domingo, 19 de outubro de 2014

SESSÃO 52: 28 DE OUTUBRO DE 2014


SENSIBILIDADE E BOM SENSO (1995)

“Sense and Sensibility” foi o primeiro romance escrito por Jane Austen, uma das mais conceituadas escritoras de língua inglesa, que viveu entre o século XVIII e o século XIX. A obra terá sido escrita alguns anos antes, mas só apareceu editada em 1811, ainda sem referência de autoria. Assinava-o “A Lady”. Só mais tarde Jane Austen assumiu a “maternidade”. O livro é magnífico como descrição de uma época, com personagens notáveis e situações de uma enorme subtileza e acuidade de observação. 
Como em alguns outros romances que tem por tema casas senhorias inglesas em ambientes rurais (por exemplo “O Regresso a Howards End”, de E. M. Forster, muito posterior na escrita, mas muito semelhante nalguns aspectos),  “Sensibilidade e Bom Senso” aborda uma questão de partilhas, por morte do Mr. Dashwood (Tom Wilkinson), que por tradição na época, deixa a herança ao filho (sobretudo a sua casa Norland Park) com a recomendação do mesmo assegurar a sobrevivência das três filhas de um segundo casamento, Elinor (Emma Thompson), Marianne (Kate Winslet) e Margaret (Emilie François),  bem assim como da sua mulher. 

Mas, desaparecido o patrono, John, o único filho, de conluio com a viperina mulher, tratam de esquecer as recomendações paternas e exilam a Senhora Dashwood e as suas filhas para bem longe, habitando uma casa muito mais simples e com reduzidos recursos para viver. Claro que toda esta trama de cariz social está bem impregnada no desenrolar da obra que todavia faz oscilar o seu centro de acção para uma análise do comportamento das irmãs Elinor e Marianne, cada uma delas com reacções muito diversas perante as circunstancias que enfrenta. Elinor é mais racional, fazendo imperar o bom senso, Mariane é sobretudo emotiva e passional. Mas cada uma delas, depois de passar por diversas provas, acaba por encontrar o seu equilíbrio, tanto emocional como racional.
Como quase todas as obras literárias de Jane Austen, “Sensibilidade e Bom Senso” já conheceu algumas adaptações ao cinema e à televisão. Rodney Bennett, em 1981, realizou uma mini-série para televisão de certa qualidade, e John Alexander, já em 2008 também teve bons resultados para a sua versão na BBC. Mas este “Sense and Sensibility”, de 1995, adaptado e interpretado por Emma Thompson e dirigido por Ang Lee para cinema, será seguramente o melhor exemplo de uma cuidada adaptação, onde todos os valores se produção se encontram salvaguardados, através de uma excelente reconstituição de época, cuidada e sem  ostentação inútil, uma fotografia magnífica, uma montagem descritiva e serena, adaptada ao espírito da época e do local, e uma notável interpretação de todo o elenco, com particular relevo para Emma Thompson.

Não será dos melhores filme de Ann Lee (preferimos-lhe, por exemplo, “O Tigre e o Dragão”,  “O Segredo de Brokeback Mountain” ou o pouco conhecido “Sedução, Conspiração”), mas mostra-se um bom exemplo do que tradicionalmente se chama certa “qualidade britânica”.

