoiu, Patrick Kavanagh, David Lean (motociclista no Canal de Suez), Ian MacNaughton, Clive Morton, Daniel Moynihan, Henry Oscar, George Plimpton, Bryan Pringle, Kamal Rashid, John Robinson, Norman Rossington, John Ruddock, Fernando Sancho, Stuart Saunders, Cyril Shaps, Roy Stevens, Barry Warren, etc. Duração: 216 ou: 228 minutos (Director’s cut); Distribuição em Portugal: Columbia TriStar Home Video; Classificação etária: M/ 12 anos; Data de estreia em Portugal: 28 de Novembro de 1963.

PETER O'TOOLE 
(1932-2014)
Peter Seamus O’Toole nasceu em Connemara, Irlanda, a 2 de Agosto de 1932, e viria a falecer em Londres, a 14 de Dezembro de 2013. Filho de Jane Constance, enfermeira escocesa, e Patrick Joseph O'Toole, irlandês. Foi criado numa escola católica, o que deixou marcas na sua personalidade. Disse: “Costumava ter medo das freiras. A negação da feminilidade, os vestidos pretos e o cabelo rapado, tudo isso era horrível, terrível.” Ao sair da escola trabalhou como jornalista e fotógrafo, tendo conseguido depois, em 1952, uma bolsa de estudos na Royal Academy of Dramatic Art (RADA), onde foi colega de Albert Finney, Alan Bates ou Brian Bedford. Estreou-se no teatro, antes de aparecer na televisão em 1954. No cinema surge em 1959, num pequeno papel. É com o desempenho de T. E. Lawrence no filme de David Lean “Lawrence da Arábia” de 1962, que ganha projecção mundial. Recebeu a primeira das oito nomeações para o Oscar de Melhor Actor, que só ganhou em 2003, pela globalidade do seu trabalho (um Oscar honorário). Foi realizador de cinema em “The Stunt Man” (1980) e, em 1982, foi novamente nomeado na comédia “My Favorite Year”. Com “Man of La Mancha”(1972), adaptação do musical da Broadway de 1965, obteve um estrondoso sucesso.  Ganhou um Emmy pela sua contribuição na mini-série de 1999 “Joan of Arc”. Voltou a ser nomeado para Oscar de Melhor Actor em 2006, em “Venus”.
Em 1959, casou-se com a actriz Siân Phillips, de quem teve duas filhas, Kate (1960) e Patricia (1963). Peter e Siân divorciaram-se em 1979, com revelações de crueldade mental, em grande parte alimentada por alcoolismo, do actor. Mais tarde, envolveu-se com a modelo Karen Brown, de que nasceu um filho, Lorcan (1983). Em 1976 foi operado ao pâncreas e ao estômago em virtude dos seus excessos. Peter O'Toole faleceu aos 81 anos, em Londres, num domingo, 15 de Dezembro de 2013.

Filmografia
Como actor: 1956: A Tale of Two Pigtails; The Scarlet Pimpernel (TV Series); 1958: The Castiglioni Brothers (TV); 1959: The Long and the Short and the Tall (TV); 1959-1961:  Rendezvous (TV) - London-New York, Once a Horseplayer, End of a Good Man; 1960: Kidnapped (Raptados), de Robert Stevenson; The Savage Innocents (Sombras Brancas), de Nicholas Ray; The Day They Robbed the Bank of England (O Roubo do Banco de Inglaterra), de John Guillermin; 1962: Lawrence of Arabia (Lawrence da Arábia), de David Lean; 1964: Becket (Becket), de Peter Glenville; 1965: Lord Jim (Lord Jim), de Richard Brooks; What's New, Pussycat ? (Que há de Novo, Gatinha?), de Clive Donner; The Sandpiper (Adeus Ilusões), de Vincente Minnelli (voz); 1966: How To Steal A Million ? (Como Roubar Um Milhão), de William Wyler; 1966: The Bible: In the Beginning... (A Biblia), de John Huston; 1967: Casino Royale (Casino Royale), de John Huston; The Night of the Generals (A Noite dos Generais), de Anatole Litvak; ITV Play of the Week (TV); 1968: Great Catherine (Catarina, Imperatriz da Rússia), de Gordon Flemyng; The Lion in Winter (O Leão no Inverno), de Anthony Harvey; 1969: Goodbye, Mr. Chips (Adeus, Mr. Chips), de Herbert Ross; 1970: Country Dance, de J. Lee Thompson; 1971: Murphy's War (Duelo à Beira do Rio), de Peter Yates; Brotherly Love ou The Same Skin (Jogo na Escuridão), de Peter Yates; 1972: The Ruling Class (A Classe Dominante), de Peter Medak; 1972: Man of La Mancha (O Homem da Mancha), de Arthur Hiller; Under Milk Wood, de Andrew Sinclair; 1975: Fox Trot (Fox Trot), de Arturo Ripstein; Rosebud (O Caso Rosebud), de Otto Preminger; Man Friday (O Meu Criado Sexta-Feira) de Jack Gold; 1976: Rogue Male (TV); 1978: Power Play (Golpe de Estado), de Martyn Burke; 1979: Zulu Dawn (Alvorada Zulu), de Douglas Hickox; Caligula (Calígula), de Tinto Brass; 1980: The Stunt Man (O Fugitivo), de Richard Rush; 1980: Strumpet City (TV); 1981: Masada, de Boris Sagal; 1982: My Favorite Year (Meu Ano Favorito), de Richard Benjamin; Svengali (TV); Man and Superman (TV); 1983: Sherlock Holmes and the Valley of Fear, Sherlock Holmes and a Study in Scarlet, Sherlock Holmes and the Sign of Four, Sherlock Holmes and the Baskerville Curse (todos TV); The Ray Bradbury Theater (TV); Pygmalion (TV); 1984: Supergirl (Supergirl), de Jeannot Szwarc; Kim (TV); 1985: Creator (Louca por Si, Professor), de Ivan Passer; 1986: Club Paradise (Clube Paraíso), de Harold Ramis; 1987: The Last Emperor (O Último Imperador), de Bernardo Bertolucci; 1988: High Spirits (Malucos e Libertinos), de Neil Jordan; 1989: The Dark Angel (TV); 1989: In una Notte di Chiaro di Luna (Morte Silenciosa), de Lina Wertmüller; 1990: Wings of Fame, de Otakar Votocek; The Rainbow Thief de Alejandro Jodorowsky; The Nutcracker (O Príncipe Quebra-Nozes), de Paul Schibli (voz); Crossing to Freedom (TV); 1991: Isabelle Eberhardt, de Ian Pringle; King Ralph (King Ralph - O Primeiro Rei Americano), de David S. Ward; 1992: The Seventh Coin (A Sétima Moeda), de Dror Soref; Civvies (TV); Rebecca's Daughters, de Karl Francis; 1994: Heaven & Hell: North & South, Book III (TV); 1995: Heavy Weather (TV); 1996: Les Voyages de Gulliver (As Viagens de Gulliver), de Charles Sturridge (TV); 1997: FairyTale: A True Story, de Charles Sturridge; 1998: Phantoms (Fantasmas), de Joe Chappelle; Coming Home, de Giles Foster (TV); 1999: Joana d'Arc - A Donzela da Lorena (TV), de Christian Duguay; Jeffrey Bernard Is Unwell (TV); 1999: The Manor, de Ken Berris; Molokai: The Story of Father Damien, de Paul Cox; 2002: Global Heresy, de Sidney J. Furie; The Final Curtain, de Patrick Harkins (TV); The Education of Max Bickford (TV); 2003: Hitler: the Rise of Evil, de Christian Duguay (TV); Bright Young Things (Sexo, Escândalos e Celebridade), de Stephen Fry; Imperium: Augustus (TV); 2004: Troy (Tróia), de Wolfgang Petersen; 2005: Lassie de Charles Sturridge; 2005: Casanova, de Russell T. Davies (TV); 2006: One Night with the King (Uma Noite com o Rei), de Michael O. Sajbel; 2007: Venus (Venus), de Roger Michell; Ratatouille (Ratatui), de Brad Bird (voz); Stardust (Stardust - O Mistério da Estrela Cadente), de Matthew Vaughn; 2008: Dean Spanley, de Toa Fraser; 2008: Thomas Kinkade's The Christmas Cottage,  de Michael Campus; 2008: The Tudors (TV); 2009: Iron Road (TV); 2010: Eager to Die, de Michael Mandell; 2011: For Greater Glory: The True Story of Cristiada, de Dean Wright; 2011: Eldorado (narrador); 2012: Cristeros, de Dean Wright; 2013: Katherine of Alexandria, de Michael Redwood; 2014: The Whole World at Our Feet, de  Salamat Mukhammed-Ali.