SENSIBILIDADE E BOM SENSO
Título original: Sense and Sensibility
Realização: Ang Lee (Inglaterra, EUA, 1995); Argumento: Emma Thompson, segundo romance de Jane Austen; Produção: Laurie Borg, Lindsay Doran, Sydney Pollack, James Schamus, Geoff Stier; Música: Patrick Doyle; Fotografia (cor): Michael Coulter; Montagem: Tim Squyres; Casting: Michelle Guish; Design de produção: Luciana Arrighi; Direcção artística: Philip Elton, Andrew Sanders; Decoração: Ian Whittaker; Guarda-roupa:  Jenny Beavan, John Bright; Maquilhagem: Jan Archibald, Morag Ross; Direcção de Produção: Anthony Bregman; Assistentes de realização: Christopher Newman, Bernard Bellew, Ben Howarth, Keith Young, Mick Ward;  Departamento de arte: Jack Carter, Stan Cook, Gill Ducker, Robert Harper, John Hedges, Mark White; Som: Tony Dawe, Chris Gurney, Steve Hamilton, Thomas O'Shea; Efeitos especiais: Jeff Clifford, Ricky Farns; Efeitos visuais: Randall Balsmeyer; Companhias de produção: Columbia Pictures Corporation, Mirage Enterprises; Intérpretes: James Fleet (John Dashwood), Tom Wilkinson (Mr. Dashwood), Harriet Walter (Fanny Ferrars Dashwood), Kate Winslet (Marianne Dashwood), Emma Thompson (Elinor Dashwood), Gemma Jones (Mrs. Dashwood), Hugh Grant (Edward Ferrars), Emilie François (Margaret Dashwood), Elizabeth Spriggs (Mrs. Jennings), Robert Hardy (Sir John Middleton), Ian Brimble (Thomas), Isabelle Amyes (Betsy), Alan Rickman (Coronel Christopher Brandon), Greg Wise (John Willoughby), Alexander John, Imelda Staunton, Imogen Stubbs, Hugh Laurie, Allan Mitchell, Josephine Gradwell, Richard Lumsden, Lone Vidahl, Oliver Ford Davies, Eleanor McCready, Lindsay Doran, etc. Duração: 136 minutos; Distribuição em Portugal: Columbia Filmes; Classificação etária: M/ 12 anos; Data de estreia em Portugal: 8 de Março de 1996. 


 
ANG LEE (1954 - )
Ang Lee nasceu a 23 de Outubro de 1954, em Pingtung, Taiwan, República da China ou China Nacionalista. Estudou no National Taiwan College of Arts, passando depois a viver nos EUA, onde estudou realização na Universidade de Illinois e produção cinematográfica em Nova Iorque. Foi assistente de realização de Spike Lee. Em 1992 estreou-se na longa-metragem  com m com "Pushing Hands", a que se seguiram duas obras que cimentaram a sua carreira, "O Banquete de Casamento" (Urso de Ouro no Festival de Berlim, Melhor Realização no Festival de Seattle, nomeado para os Golden Globe Awards) e " Comer, Beber, Homem, Mulher" (nomeado para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro). "Sensibilidade e Bom Senso", primeira superprodução internacional, foi nomeado para os Oscars de Melhor Filme e Melhor Argumento Adaptado. Ganha o BAFTA de Melhor Filme e o Urso de Ouro de Berlim. Em 2000, com "O Tigre e o Dragão", ganha dois Globos de Ouro e é ovacionado no Festival de Cannes. Adapta "Hulk", curiosa versão dos Marvel Comics, mas em 200,5 com "O Segredo de Brokeback Mountain", recebe o Oscar e o Globo de Ouro por seu trabalho. Volta a ganhar o Oscar com “A Vida de Pi”, em 2013. Casado com Jane Lin (desde 1983).

Filmografia:
Como realizador: 1992: Pushing Hands ou Tui shou; 1993: The Wedding Banquet ou Hsi yen (O Banquete de Casamento); 1994: Yin shi nan nu ou Eat Drink Man Woman (Comer, Beber, Homem, Mulher); 1995: Sense and Sensibility (Sensibilidade e Bom Senso); 1997: The Ice Storm (A Tempestade de Gelo); 2000: Wo hu Zang Llong ou Crouching Tiger, Hidden Dragon (O Tigre e o Dragão); 2001: The Hire: Chosen (curta-metragem); 1991-2001: Ride with the Devil (Cavalgando com o Diabo); 2003: Hulk (Hulk); 2005: Brokeback Mountain (O Segredo de Brokeback Mountain); 2007: Lust, Caution (Sedução, Conspiração), 2009: Taking Woodstock; 2012: Life of Pi (A Vida de Pi).