Como realizador: 1999: Jeffrey Bernard Is Unwell (TV). 

SESSÃO 22: 24 DE JUNHO DE 2014


007, AGENTE SECRETO (1962)

Com “007, Agente Secreto” inicia-se a adaptação ao cinema de forma sistemática das obras de Ian Fleming que tinham como herói James Bond, espião com “ordem para matar”, ao “serviço de Sua Majestade” britânica e dos Serviços Secretos daquele país. Estas obras foram produzidas nos primeiros anos por Harry Saltzman e Albert Broccoli, detentores dos direitos cinematográficos de quase toda a obra já escrita por Ian Fleming e donos da produtora EON (Everything or Nothing). Em 1975, Saltzman abandonou a franquia. Desde 1995, os filmes são produzidos pela filha de Albert, Barbara Broccoli, e seu meio-irmão, Michael G. Wilson. Estes são considerados os filmes oficiais de James Bond.
Para recriar no cinema a personagem foi escolhido inicialmente Sean Connery (1962–1967;1971), George Lazenby (1969), Roger Moore (1973–1985), Timothy Dalton (1987–1989), Pierce Brosnan (1995–2002) e Daniel Craig (2006 até ao presente).
Vários cineastas têm acompanhado e dado forma à gesta: Terence Young, Guy Hamilton, Lewis Gilbert, Peter R. Hunt, John Glen, Martin Campbell, Roger Spottiswoode, Michael Apted, de Lee Tamahori,  Marc Forster, Sam Mendes, este último a preparar nova incursão para 2015.  


Com “Dr. No”, rodado em 1962, principia a série, que rapidamente se iria impor como uma das de maior sucesso de toda a história do cinema. O actor escocês Sean Connery, até então relativamente desconhecido, seria rapidamente catapultado para o estrelato, transformando-se num ícone dos anos 1960, ao lado dos Beatles. O filme, produzido com um orçamento de um milhão de dólares, fez records de bilheteira em todo o mundo, criou uma nova histeria internacional: a Bondmania. Entre os factores que contribuíram para o sucesso desta série,
além do carisma e do charme de seu personagem principal, têm sido sem dúvida os estridentes vilões, os gadgets de alta tecnologia, sofisticados e letais, as espampanantes  e sensuais bond-girls, e ainda os temas musicais, interpretados por famosas cantoras.
Na verdade, todos os filmes denotam uma grande imaginação, aliada a um humor inteligente, uma ironia inteligente e distanciadora, tudo isto à mistura com uma acção frenética e uma hábil dosagem de ritmo, romance, cenários naturais exóticos e fantásticos decors de estúdio. Vilões enigmáticos, saídos da banda desenhada e dos antigos serials, conotações com a realidade política do momento, referência à tecnologia em moda na altura são outros tantos elementos a considerar, ainda que o fulcro de todo o sucesso se centre na própria figura de Bond, homem cheio de expedientes, de experiência, hábil com todas as armas, condutor exímio de todos os meios de locomoção, com particular realce para os automóveis, olhar certeiro e instinto de conservação acima da média, frase rápida, que esgrime como os punhos, sorriso simpático, deixando pairar o mistério.


Em “007, Agence Secreto”, James Bond é enviado à Jamaica para descobrir o que está por detrás do desaparecimento de um agente inglês e da sua secretária, entretanto assassinados por ordem de um misterioso Dr. No, que vive retirado numa ilha. De colaboração com Felix Leiter, agente da CIA, e com um amigo jamaicano, James Bond irá penetrar na ilha, onde conhece a bela e sedutora Honey (Ursula Andressl, sendo ambos feitos prisioneiros. Mas 007 não se dá por vencido e, no último instante, salva-se e consegue preservar a Humanidade de uma ameaça brutal... Os finais explosivos da série inauguram-se aqui. Um bom início das aventuras de 007 no cinema.

007 - AGENTE SECRETO
Título original: Dr. No
Realização: Terence Young (Inglaterra, 1962); Argumento: Richard Maibaum, Johanna Harwood, Berkely Mather, (ainda Wolf Mankowitz, Terence Young, não creditados)segundo romance de Ian Fleming; Produção: Albert R. Broccoli, Harry Saltzman; Música: Monty Norman, John Barry; Fotografia (cor):  Ted Moore; Montagem: Peter R. Hunt; Casting: James Liggat; Design de produção: Ken Adam; Direcção artística: Syd Cain; Maquilhagem: John O'Gorman, Eileen Warwick; Direcção de Produção: L.C. Rudkin; Assistentes de realização: Clive Reed, David C. Anderson, John Meadows;  Departamento de arte: Freda Pearson; Som: John Dennis, Archie Ludski, Wally Milner, Norman Wanstall; Efeitos especiais: Frank George; Efeitos visuais: Cliff Culley, Roy Field;  Companhia de produção:Eon Productions; Intérpretes: Sean Connery (James Bond), Ursula Andress (Honey Ryder), Joseph Wiseman (Dr. No), Jack Lord (Felix Leiter), Bernard Lee (M.), Anthony Dawson (Professor Dent), Zena Marshall (Miss Taro), John  (Quarrel), Eunice Gayson (Sylvia), Lois Maxwell (Miss Moneypenny), Peter Burton (Major Boothroyd), Yvonne Shima, Michel Mok, Marguerite LeWars, William Foster-Davis, Dolores Keator, Reggie Carter, Louis Blaazer, Colonel Burton, M    artine Beswick, Chris Blackwell, Anthony Chinn, Maxwell Shaw, Nikki Van der Zyl, etc. Duração: 110 minutos; Distribuição em Portugal: MGM; Classificação etária: M/ 12 anos.