EMMA THOMPSON (1959 - )
Nasceu a 15 de Abril de 1959, em Paddington, Londres, Inglaterra. Oriunda de uma família de actores, o pai era Eric Thompson, a mãe Phyllida Law, a irmã Sophie Thompson, todos actores como ela. Estudou na Universidade de Cambridge Literatura Inglesa e fez parte do  Footlights Group, um grupo uiversitário onde muitos dos membros dos Monty Python se encontraram. Formada em 1980 iniciou a carreira na radio BBC, depois na televisão. Foi na BBC que se cruzou com Kenneth Branagh, durante a rodagem da minisérie Fortunes of War (1987). Emma ganhou umBAFTA pelo seu trabalho e ambos casaram em  1989, continuando a trabalhar em conjunto. “Regresso a Howards End” (1992) marcou a sua carreira, a partir daí repleta de sucessos, prémios e distinções, não só actriz, mas também como argumentista (a sua adaptação de “sensibilidade e Bom Senso” é um bom exemplo”). Diverciada de Kenneth Branagh em 1995, casou com Greg Wise (2003 – até ao presente).
jane.com". A revista inglesa “Empire” coloca-a em 91º lugar na lista "The Top 100 Movie Stars of All Time". ( 1997). Asua interpretação de Miss Kenton em Os Despojos do Dia (1993) está colocada em 52º lugar na lista da revista “Premiere” “100 Greatest Performances of All Time” (2006). Ganhou dois Oscars, um em “Regresso a Howards End” (1992), como actriz, outro em “Sensibilidade e Bom Senso” (1995), como argumentista. Possui um Estrela no Hollywood Walk of Fame junto ao nº 6714 em Hollywood Boulevard (2010). Até 2014, tinha integrado o elenco de cinco filmes nomeados para Melhor Filme do Ano: “Regresso a Howards End” (1992), “Em Nome do Pai” (1993), “Os Despojos do Dia” (1993), “Sensibilidade e Bom Senso” (1995) e “Uma Outra Educação” (2009).

Filmografia
Como actriz: 1982:  Cambridge Footlights Revue, de John Kilby (TV);  There's Nothing to Worry About! (TV); 1983:  The Crystal Cube, de John Kilby; 1983-1984:  Alfresco (TV); 1984:  The Comic Strip Presents... (TV); 1984:  The Young Ones (TV); 1985:  Assaulted Nuts (TV); Emma Thompson: Up for Grabs (TV); 1987:  Tutti Frutti (TV); Fortunes of War (TV); 1988: Thompson (TV); 1989:  Look Back in Anger (TV) de Judi Dench; 1989:  The Tall Guy (Os Homens Medem-se aos Palmos), de Mel Smith; 1989:  Theatre Night (série TV); Henry V (Henrique V), de Kenneth Branagh; 1991:  Impromptu, de James Lapine; Dead Again (Viver de Novo), de Kenneth Branagh; 1992:  Cheers, Aquele Bar (TV); Retour à Howards End (Regresso a Howards End), de James Ivory; Peter's Friends (Os Amigos de Peter), de Kenneth Branagh; 1993:  Much Ado About Nothing (Muito Barulho por Nada), de Kenneth Branagh; The Remains of the Day (Os Despojos do Dia), de James Ivory; 1994: In the Name of the Father (Em Nome do Pai), de Jim Sheridan; My Father the Hero (Meu Pai, o Herói), de Steve Miner; The Blue Boy, de Paul Murton (TV); 1994:  Junior (Junior), de Ivan Reitman; 1995:  Carrington (Carrington), de Christopher Hampton; Sense and Sensibility (Sensibilidade e Bom Senso), de Ang Lee; 1997:  Hospital!, de John Henderson (TV) ; 1997:  The Winter Guest (O Convidado), de Alan Rickman; Ellen (TV); 1998:  Primary Colors (Escândalos do Candidato), de Mike Nichols; Judas Kiss (O Beijo de Judas), de Sebastian Gutierrez; 2000:  Maybe Baby, de Ben Elton e Hugh Laurie; 2001:  Wit (Espírito de Coragem), de Mike Nichols; 2002: Treasure Planet (O Planeta do Tesouro), de Ron Clements e John Musker (voz); 2003:  Love Actually (O Amor Acontece), de Richard Curtis; Imagining Argentina (Aconteceu na Argentina), de Christopher Hampton; Angels in America (Anjos na América) (TV); 2004: Harry Potter and the Prisoner of Azkaban (Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban), de Alfonso Cuarón; 2005: Nanny McPhee (Nanny McPhee - A Ama Mágica), de Kirk Jones; 2006: Stranger than Fiction (Contado Ninguém Acredita), de Marc Forster; 2007: Harry Potter and the Order of the Phoenix (Harry Potter e a Ordem da Fénix), de David Yates; 2007: I Am Legend (Eu Sou a Lenda), de Francis Lawrence; 2008: Brideshead Revisited (Reviver o Passado em Brideshead), de Julian Jarrold; Last Chance Harvey (A Um Passo do Amor), de Joel Hopkins; 2009: Radio Rock Revolution (O Barco do Rock), de Richard Curtis; 2009: An Education (Uma Outra Educação), de Lone Scherfig; 2010: Nanny McPhee et le Big Bang (Nanny McPhee e o Toque de Magia), de Susanna White; The Song of Lunch, de Niall MacCormick (TV); 2011:  Harry Potter e os Talismãs da Morte: Parte 2, de David Yates; 2012:  Playhouse Presents (TV);  Brave (Brave – Indomável), de Mark Andrews  (voz);  Men in Black 3 (MIB³: Homens de Negro 3), de Barry Sonnenfeld; 2013:  Beautiful Creatures (Criaturas Maravilhosas) de Richard LaGravenese;  d'escrocs de Joel Hopkins; Saving Mr. Banks (Ao Encontro de Mr. Banks), de John Lee Hancock; Effie Gray, de Richard Laxton; Love Punch (Golpe de Amor), de Joel Hopkins; 2014:; Men, Women & Children, de Jason Reitman (voz); 2015: The Legend of Barney Thomson, de Robert Carlyle (em pós-produção);  A Walk in the Woods, de Ken Kwapis (em pós-produção);  Survivor, de James McTeigue (em pós-produção); Um filme de John Wells anda sem título (em pré-produção).
Como argumentista: 1982: Cambridge Footlights Revue (TV) de John Kilby; There's Nothing to Worry About!; 1995: Sense and Sensibility, de Ang Lee; 2005: Pride & Prejudice, de Joe Wright; 2010: Nanny McPhee and the Big Bang, de Susanna White; 2013: Effie, de Richard Laxton; 2014:  Annie, de Will Gluck