IAN FLEMING (1908-1964)
Ian Lancaster Fleming nasceu a 28 de Maio de 1908, na casa apalaçada da família, no número 27 de Green Street, no bairro nobre de Mayfair, em Londres, Inglaterra, e faleceu a 12 de Agosto de 1964, com 56 anos, em Canterbury, Kent,  Inglaterra. Filho de Evelyn St. Croix Fleming e Valentine Fleming. Ian Fleming era oriundo de uma família ligada ao banco mercante Robert Fleming & Co.. O pai era um membro do parlamento de Henley, desde 1910 até sua morte, em 1917, na Frente Ocidental, durante a I Guerra Mundial. Estudou no Eton College, na Real Academia Militar de Sandhurst e nas universidades de Munique e Genebra, e teve vários empregos antes de começar a escrever. Militar, escritor, jornalista, tornou-se mundialmente célebre com os seus romances de espionagem que têm James Bond por protagonista, sobretudo depois da sua adaptação ao cinema.
Foi membro da Inteligência Naval Britânica durante a II Guerra Mundial, envolvido em várias operações, o que lhe deu conhecimentos e inspiração para escrever s seus doze romances sobre 007 e ainda dois livros de contos. É autor igualmente da história infantil “Chitty-Chitty-Bang-Bang”. Em 2008, o jornal The Times colocou-o na décima-quarta posição em sua lista dos "50 Maiores Escritores de Língua Inglesa de Todos os Tempos".
Foi casado com Ann Geraldine Charteris. Fleming, que fumava e bebia em excesso, e sofria do coração, morreu de ataque cardíaco. Dois de seus livros de Bond foram publicados postumamente, e desde então outros cinco autores produziram romances com o personagem. A criação de Fleming já surgiu em 25 filmes, tendo sido interpretado por oito actores em cerca de 50 anos.
James Bond, um oficial do Serviço Secreto Inglês, comumente chamado de MI6, era também conhecido pelo nome de código 007, e era um comandante da Reserva Naval Real. Fleming escolheu o nome para o seu personagem partindo do ornitólogo norte-americano James Bond, um especialista em pássaros caribenhos e autor do guia “Birds of the West Indies”. Fleming, um observador de pássaros, tinha uma cópia dessa obra de Bond, e mais tarde disse à mulher do ornitólogo que, "o que o tinha surpreendido foi o facto desse nome anglo-saxão, nada romântico, curto e mesmo assim bem masculino, ser exactamente o que eu precisava: em segundos nasceu James Bond". Numa entrevista para o “The New Yorker”, em 1962, pormenorizou: "Quando escrevi o primeiro romance, em 1953, eu queria que Bond fosse um homem extremamente maçador e desinteressante a quem as coisas acontecem; eu queria que ele fosse um instrumento cego ... quando eu estava à procura de um nome para o meu protagonista, pensei, “James Bond” é o nome mais entediante que eu já ouvi'.
Romances de Ian Fleming: “Casino Royale” (1953), “Live and Let Die” (1954), “Moonraker” (1955), “Diamonds Are Forever” (1956), “From Russia, with Love” (1957), “The Diamond Smugglers” (1957), “Dr. No” (1958), “Goldfinger” (1959), “For Your Eyes Only” (1960), “Thunderball” (1961), “The Spy Who Loved” (1962), “On Her Majest's Secret Service” (1963), “Thrilling Cities” (1963), “You Only Live Twice” (1964), “The Man with the Golden Gun” (1965), “Octopussy” e “The Living Daylights” (1966) (estes dois últimos publicados postumamente). “Chitty-Chitty-Bang-Bang” foi publicado em 1964.
Contos de James Bond: "Quantum of Solace" (1959), "The Hildebrandy Rarity" (1960), "From a View to a Kill" (1960), "For Your Eyes Only", "Risico", "The Living Daylights" (1962), "007 in New York" (1963), "The Property of a Lady" (1963) e "Octopussy" (1966).
Depois da morte de Ian Fleming, vários outros escritores foram convidados a continuarem as aventuras de 007: Kingsley Amis, Christopher Wood, John Gardner, Raymond Benson, Sebastian Faulks, Jeffery Deaver, William Boyd ou Charlie Higson.
Kingsley Amis (sob o pseudónimo "Robert Markham"): “Colonel Sun” (1968)
Christopher Wood: “James Bond, The Spy Who Loved Me” (1977) e “James Bond and Mooraker” (1979).
John Gardner: “Licence Renewed” (1981), “For Special Services” (1982), “Icebreaker”           (1983),
“Role of Honour” (1984    ), “Nobody Lives for Ever” (1986), “No Deals, Mr. Bond” (1987), “Scorpius” (1988), “Win, Lose or Die” (1989), “Licence to Kill” (1989), “Brokenclaw” ( 1990), “The Man from Barbarossa” (1991), “Death Is Forever” (1992), “Never Send Flowers” (1993), “SeaFire” (1994), “GoldenEye” (1995) e “COLD” (1996).
Raymond Benson: "Blast from the Past" (1997), “Zero Minus Tem” (1997), “Tomorrow Never  (1998), "Midsummer Night's Doom" (1999), “High Time to Kill” (1999), "Live at Five" (1999), “The World Is Not Enough” (1999), “DoubleShot” (2000), “Never Dream of Dying” (2001), “The Man with the Red Tattoo” (2002) e “Die Another Day” (2002).
Sebastian Faulks: “Devil May Care” (2008).
Jeffery Deaver: “Carte Blanche” (2011).
William Boyd: “Solo” (2013).
Surgiu ainda um conjunto de obras da série “Young Bond”, escritas por Charlie Higson: “SilverFin” (2005), “Blood Fever” (2005), “Double or Die (2007), “Hurricane Gold” (2007), “By Royal Command” (2008), e "A Hard Man to Kill" (2009).

OO7 NO CINEMA
Os filmes de 007 foram produzidos inicialmente por Harry Saltzman e Albert Broccoli, detentores dos direitos cinematográficos de quase toda a obra já escrita por Ian Fleming e donos da produtora EON (Everything or Nothing). Em 1975, Saltzman abandonou a franquia. Desde 1995, os filmes são produzidos pela filha de Albert, Barbara Broccoli, e seu meio-irmão, Michael G. Wilson. Estes são considerados os filmes oficiais de James Bond.
Filmografia: 1962: Dr. No (007 - O Agente Secreto), de Terence Young , com Sean Connery; 1963: From Russia with Love (007 - Ordem para Matar), de Terence Young , com Sean Connery; 1964: Goldfinger (007 - Contra Goldfinger), de Guy Hamilton, com Sean Connery; 1965: Thunderball (007 - Operação Relâmpago), de Terence Young, com Sean Connery          ; 1967: You Only Live Twice (007 - Só se Vive Duas Vezes) de Lewis Gilbert, com Sean Connery; 1969: On Her Majesty's Secret Service (007 - Ao Serviço de Sua Majestade), de Peter R. Hunt, com George Lazenby; 1971: Diamonds Are Forever (007 - Os Diamantes são Eternos), de Guy Hamilton, com Sean Connery; 1973: Live and Let Die (007 - Vive e Deixa Morrer), de Guy Hamilton, com Roger Moore; 1974: The Man with the Golden Gun (007 - O Homem da Pistola Dourada), de Guy Hamilton, com Roger Moore; 1977: The Spy Who Loved Me (007 - Agente Irresistível), de Lewis Gilbert, com Roger Moore; 1979: Moonraker (007 - Aventura no Espaço), de Lewis Gilbert, com Roger Moore; 1981: For Your Eyes Only (007 - Missão Ultra-Secreta), de John Glen, com Roger Moore; 1983: Octopussy (007 - Operação Tentáculo), de John Glen, com Roger Moore; 1985: A View to a Kill (007 - Alvo em Movimento), de John Glen, com Roger Moore; 1987: The Living Daylights (007 - Risco Imediato), de John Glen, com Timothy Dalton; 1989: Licence to Kill (007 - Licença para Matar), de John Glen, com Timothy Dalton; 1995: GoldenEye (007 – GoldenEye),de Martin Campbell, com Pierce Brosnan; 1997: Tomorrow Never Dies (007 - O Amanhã Nunca Morre), de Roger Spottiswoode, com Pierce Brosnan; 1999: The World Is Not Enough (007 - O Mundo não Chega), de Michael Apted, com Pierce Brosnan; 2002: Die Another Day (007 - Morre Noutro Dia), de Lee Tamahori, com Pierce Brosnan; 2006: Casino Royale (007 - Casino Royale), de Martin Campbell, com Daniel Craig; 2008: Quantum of Solace (007 - Quantum of Solace), de Marc Forster, com Daniel Craig; 2012: Skyfall (007 – Skyfall), de Sam Mendes, com Daniel Craig; 2015: Bond 24, de Sam Mendes, com Daniel Craig (em preparação).
Filmes "não oficiais": 1954: Casino Royale (Casino Royale), de William H. Brown, Jr., com Barry Nelson (televisão); 1967: Casino Royale (007 - Casino Royale), de Ken Hughes, John Huston, Joseph McGrath, Robert Parrish, Val Guest e Richard Talmadge, com David Niven; 1983: Never Say Never Again (Nunca mais Digas Nunca), de Irvin Kershner,  com Sean Connery.

TERENCE YOUNG (1915–1994)
Stewart Terence Herbert Young nasceu a 20 de Junho de 1915, em Xangai, China, e viria a falecer a 7 de Setembro de 1994, com 79 anos, em Cannes, Alpes Marítimos, França. Foi educado numa escola pública britânica. Participou da 2ª Guerra Mundial, como comandante de tanque, intervindo na batalha de Arnhem, na Holanda, onde foi tratado por uma enfermeira de 16 anos, de nome Audrey Heenstra, mais tarde conhecida por Audrey Hepburn, e que ele ira dirigir, duas décadas depois, em “Os Olhos da Noite” (1967). Terence Young lançou-se na industria do cinema como argumentista. Rapidamente chegou à realização com o melodrama “Corridor of Mirrors” (1948), passando a dirigir produções internacionais, como “Os Primeiros a Morrer” (1953), “A Favorita do Rei (1955), ou “Sem Tempo para Morrer” (1958), produzidos pela Warwick Films, uma produtora independente criada por Irwin Allen e Albert R. Broccoli, que haveria de ser o produtor da série 007, pelo que Terence Young foi convidado a dirigir os primeiros filmes da saga. “007 - Agente Secreto” (1962), “007 - Ordem para Matar” (1963) e “007 - Operação Relâmpago” (1965) consolidam a sua reputação de bom técnico, especialista em filmes de acção. Nunca terá sido um grande realizador, mas assinou ainda algumas obras interessantes, como “A Vida Amorosa de Moll Flanders” (1965), “Os Olhos da Noite” (1967) ou “O Caso Valachi” (1972). Durante as filmagens de “007 - Ordem para Matar”, Terence Young e um fotógrafo quase morreram, quando o helicóptero caiu no mar durante as filmagens de uma cena. Resgatados por membros da equipe, continuaram as filmagens pouco tempo depois. Consta que terá rodado um longo documentário de seis horas, por solicitação do ditador Gadaffi da Libia, intitulado "The Long Journeys" ou "The Long Days". Outras fontes indicam que a encomenda terá sido uma telenovela biográfica. Parece que nunca terá sido projectado fora da Líbia. Casado com a romancista Dorothea Bennett e depois com Sabine Sun (1973 - 1994)

Filmografia
Como realizador
1946: Men of Arnhem, de Brian Desmond Hurst (B.D. Hurst) (T.Young refere que participou nestas fimagens); 1948: Corridor of Mirrors; One Night with You; 1949: Woman Hater; 1950: They Were Not Divided (Companheiros da Glória); 1951: Valley of Eagles (O Vale das Águias); \952: The Tall Headlines; 1953: The Red Beret (Os Primeiros a Morrer); 1955: That Lady (A Favorita do Rei); Storm Over the Nile (As Quatro Penas); 1956: Safari (Safari); Zarak (Zarak); 1957: Action of the Tiger (Uma aventura no Mediterrâneo); 1958: No Time to Die (Sem Tempo para Morrer); 1959: Serious Charge; 1960: 1-2-3-4 ou Les Collants Noirs; Too Hot to Handle; 1961: Orazi e Curiazi (Duelo de Gladiadores)¸1962: Dr. No (007 - Agente Secreto)¸1963: From Russia with Love (007 - Ordem para Matar)¸1965: The Amorous Adventures of Moll Flanders (A Vida Amorosa de Moll Flanders)¸1965: The Dirty Game (Guerra Secreta); Thunderball (007 - Operação Relâmpago); 1966: The Poppies Are Also Flowers (A Papoila Também é uma Flor); 1967: L'Avventuriero (O Marinheiro); Triple Cross (O Maior Espião da História); Wait Until Dark (Os Olhos da Noite); 1968: Mayerling (Mayerling); 1969: L'Arbre de Noël (Cada Dia Será Como Deus Quiser); 1970: De la Part des Copains (Desforra entre Amigos); 1971: Soleil rouge (Sol Vermelho); The Valachi Papers (O Caso Valachi); 1974: Le Guerriere dal Seno Nudo (As Amazonas); The Klansman (O Homem do Klan); 1975: Jackpot; 1977: Woo fook (A Fuga do Caça Soviético), co-realizado com Po-Chih Leong; 1979: Bloodline (Laços de Sangue); 1980: Al-ayyam al-tawila (não creditado, não confirmado); 1981: Inchon; 1983: The Jigsaw Man (O Grande Espião); 1988: Run for Your Life.

SEAN CONNERY (1930 - )
Thomas Sean Connery nsceu a 25 de Agosto de 1930, em Édimbourg, Escócia, Reino Unido. Filho de pai católico e mãe protestante, oriundo de meios pobres, Connery começou a trabalhar cedo, como leiteiro. Foi num musical, “South Pacific”, que teve a sua estreia no mundo do espectáculo, mas antes passou pela Marinha Real, foi motorista de caminhão e modelo no Colégio de Artes de Edimburgo. Participou num concurso para Mister Universo, após o que fez testes para teatro.  Durante alguns anos foi figurante e actor secundário no cinema, no teatro e na televisão, até que a sua sorte mudou, ao ser escolhido para encarnar a figura de James Bond, papel que o projectou como actor de renome internacional. Como 007 interpretou sete obras, “Dr No”, “From Russia with Love”, “Goldfinger”, “Thunderball”, “You Only Live Twice”, “Diamonds Are Forever” e “Never Say Never Again”. Depois a carreira ganhou um forte impulso, tendo trabalhado com grandes realizadores, como Alfred Hitchcock, John Huston, Richard Lester, Richard Attenborough, Steven Spielberg, Jean-Jacques Annaud, Martin Ritt, Philip Kaufman, Gus Van Saint, Brian De Palma, Ronald Neame, Peter Hyams, Guy Hamilton, Terry Gilliam, Richard Brooks, Fred Zinnemann, Irvin Kershner, Sidney Lumet, John McTiernan ou Fred Schepisi, entre outros.
Ganhou diversos prémiso ao longo da sua extesa carreira, entre os quais um Oscar para Melhor Actror Secundário, em 1988, para “The Untouchables” e um Globo de Ouro, na mesma categoria e pelo trabalho no mesmo filme. Em 1996, foi-lhe atribuído o prémio Cecil B. DeMille pelo conjunto da sua contribuição para a arte de representar. Ganhou o BAFTA para Melhor Actor em 1987, por “The Name of the Rose”.
Connery é um dos maiores apoiadores do Partido Nacional Escocês, que luta pela independência da Escócia, para o qual tem contribuído com imporantes somas. Casado com actriz australiana Diane Cilento (1962-1973) e com a artista franco-tunisiana Micheline Roquebrune (1975-até ao presente). Vive com a mulher em Nassau, nas Bahamas.