JANE AUSTEN (1775-1817)
Jane Austen nasceu a 16 de Dezembro de 1775, em Steventon, Hampshire, Reino Unido, e morreu a 18 de Julho de 1817, aos 41 anos, em Winchester, Reino Unido.
Escritora desde muito jovem, deixou alguns romances que se encontram entre os mais celebrados da literatura inglesa, como “Sense and Sensibility” (1811), “Pride and Prejudice” (1813), “Mansfield Park” (1814), “Emma” (1815), “Northanger Abbey” (1818), ou “Persuasion” (1818). Oriunda de uma família da nobreza rural inglesa, essa situação social e o ambiente da época serviram de pretexto para todas as suas obras, cujo temática central são questões amorosas, suas dificuldades e esperanças nesse contexto. Muito estudada nos meios académicos, profundamente adaptada a cinema e televisão, é vista nalguns meios como conservadora, noutros como inspirada no pensamento de Mary Wollstonecraft, escritora e feminista britânica contemporânea de Jane Austen.
Sétima filha de Cassandra e do reverendo George Austen, o pároco anglicano de Steventon, Jane tinha mais seis irmãos e uma irmã, Cassandra, com quem estabeleceu grande cumplicidade senso conhecida uma vasta correspondência, de grade importância literária.
Desde 1787, Jane Austen escreveu, para simples entretenimento da família, “Juvenilia”, que inclui diversas paródias da literatura da época. Entre 1795 e 1799 começou a redigir as primeiras versões dos seus principais romances, que se publicariam mais tarde. Em 1797, o pai pretendeu publicar “Orgulho e Preconceito”, mas foi recusado pelo editor. Nem Cassandra, nem Jane se casaram, e esta última conheceu vários percalços com pretendentes que, por uma razão ou outra, nunca chegaram ao altar. Em Janeiro de 1805, morreu o seu pai, deixando a família em difícil situação económica. Mudaram varias vezes de residência e de cidade. Em Hampshire, Jane retoma a sua actividade literária e “Sense and Sensibility” acaba por ser aceite por um editor em 1810 ou 1811, sendo a autora a assumir os riscos da publicação. Publicado anonimamente, com o pseudónimo: "By a Lady", teve algumas críticas favoráveis, e os lucros foram de 140 libras esterlinas. As obras seguintes foram muito melho recebidas, o anonimato desapareceu e os lucros aumentaram. Em 1813, o irmão Henry Austen foi tratado pelo Sr. Clarke, médico do príncipe Regente, o qual, ao descobrir que Austen era a autora de “Pride and Prejudice” e “Sense and Sensibility”, obras que apreciava muito, pediu a este que solicitasse a Henry que o romance seguinte da autora lhe fosse dedicado. Jane não apreciava muito o príncipe, devido às suas conhecidas infidelidades, mas, em Dezembro de 1815, foi publicado “Emma”, dedicado ao príncipe regente. Começou a redigir “Persuasion” em Agosto de 1815, e um ano depois começou a se sentir mal, tendo abandonado a escrita dois anos depois, deixando várias obras inacabadas. Foi levada para Winchester, a fim de receber tratamento médico, e viria a falecer em 18 de Julho de 1817. Consta que as suas últimas palavras foram: "Não quero nada mais que a morte". Na altura desconheceu-se a causa da morte, mas presentemente calcula-se que Jane Austen foi vitima da Doença de Addison. Está enterrada na Catedral de Winchester, onde se lê a seguinte placa: "She opened her mouth with wisdom and in her tongue is the law of kindness" ("Ela abriu a sua boca com sabedoria e na sua línguagem reside a lei da bondade").