Filmografia
Como actor

1954: Lilacs in the Spring (Lilases na Primavera), de Herbert Wilcox (não creditado); Simon (curta-metragem); 1956: Sailor of Fortune (TV); Dixon of Dock Green (TV); 1956-1959: ITV Play of the Week (TV); 1957: The Jack Benny Program (TV); Hell Drivers (Na Rota do Inferno), de Cy Endfield; Action of the Tiger (Uma Aventura no Mediterrâneo), de Terence Young; Time Lock, de Gerald Thomas; ITV Television Playhouse (TV); Anna Christie (TV); BBC Sunday-Night Theatre (TV); Blood Money (TV); No Road Back, de Montgomery Tully; 1958: Another Time, Another Place (O Amor Que Roubei), de Lewis Allen; A Night to Remember (A Tragédia do Titanic), de Roy Ward Baker; Armchair Theatre (TV); Women in Love (TV); 1959: Disneyland (TV); Darby O'Gill and the Little People (O Senhor da Terra), de Robert Stevenson; Tarzan's Greatest Adventure (A Maior Aventura de Tarzan), de John Guillermin; 1960: Without the Grail (TV); An Age of Kings (TV); Riders to the Sea (TV); BBC Sunday-Night Play (TV); 1961: Macbeth (TV); Anna Karenina (TV); Adventure Story (TV); On the Fiddle, de Cyril Frankel; The Frightened City (A Cidade Ameaçada), de John Lemont; 1962: The Longest Day (O Dia Mais Longo), de Ken Annakin, Andrew Marton, Bernhard Wicki, Gerd Oswald e Darryl F. Zanuck; Dr. No (Agente Secreto, 007), de Terence Young; 1963: From Russia with Love (007, Ordem para Matar), de Terence Young; 1964: Marnie (Marnie), de Alfred Hitchcock; Woman of Straw (A Mulher de Palha), de Basil Dearden; Goldfinger ( 007 cotra Goldfinger), de Guy Hamilton; 1965: The Hill (A Colina Maldita),  de Sidney Lumet; Thunderball (007, Operação Relâmpago), de Terence Young; 1966: A Fine Madness (O Malandro Encantador), de Irvin Kershner; Un Monde Nouveau (Um Mundo Novo), de Vittorio De Sica (não creditado); 1967: You Only Live Twice (Só se Vive Duas Vezes), de Lewis Gilbert; 1968: Shalako (Shalako), de Edward Dmytryk; 1969: ITV Saturday Night Theatre (TV); Male of the Species (TV); 1970: The Molly Maguires (Os Homens Nascem Iguais), de Martin Ritt; 1971: Красная палатка, ou Krasnaya palatka, ou The Red Tent (A Grande Odisseia), de Mikhaïl Kalatozov; The Anderson Tapes (O Dossier Anderson), de Sidney Lumet; Diamonds Are Forever (007 - Os Diamantes São Eternos), de Guy Hamilton; 1972: España campo de golf, de Raúl Peña; 1973: The Offence (O Delito), de Sidney Lumet; Zardoz (Zardoz), de John Boorman; Ransom (Estado de Emergência), de Caspar Wrede; 1974: Murder on the Orient Express (Um Crime no Expresso do Oriente), de Sidney Lumet; 1975: The Man Who Would Be King (O Homem Que Queria Ser Rei), de John Huston; The Wind and the Lion (O Leão e o Vento), de John Milius; 1976: Robin and Marian (A Flecha e a Rosa), de Richard Lester; 1976: The Next Man, de Richard C. Sarafian; 1977: A Bridge Too Far (Uma Ponte Longe Demais), de Richard Attenborough; 1979: The First Great Train Robbery (O Grande Ataque ao Comboio do Ouro), de Michael Crichton; Cuba (Cuba), de Richard Lester; Meteor (Meteoro), de Ronald Neame; 1981: Outland (Outland - Atmosfera Zero), de Peter Hyams; Time Bandits (Os Ladrões do Tempo), de Terry Gilliam; 1982: Wrong Is Right (O Homem das Lentes Mortais), de Richard Brooks; Sword of the Valiant: The Legend of Sir Gawain and the Green Knight (A Espada dos Valentes), de Stephen Weeks; 1983: Five Days One Summer (Cinco Dias um Verão), de Fred Zinnemann; Never Say Never Again (Nunca Mais Digas Nunca), de Irvin Kershner; 1986: Der Name der Rose (O Nome da Rosa) de Jean-Jacques Annaud; Highlander (Duelo Imortal), de Russell Mulcahy; 1987: The Untouchables (Os Intocáveis), de Brian De Palma; 1988: The Presidio (A Hora dos Heróis), de Peter Hyams; Memories of Me (A Caminho da Califórnia), de Henry Winkler; 1989: Family Business (Negócios de Família), de Sidney Lumet; Indiana Jones and the Last Crusade (Indiana Jones e a Grande Cruzada), de Steven Spielberg; 1990: The Hunt for Red October (Caça ao Outubro Vermelho), de John McTiernan; 1991: Robin Hood: Prince of Thieves (Robin Hood: Príncipe dos Ladrões), de Kevin Reynolds; The Russia House (A Casa da Rússia), de Fred Schepisi; Highlander II: The Quickening (Duelo Imortal - Parte II), de Russell Mulcahy; 1992: Medicine Man (Os Últimos Dias do Paraíso), de John McTiernan; 1993: The Princess and the Cobbler (O Cavaleiro das Arábias), de Richard Williams (só voz); Rising Sun (Sol Nascente), de Philip Kaufman; 1994: A Good Man in Africa (Sarilhos em África), de Bruce Beresford; 1995: Just Cause (Causa Justa), de Arne Glimcher; First Knight (O Primeiro Cavaleiro), de Jerry Zucker; 1996: The Rock (O Rochedo), de Michael Bay; Dragonheart (DragonHeart: Coração de Dragão), de Rob Cohen; 1997: Scene by Scene (TV); 1998: The Avengers (Os Vingadores), de Jeremiah S. Chechik; Playing by Heart (Entre Estranhos e Amantes), de Willard Carroll; 1999: Entrapment (A Armadilha), de Jon Amiel; 2001: Finding Forrester (Descobrir Forrester), de Gus Van Sant; 2003: The League of Extraordinary Gentlemen (Liga de Cavalheiros Extraordinários), de Stephen Norrington; Freedom: A History of Us (documentário,TV); 2006: Sir Billi the Vet, de Sascha Hartmann (animação, voz); 2010: Sir Billi, de Sascha Hartmann (animação, voz). 

SESSÃO 21: 18 DE JUNHO DE 2014


OS INOCENTES (1961)

Sou um apaixonado por filmes fantásticos que vive muito decepcionado com o que nos reservam hoje o fantástico, o terror, o horror. O gore impera, as facadas, o sangue a escorrer, as tripas de fora, e nada de sugestões, tudo à mostra para ninguém ter que imaginar o que quer que seja. Ora um bom filme fantástico, ou excelente filme de terror não precisa de muita coisa, apenas de responsáveis inteligentes e talentosos. Quem viu “A Casa Maldita”, de Robert Wise, ou “Os Inocentes”, de Jack Clayton, percebe certamente ao que me refiro. Um bom filme deste género vive, sobretudo, de atmosferas, de climas, do que se não vê mas se intui, do silêncio perturbador, do ruído que inquieta, da presença que está mas não está, e que provoca aquele mal-estar no estômago que fazia com que eu, quando era jovem, e vinha para casa à noite, depois de um filme desses, visse todas as sombras a agigantarem-se, todos os ruídos a transformarem-se em pesadelos, e o melhor era mesmo correr para junto dos pais. Falo de quando era jovem, porque não fica bem falar de quando se é adulto e se sente as mesmas angústias.
“Os Inocentes” é seguramente uma obra-prima do cinema fantástico, retirado de uma obra-prima da literatura das sombras, esse fabuloso “The Turn of the Screw”, de Henry James, que o dramaturgo William Archibald adaptou a teatro (1950, Broadway), e que o mesmo, com a colaboração de Truman Capote (nos diálogos adicionais) e John Mortimer, colocou em cinema para o inspirado Jack Clayton dirigir magistralmente, com um elenco de quatro ou cinco actores, entre os quais a magnifica Deborah Kerr, e duas criancinhas, Martin Stephens e Pamela Franklin, de fazer arrepiar os cabelos.

“The Innocents” data de 1961 e traz a assinatura do mesmo cineasta que dirigiu “Room at the Top” que muitos colocam ao lado das obras iniciais do “Free Cinema”. Haverá quem possa pensar “que obras tão distantes, na concepção e nas intenções!” Um é de um realismo social e de uma provocante sensualidade, e o outro uma incursão pelo fantástico com o seu quê de análise de um puritanismo feroz. Pois não há nada de mais coerente e um parece ser o prolongamento do outro, ainda que em níveis diferentes. Um olhado de fora para dentro, o outro de dentro para fora.
Estamos no século XIX, numa Inglaterra vitoriana, e o filme começou com Miss Giddens (Deborah Kerr) a ser recebida por um tio (Michael Redgrave) de duas crianças, que procura uma ama para tomar conta dos miúdos que se encontram numa casa apalaçada, na província rural do Condado de Bly, lá para o interior da Grã-Bretanha. O tio é de um egoísmo extremo, mas também de uma honestidade frontal, vive em Londres, tem a sua vida e não está para se preocupar com Miles e Flora, dois jovens órfãos, que herdou, que quer ver bem tratados, mas que não quer ver por perto. Tem mais que fazer. O tio é um nobre muito british, endinheirado e bem-apessoado, que Miss Giddens acha obviamente atraente. A anterior ama, Jessel de seu nome, morrera e a senhora Giddens vai ocupar o seu lugar.

Mal chega à propriedade, percebe que a vasta casa é dirigida por uma governanta, Miss Grose, que mantém ainda um ou dois criados, e aí vive apenas a pequena Flora, dado que o irmão desta, Miles, se encontra interno num colégio. Mas Flora avisa logo que o irmão está a regressar pois foi expulso do internato. Pouco depois, este aparece e começam a acontecer coisas estranhas naquela casa. Pelo menos assim o diz Miss Giddens, que se convence que a anterior Miss Jessel e um outro antigo criado da casa, Peter Quint, mantinham relações de muito duvidosa moral, para lá de ambos terem igualmente morrido em circunstâncias estranhas. Este casal de fantasmas começa a assolar os sonhos de Giddens e esta descobre que as crianças estão possuídas pelas almas danadas daqueles pecadores que estão a destruir a pureza dos dois anjinhos. Ou será que a traumatizada Miss Giddens projecta nas criancinhas as suas frustrações e medos?
Existe terror naquela casa, existe pecado a escorrer por aquelas paredes antigas, ou tudo não passa de uma visão interior da amargurada Miss Giddens, que não tendo alguém como o sedutor e snob tio para tratar de si, começa a imaginar pecado e vício um pouco por todo o lado? As aparições de Jessel e Peter Quint são reais ou apenas existem na imaginação doentia da perturbada ama? O que é mais intrigante no filme é essa incerteza latente que oscila entre uma história de fantasmas ou um conflito freudiano de uma sexualidade mal resolvida.

Rodado numa magnífica mansão gótica localizada em Parque Sheffield, East Sussex, fotografado de forma notável por Freddie Francis, que retira do preto e branco uma tonalidade de cinzentos impressionante e que ilumina as imagens de forma deslumbrante, enquadrando-as primorosamente e logrando uma profundidade de campo invulgar, “Os Inocentes” conta ainda com uma banda sonora de efeito surpreendente, que coloca a obra entre os melhores momentos da história do cinema de terror de todos os tempos. Digo-o eu e diz Martin Scorsese, que coloca o título entre os 10 melhores de sempre no género, segundo o seu critério.
"O Willow Waly", a canção infantil ouvida ao longo do filme, foi escrita por Georges Auric e Paul Dehn, e é cantada por Isla Cameron. Mais tarde serviria de inspiração a Kate Bush, para o tema "The Infant Kiss", canção do álbum “Never for Ever” (1980).

OS INOCENTES
Título original: The Innocents
Realização: Jack Clayton (Inglaterra, EUA, 1961); Argumento: John Mortimer, William Archibald, Truman Capote, segundo romance de Henry James ("The Turn of the Screw"); Produção: Jack Clayton, Albert Fennell; Música: Georges Auric; Fotografia (p/b): Freddie Francis; Montagem: Jim Clark; Direcção artística: Wilfred Shingleton; Guarda-roupa:  Sophie Devine; Maquilhagem: Gordon Bond, Harold Fletcher; Direcção de Produção: James H. Ware, Claude Watson; Assistentes de realização: Michael Birkett, Ken Softley, Claude Watson; Departamento de arte: Peter James; Som: Buster Ambler, John Cox, Peter Musgrave, Ken Ritchie; Companhias de produção: Achilles, Twentieth Century Fox Film Corporation; Intérpretes: Deborah Kerr (Miss Giddens), Peter Wyngarde (Peter Quint), Megs Jenkins (Mrs. Grose), Michael Redgrave (o tio), Martin Stephens (Miles), Pamela Franklin (Flora), Clytie Jessop (Miss Jessel), Isla Cameron (Anna), Eric Woodburn, etc. Duração: 100 minutos; Distribuição em Portugal: Costa do Castelo; Classificação etária: M/ 12 anos.

HENRY JAMES (1843–1916)
Henry James nasceu em Nova Iorque, a 15 de Abril de 1843, vindo a falecer em Londres, a 28 de Fevereiro de 1916. Filho do teólogo Henry James Senior, um homem culto, filósofo, que fazia questão que os filhos recebessem uma boa educação. Viajou com a família para a Europa, em 1855, quando Henry tinha 12 anos, e durante três anos percorreram Inglaterra, Suíça e França, visitando museus, bibliotecas e teatros. Regressaram aos EUA em 1858, para voltarem de novo a Genebra e Bona no ano seguinte. Em 1860, já estavam de volta a Newport, onde Henry e William James, o irmão mais velho que se tornaria psicólogo e filósofo, estudaram com o pintor William Morris Hunt. Henry estudou direito em Harvard, em 1862. Mais interessado na leitura de Balzac, Hawthorne e George Sand e nas relações com intelectuais como Charles Eliot Norton e William Dean Howels, abandonou o curso para se dedicar à literatura. No início de 1869, foi a Inglaterra, Suíça, Itália e França, países que lhe forneceriam uma grande quantidade de material para suas obras. Regressou a Cambridge em 1875. Viveu um ano em Paris, onde conheceu o círculo de Flaubert (Daudet, Maupassant, Zola) e, em 1876, fixou-se em Londres, onde escreveu a maior parte de sua extensa obra. A carreira literária de Henry James teve três etapas. A primeira foi na década de 1870, com "Roderick Hudson" (1876), "The American" (1877) e "Daisy Miller" (1879) e culminou com a publicação de "Retrato de Uma Senhora", em 1881, cujo tema é o confronto entre o novo mundo com os valores do velho continente. Na segunda etapa, James experimentou diversos temas e formas. De 1885 até 1890, escreveu três novelas de conteúdo político e social, "The Bostonians" (1886), "The Princess Casamassima" (1886) e "The Tragic Muse" (1889), histórias sobre reformadores e revolucionários que revelam a influência da corrente naturalista. Entre 1890 e 1895, "os anos dramáticos", James escreveu sete obras de teatro, das quais duas foram encenadas, com pouco êxito. James voltou à narrativa com "A Morte do Leão" (1894), "The Coxon Fund" (1894), "The Next Time" (1895), "What Maisie Knew" (1897) e " The Turn of the Screw " (1898). "The Beast in the Jungle" (1903), "The Great Good Place" (1900) e "The Jolly Corner" (1909) fazem parte da última etapa do trabalho de James, considerada por muitos como a mais importante, quando o autor explora o complexo funcionamento da consciência humana. A prosa torna-se mais densa, com uma sintaxe mais intrincada. Essas características definem as três grandes obras dessa etapa final, " The Wings of the Dove " (1902), " The Ambassadors " (1903) e " The Golden Bowl " (1904).
Além dos romances, contos, peças de teatro, deixou inúmeros ensaios sobre viagens, críticas literárias, cartas, e três obras autobiográficas. Os últimos anos da sua vida transcorreram em absoluto isolamento, na sua casa, que só deixou em 1904 para regressar momentaneamente aos Estados Unidos, depois de vinte anos de ausência. Em 1915, durante a I Guerra Mundial, Henry James adoptou a cidadania britânica. Morreu aos 72 anos, pouco depois de receber a Ordem do Mérito Britânica.

Obras de Henry James: Romances: “Watch and Ward” (1871), “Roderick Hudson” (1875), “The American” (1877), “The Europeans” (1878), “Confidence” (1879), “Washington Square” (1880), “The Portrait of a Lady” (1881), “The Bostonians” (1886), “The Princess Casamassima” (1886), “The Reverberator” (1888), “The Tragic Muse” (1890), “The Other House” (1896), “The Spoils of Poynton” (1897), “What Maisie Knew” (1897), “The Awkward Age” (1899), “The Sacred Fount” (1901), “The Wings of the Dove” (1902), “The Ambassadors” (1903), “The Golden Bowl” (1904), “The Whole Family” (1908), “The Outcry” (1911), “The Ivory Tower” (1917), “The Sense of the Past” (1917);
Novelas: “Daisy Miller” (1878), “The Aspern Papers” (1888), “The Turn of the Screw” (1898), “The Beast in the Jungle” (1903)
Peças de Teatro: “Theatricals” (1894), “Theatricals: Second Series” (1895), “Guy Domville” (1895);
Ensaio: “French Poets and Novelists” (1878), “Hawthorne” (1879), “A Little Tour in France” (1884), “Partial Portraits” (1888), “Essays in London and Elsewhere” (1893), “Picture and Text” (1893), “William Wetmore Story and His Friends” (1903), “English Hours” (1905), “The American Scene” (1907), “Italian Hours” (1909), “A Small Boy and Others” (1913), “Notes on Novelists” (1914), “Notes of a Son and Brother” (1914), “Notebooks The Middle Years” (1917).