Obras de Jane Auten:
Romances: Sense and Sensibility (1811), Pride and Prejudice (1813), Mansfield Park (1814), Emma (1815), Northanger Abbey (1818), Persuasion (1818); Novela: Lady Susan (1794, 1805); Obras não terminadas: The Watsons (1804), Sanditon (1817); Outras obras: Sir Charles Grandison (teatro) (1793, 1800), Plan of a Novel (1815), Poems (1796-1817), Prayers (1796-1817), Letters (1796-1817)
Outras obras de juventude da autora foram antologiadas e três volumes: Juvenilia — Volume the First (1787–1793) - Frederic & Elfrida, Jack & Alice, Edgar & Emma, Henry and Eliza, The Adventures of Mr. Harley, Sir William Mountague, Memoirs of Mr. Clifford, The Beautifull Cassandra, Amelia Webster, The Visit, The Mystery, The Three Sisters, A beautiful description, The generous Curate, Ode to Pity;
Juvenilia — Volume the Second (1787–1793) - Love and Freindship, Lesley Castle, The History of England, A Collection of Letters, The female philosopher, The first Act of a Comedy, A Letter from a Young Lady, A Tour through Wales, A Tale;

Juvenilia — Volume the Third (1787–1793) - Evelyn, Catharine, or the Bower.

SESSÃO 51: 21 DE OUTUBRO DE 2014


O LIVRO DE CABECEIRA (1996)

O corpo sempre foi, desde tempos imemoriais, suporte de mensagens nele inscritas, de desenhos a letras, símbolos diversos de testemunhos variados. Em África ou nas Américas, uma multiplicidade de tribos e raças servia-se do corpo tatuado ou simplesmente pintado para inspirar as mais diversas emoções ou invocar os deuses. Na Europa e no Oriente passou-se o mesmo e em muitos casos ainda se passa. A recente febre de tatuagens, desde o “Amor de Mãe” a “Angola 62”, até aos mais elaborados e sofisticados desenhos “simbólicos” mostram que desenhar e escrever no corpo é prática corrente desde sempre. Mudam apenas os artefactos e as técnicas com que se executam os empreendimentos. Antigamente eram os feiticeiros, hoje são os tatuadores célebres que se reúnem em convenções internacionais em Miami ou outras paradisíacas localidades para que o negócio rende. De resto a pele de animais sempre serviu de base de escrita, e é vulgar ainda hoje, em filmes e romances de terror, haver alusões a pele humana retirada do corpo de vítimas e usada para transmitir recados ou guardar mensagens. 
“The Pillow Book” (O Livro de Cabeceira), dirigido por Peter Greenaway em 1996, e baseado na obra da cortesã e escritora medieval japonesa (século X) Nagiko Kiyohara no Motosuke Sei Shonagon, conta uma história que tem por base a escrita no corpo humano. O filme abre com imagens da pequena Nagiko (repare-se na justaposição da protagonista do filme com a própria escritora, através do uso do nome Nagiko) a servir de tela privilegiada do pai, escritor e calígrafo, a desenhar-lhe no rosto signos japoneses que para sempre a irão marcar. Essas frases dizem que “Deus criou o primeiro modelo de um ser humano em barro, pintou os olhos, os lábios e o sexo. Depois, pintou o nome de cada pessoa para que o dono jamais o esquecesse. Se Deus gostava da sua criação trazia à vida o modelo de barro pintado assinando o seu próprio nome”. Numa civilização onde o símbolo tem uma importância tão grande e as iniciações estabelecem parâmetros definitivos, Nagiko sente-se guiada na sua vida por essa relação umbilical entre a caligrafia, a poesia, a pele humana, o sexo, o amor, a vingança e a morte.