Adaptações cinematográficas de obras de Henry James (selecção das mais importantes): 1933: “Berkeley Square”, de Frank Lloyd; 1947: “The Lost Moment”, de Martin Gabel;1949: “The Heiress”, de William Wyler; 1961: “The Innocents”, de Jack Clayton; 1965: “La Redevance du Fantôme”, de Robert Enrico; 1971: “The Nightcomers”, de Michaël Winner; 1974: “Daisy Miller”, de Peter Bogdanovich; “Le Tour d'Écrou”, de Raymond Rouleau; 1976: “Le Banc de la Désolation”, de Claude Chabrol; “De Grey”, de Claude Chabrol, “L'Auteur de Beltraffio”, de Tony Scott; “Les Raisons de Georgina”, de Volker Schlöndorff; 1978: “La Chambre Verte”, de François Truffaut; “The Europeans”, de James Ivory; 1981: “Les Ailes de la Colombe”, de Benoît Jacquot; 1982: “Aspern”, de Eduardo de Gregorio; 1984: “The Bostonians”,  de James Ivory; 1996: “The Portrait of a Lady”, de Jane Campion; “L'Élève”, de Olivier Schatzky; 1997: “Washington Square, de Agnieszka Holland; “Les Ailes de la Colombe”, de Iain Softley; 2000: “The Golden Bowl”, de James Ivory; 2012: “What Maisie Knew, de Scott McGehee e David Siegel.

SESSÃO 20: 17 DE JUNHO DE 2014


UMA GOTA DE MEL (1961)

“A Taste of Honey”, filme de 1961, assinado por Tony Richardson, adapta uma peça teatral das mais célebres entre as que saíram do movimento dos “Angry Young Men”. Apesar da designação do movimento, Shelagh Delaney é uma mulher que escreveu esta peça quando tinha apenas 18 anos, tendo a mesma sido estreada em 1958, com enorme sucesso.
A peça e o filme passam-se em Salford, Lancashire, terra natal da dramaturga, e chama a primeiro plano um grupo de personagens nada habitual de se ver no cinema inglês dos anos anteriores. Jo (Rita Tushingham) é uma jovem estudante, sem pai que se veja e a viver com uma mãe (Dora Bryan) que a deixa à solta e se vai entretendo com alguns homens que a convencem que não está a envelhecer. Entre eles, Peter Smith (Robert Stephens), que acaba mesmo por casar com Helen, o que deixa a filha desta ainda mais à deriva. Depois de uma história de uma noite, com um marinheiro de cor, Jo engravida, e só encontra conforto na companhia de Geoffrey Ingham (Murray Melvin), um jovem homossexual, delicado e sensível, que a acolhe e acarinha.
Esta sucinta resenha permite desde logo mostrar a originalidade e a novidade, algo provocadora, de “Uma Gota de Mel”. Famílias que hoje em dia se diriam disfuncionais, mães e pais separados, filhas deixadas ao Deus dará, relações sexuais pré-matrimoniais, gravidez solteira, abordagem do tema do aborto, homossexualidade, enfim… um verdadeiro relatório de temas tabus. De atmosferas sociais que se diriam pouco apetecíveis em cinema, de personagens proibidas e, sobretudo, uma abordagem sem artificialismo, desencantada, para não se dizer mesmo desesperada. Estas figuras evoluem por cenários totalmente desromantizados, a juventude não é observada como um tempo de esperança e de futuro, o amor quando existe é preconceituosamente olhado de revés, a candura e a inocência são maltratadas, o calculismo pragmático parece tomar conta das relações dos adultos… Este não é um universo apetecível e, todavia, Tony Richardson apresenta-no-lo com uma sinceridade e autenticidade tocantes. Filmes como estes rasgam uma cortina perante os olhos dos espectadores ingleses (e mundiais), revelando realidades escondidas, personagens esquecidas, rostos banais, mas de uma formosura inatacável. Rita Tushingham, por exemplo, é uma revelação espantosa, sem a beleza arquétipa das “actrizes de cinema”, ela é uma rapariga retirada da rua, sem retoque nem maquilhagem, mas densa, difícil de arquivar num estereótipo tradicional, multifacetada, viva. O mesmo se pode dizer de Murray Melvin, que compõe um dos mais apaixonantes retratos de homossexuais de toda a história do cinema, jogando com um rigor e uma austeridade de processos invulgares.
Esta evocação dos anos 60 em Lancashire, nas margens do rio Irwell, é mais uma aprendizagem da vida, a dolorosa entrada na maturidade, com tudo o que isso representa de dor e de desilusão, mas igualmente com a descoberta de algumas alegrias. “A Taste Of Honey” é, por outro lado, um típico exemplo do “kitchen sink drama” que chama a atenção para vidas marginalizadas, complexas, bastante afastadas dos dramas habituais da burguesia bem instalada na vida.

UMA GOTA DE MEL
Título original: A Taste of Honey
Realização: Tony Richardson (Inglaterra, 1961); Argumento: Tony Richardson, Shelagh Delaney, segundo peça teatral desta última; Produção: Tony Richardson; Música: John Addison; Fotografia (p/b): Walter Lassally; Montagem: Antony Gibbs; Direcção artística: Ralph W. Brinton; Guarda-roupa: Sophie Devine, Barbara Gillett; Maquilhagem: George Frost, Bill Griffiths; Direcção de Produção: Leigh Aman, Roy Millichip; Assistentes de realização: Peter Yates; Departamento de arte: Ted Marshall;  Som: Don Challis, Roy Hyde, Charles Poulton; Companhia de produção: Woodfall Film Productions; Intérpretes: Dora Bryan (Helen), Robert Stephens (Peter Smith), Rita Tushingham (Jo), Murray Melvin (Geoffrey Ingham), Paul Danquah (Jimmy), Michael Bilton, Eunice Black, David Boliver, Margo Cunningham, A. Goodman. John Harrison, Veronica Howard, Moira Kaye, Graham Roberts, Valerie Scarden, Rosalie Scase, Herbert Smith, Jack Yarker, Hazel Blears, Linda Lewis, Janet Rugg, etc. Duração: 100 minutos; Distribuição em Portugal (DVD): Edivisa; Classificação etária: M/ 12 anos.

RITA TUSHINGHAM (1942 - )
Rita Tushingham nasceu a 14 de Março de 1942, em Garston, Liverpool, Lancashire, Inglaterra. Estudou numa escola religiosa, La Sagesse, em Liverpool, cidade onde haveria de se estrear no teatro, na Liverpool Playhouse. Já como profissional apareceu em inúmeras peças de teatro durante a década de 60, na English Stage Company, no Royal Court Theatre: “The Changeling” (1961), “The Kitchen” (1961), “A Midsummer Night's Dream” (1962), “Twelfth Night” (1962), ou “The Knack” (1962). Descoberta por Tony Richardson, que a estreou no cinema, em “A Taste of Honey”, em 1961, uma adaptação da peça teatral de Shelagh Delaney, uma das mais características do “kitchen sink drama”. Esta obra ganharia diversos prémios nos British Film Awards, entre os quais o de Melhor Actriz Revelação. Tushingham tornou-se rapidamente um dos símbolos do “Free Cinema” e lançar-se-ia numa carreira que reuniu títulos marcantes: “Girl with Green Eyes” (1963), “The Leather Boys” (1964),”The Knack …and How to Get It” (1965), “Doctor Zhivago” (1965), “The Trap” (1966), “Smashing Time” (1967), “The Bed Sitting Room” (1969) ou “The 'Human' Factor” (1975), “Being Julia” (2004).
Casada com o fotógrafo Terry Bicknell (1962 - ?), de quem teve duas filhas, Dodonna Bicknell e Aisha Bicknell. Esta última esteve muito doente com cancro, em 2005, quando tinha 33 anos, mas salvou-se, o que levou mãe e filha a participarem, a partir daí, em campanhas de sensibilização sobre o cancro, tornando-se activistas. Divorciada, casaria com o director de fotografia iraquiano Ousama Rawi (? - 1996), indo viver para o Canadá durante uma longa temporada. Em finais dos anos 90, passou a dividir-se entre Londres e a Alemanha, onde vive com o escritor Hans-Heinrich Ziemann.

Filmografia
Como actriz
1961: A Taste of Honey (Uma Gota de Mel), de Tony Richardson; 1963: A Place to Go, de Basil Dearden; 1964: The Leather Boys, de Sidney J. Furie; Girl with Green Eyes, de Desmond Davis; The Human Jungle (TV); 1965: The Knack ...and How to Get It (Lições de Sedução), de Richard Lester; Doctor Zhivago (Doutor Jivago), de David Lean; 1966: The Trap (A Armadilha), de Sidney Hayers; 1967: Smashing Time  (Duas Raparigas em Londres), de  Desmond Davis; 1968: Diamonds for Breakfast (Diamantes ao Pequeno - Almoço), de Christopher Morahan;  1969: The Guru, de James Ivory; The Bed Sitting Room (O Quarto-sala), de Richard Lester; 1972: Straight on Till Morning (Até ao Amanhecer), de Peter Collinson; 1973: Situation, de  Peter Patzak; Where Do You Go from Here?; Armchair Theatre (TV); 1974: Rachel's Man, de Moshé Mizrahi; No Strings (TV); Comedy Playhouse (TV); Fischia il sesso, de Gian Luigi Polidoro; 1975: The 'Human' Factor, de Edward Dmytryk; 1976: Ragazzo di Borgata, de Giulio Paradisi; 1977: Gran Bollito, de Mauro Bolognini; Pane, Burro e Marmellata, de Giorgio Capitani; Green Eyes (TV); 1978: Mysteries (O Visitante Misterioso), de Paul de Lussanet; 1980: Lady Killers (TV); 1982: Spaghetti House, de Giulio Paradisi; Bekenntnisse des Hochstaplers Felix Krull (TV); 1984: Seeing Things (TV); 1985: ABC Weekend Specials (TV); 1986: A Judgment in Stone, de Ousama Rawi; Flying (A Campeã), de Paul Lynch; 1988: The Legendary Life of Ernest Hemingway, de José María Sánchez; Bread (TV); 1989: Hard Days, Hard Nights, de Horst Königstein; Resurrected, de Paul Greengrass; 1990: Sunday Pursuit (Perseguição de Domingo), de Mai Zetterling (curta-metragem); 1991: Dieter Gütt - ein Journalist (TV); 1992: A Csalás gyönyöre, de Lívia Gyarmathy; Papierowe malzenstwo, de Krzysztof Lang; Hamburger Gift (TV); 1994: Gospel According to Harry, de Lech Majewski; 1995: An Awfully Big Adventure, de Mike Newell; 1996: The Boy from Mercury, de Martin Duffy; 1997: Under the Skin, de Carine Adler; 1998: Nächte mit Joan (TV); 1999: Swing, de Nick Mead; 2000: Out of Depth, de Simon Marshall; Home Ground, de Jonathan Haren (curta-metragem); 2002: The Stretford Wives (TV); Helen West (TV); 2003: Life Beyond the Box (TV); 2004: Being Julia (As Paixões de Júlia), de István Szabó; 2005: Loneliness and the Modern Pentathlon, de Daria Martin (curta-metragem); New Tricks (TV); 2006: Angel Cake (TV); Agatha Christie's Marple (TV); 2007: Puffball (Filhos do Oculto), de Nicolas Roeg; Il Nascondiglio, de Pupi Avati; 2008: Come Here Today, de Simon Aboud (curta-metragem); Broken Lines, de Sallie Aprahamian; Telstar, de Nick Moran; Sight Test, de Joseph Knowles (curta-metragem); 2009: The Calling, de Jan Dunn; 2011: Seamonsters, de Julian Kerridge; Bedlam (TV); 2012: Outside Bet, de Sacha Bennett; 2013: The Wee Man, de Ray Burdis.

SHELAGH DELANEY 
(1938-2011)
Shelagh Delaney nasceu a 25 de Novembro de 1938, em Broughton, Salford, Lancashire, Inglaterra, tendo falecido a 20 de Novembro de 2011, em Suffolk, Inglaterra, com 72 anos, vítima de cancro. A família tinha ascendência irlandesa, o pai era controlador de bilhetes nos autocarros. Estudou na Broughton Secondary Modern School. Interessa-se por teatro desde muito nova. Um dia vê a peça de Terence Rattigan, “Variations on a Theme”, na Manchester's Opera House, e acha que é capaz de fazer melhor. Sobretudo no que diz respeito à descrição das personagens homossexuais e femininas. Escreve em duas semanas a sua primeira peça, “A Taste of Honey”, que é aceite por Joan Littlewood no seu Theatre Workshop. É desde logo ligada ao movimento “Kitchen sink realism” e igualmente aos “Angry Young Men”, designação que nunca aceita e que afirma detestar.
A primeira representação de “A Taste of Honey”, que decorre na sua terra natal, Salford, acontece a 27 de Maio de 1958, passando depois ao West End, onde se prolonga por 368 representações, a partir de Janeiro de 1959. Mais tarde, em 1960, estreia-se na Broadway, com encenação de Tony Richardson e interpretação de Joan Plowright e Angela Lansbury. É considerada a peça mais representada de uma escritora inglesa do pós-guerra.  Em 1961, escreve, conjuntamente com Tony Richardsono argumento cinematográfico de “Uma Gota de Mel”, com o qual ganhou os prémios de Melhor Argumento dos BAFTA e do Writers' Guild of Great Britain Award em 1962. Delaney escreveu ainda outros argumentos para cinema: “The White Bus”, “Charlie Bubbles” (ambos em 1967) e “Dance with a Stranger” (1985). Ciou igualmente peças para rádio: “Tell Me a Film” (2003), “Country Life” (2004) e ainda “Whoopi Goldberg's Country Life (2010). “Sweetly Sings the Donkey”, uma colecção de contos, é editada em 1963. Shelagh Delaney, e sobretudo a sua peça “A Taste of Honey”, teve uma grande influência na música do seu tempo, nomeadamente em The Smiths e Morrissey. Mas a canção do mesmo nome foi composta por Bobby Scott e Ric Marlow, havendo depois várias versões, entre as quais o cover instrumental de Herb Alpert and the Tijuana Brass, ou a versão, de 1964, cantada por Tony Bennett. Um ano antes, os Beatles lançaram o álbum “Please Please Me”, onde aparecia o tema, produzido por George Martin e cantado por Paul McCartney.
Principais peças de teatro: “A Taste of Honey”, “The Lion in Love” (1960), “The White Bus”, “Charlie Bubbles”, “Dance With a Stranger”.

A relação de Shelagh Delaney, com o cinema e a televisão foi muito intensa. Para lá da versão de “Uma Gota de Mel”, assinada por Tony Richardson (1961), há a assinalar, além de algumas outras adaptações para televisão, "Charlie Bubbles" (Um Homem e a Sua História), de Albert Finney (1967), com Albert Finney, Colin Blakely e Billie Whitelaw, “The White Bus”, de  Lindsay Anderson (1967), "Dance with a Stranger" (Dança Fatal), de Mike Newell (1985), com  Miranda Richardson, Rupert Everett e Ian Holm, ou “Three Days in August”, de Jan Jung (1992), uma co-produção russa-norte-americana. Em Portugal, Artur Ramos, em 1994, dirigiu uma versão televisiva de “Um Sabor a Mel”, com base numa encenação de João Lourenço, com Irene Cruz, Cristina Carvalhal, Rogério Samora, Miguel Hurst, André Maia, Paulo Curado e Melim Teixeira.