Ainda jovem, descobre que o pai para conseguir editar os seus textos cedia aos desejos sexuais do seu editor homossexual. Quando amadureceu, serviu-se da sua beleza e sedução para chegar junto do editor, que no entanto recusa publicar os seus livros. Utiliza então um estratagema, seduzindo o escritor europeu amante do editor, para chegar junto deste e acabar por ver publicadas as suas obras. São treze livros que irão circular entre a escritora e o editor, levados na pele de sucessivos mensageiros, sendo que muitas vezes a mensagem se identifica com o próprio mensageiro. Nagiko não deixa nada ao acaso, prepara cada mensageiro com minucia, depila, lava, aromatiza, escreve delicadamente cada poema. Jerome, o escritor inglês, é o primeiro a ser enviado, curiosamente com o livro seis, “o livro do amante”, escrito por Nagiko e encadernado pelo editor, o que transforma num triângulo amoroso esta primeira emissão. Jerome, o mensageiro, estabelece a ligação entre Nagiko e o editor, conduzida por uma bissexualidade que o transforma num joguete facilmente manobrável. O segundo e terceiro livro são expedidos em simultâneo, “o livro do inocente” e “o do idiota”. “O livro do impotente” é o quarto, lançado em correria. O quinto mensageiro, gordo, chama-se “o livro do exibicionista”. No sétimo, “o livro do sedutor”, a chuva lavou os símbolos e dele quase só resta o corpo. O oitavo é “o livro da juventude”. O nono, povoado por enigmas, é “o livro dos segredos”. O décimo, que se apresenta como “o livro do silêncio”, traz os barulhos da grande cidade O décimo primeiro mensageiro aparece morto junto da porta da editora, atropelado. É “o livro do traído”. O décimo segundo apenas se dá por ele porque buzina ao passar no seu carro, é “o livro dos falsos inícios”. 


Finalmente o décimo terceiro, “o livro da morte”, encerra o percurso da vingança e justifica a morte do editor com as frases que estão inscritas no corpo do mensageiro: “Na época dos antigos samurais, quando prendiam os criminosos, tatuavam os seus crimes nos seus corpos. O editor é um criminoso, merece carregar a vergonha dos seus actos para sempre. Mas os seus crimes não estão escritos no seu corpo. É na sua alma que eles estão escritos. Deveriam estar à mostra para todos verem como é sujo. A única verdadeira posse de um ser humano é o amor que ele possui. Tudo se acaba ou então se consome, menos o amor. A única coisa que levamos da vida é o que nós sentimos. Os homens desonrados não merecem o dom da vida. O editor não tem honra. Não merece viver”. Peter Greenaway, autor de obras como "The Draughtsman's Contract", "The Cook, the Thief, His Wife, and Her Lover", "Prospero's Books", “The Baby of Mâcon” ou “Nightwatching”, entre muitas outras, é um cineasta experimentalista, que não acredita numa narrativa tradicional, numa forma linear de “contar” uma história. Os seus filmes devem muito à pintura, à música, às artes performativas. O seu realizador preferido é Alain Resnais, o seu filme referência é “O Último Ano em Marienbad”. O seu cinema mistura as técnicas tradicionais do cinema, mas também o vídeo, jogando com a cor e o preto e branco, com diferentes enquadramentos no mesmo plano (em “O Livro de Cabeceira” surgem várias imagens de menores dimensões no interior dos planos, multiplicando as leituras). Utiliza a imagem, a escrita, a poesia, a voz off, o recitativo e a voz das personagens, criando um conjunto de referências que o espectador absorve e produzindo uma sensação caótica que obriga a uma compreensão activa. Neste particular, “O Livro de Cabeceira” conjuga imagens de rara beleza plástica com uma sonoridade encantatória, que a fotografia de Sacha Vierny, o director de fotografia de Resnais, alimenta magnificamente, e os actores sublinham com a sua presença e talento. Filme de uma grande sensualidade e sedução, mas sempre elegante e púdico, funciona como um marco decisivo no interior da filmografia do autor e do cinema vanguardista contemporâneo.



O LIVRO DE CABECEIRA
Título original: The Pillow Book
Realização: Peter Greenaway (Inglaterra, Holanda, França, Luxemburgo, 1996); Argumento: Peter Greenaway, Sei Shonagon, segundo obra desta última; Produção: Terry Glinwood, Kees Kasander, Jessinta Liu, Jean-Louis Piel, Tom Reeve, Denis Wigman; Fotografia (cor):  Sacha Vierny; Montagem: Peter Greenaway, Chris Wyatt; Casting: Abi Cohen, Hitomi Ishihara, Carrie O'Brien, Aimi O, Liora Reich; Design de produção: Kôichi Hamamura, Willemijn Loivers, Hiroto Oonogi, Andrée Putman, Noriyuki Tanaka, Wilbert Van Dorp; Guarda-roupa: Martin Margiela, Dien van Straalen, Koji Tatsuno; Maquilhagem: Seiji Arai, Cathy Folmer, Shoko Ishigaki, Sara Meerman, Vivian Nowak, Noriko Sato, Kyôko Toyokawa; Direcção de Produção: Katsumi Furuhashi, Misako Furukawa, Yumiko Miwa, Fiona Nottingham;  Assistentes de realização: Paul Cheung, Koji Kobayashi, Adrian Kwan, Kenji Nakanishi, Aimi O, Vincent Rivier; Departamento de arte: Lau Wai Chung, Lijntje Helweg, Wong Mai Ming, Law Tak Nga, Lau Kwok On, Danielle Schilling, Wong Kwong Shing, Mari Tobita, Dione van der Hoeven, Floris Vos, Emi Wada; Som: Kazunori Fujimaru, Nigel Heath, Mathew Knights, Garth Marshall, Kan Shirai, Julian Slater, Volker Zeigermann; Efeitos visuais: Reinier van Brummelen; Companhias de produção: Kasander & Wigman Productions, Woodline Films Ltd., Alpha Film Corporation, Channel Four Films, Canal+, Delux Productions, Euroimages Fund of the Council of Europe, Nederlands Fonds voor de Film; Intérpretes: Vivian Wu (Nagiko), Yoshi Oida (o editor), Ken Ogata (o pai), Hideko Yoshida (a tia), Ewan McGregor (Jerome), Judy Ongg ( mãe), Ken Mitsuishi (o marido), Yutaka Honda (Hoki), Barbara Lott (a mãe de Jerome), Miwako Kawai (a jovem Nagiko), Lynne Langdon, Chizuru Ohnishi, Shiho Takamatsu, Aki Ishimaru, Hisashi Hidaka, Dehong Chen, Ham-Chau Luong, Akihiko Nishida, Kentaro Matsuo, Nguyen Duc Nhan, Augusto Aristotle, Roger To Thanh Hien, Chris Bearne, Ronald Guttman, Wichert Dromkert, Martin Tukker, Wu Wei, Tom Kane, Kheim Lam, Daishi Hori, Kinya Tsuruyama, Eiichi Tanaka, Rick Waney, Masaru Matsuda, Wataru Murofushi, Ryuke Azuma, etc. Duração:126 minutos; Distribuição em Portugal: Atalanta Filmes; Classificação etária: M/ 16 anos; Data de estreia em Portugal: 25 de Outubro de 1996. 

PETER GREENAWAY (1942 - )
Peter Greenaway nasceu a 5 de Abril de 1942, em Newport, País de Gales. A família vivia no País de Gales mas, quando Peter tinha três anos de idade, mudou-se para Essex. Ainda criança, Peter Greenaway começou a interessar-se muito por artes plásticas e desejava ser pintor. Esta sua inclinação manteve-se ao longo da vida, desenvolvendo uma sensibilidade pictórica muito interessante, inclusive no campo do cinema, onde se tornou mais conhecido. Em 1962, iniciou estudos no Walthamstow College of Art, onde teve como colega e amigo o músico Ian Dury, (com quem mais tarde colaboraria em “The Cook, the Thief, His Wife & Her Lover”). Em Walthamstow estudou pintura, pois queria ser pintor muralista, e realiza seu primeiro filme, “Death of Sentiment”, um ensaio sobre jardins de igrejas, filmado em quatro dos maiores cemitérios de Londres. Em 1965 vamos encontrá-lo no Central Office of Information, onde passou os quinze anos seguintes, trabalhando, inicialmente como montador e depois como realizador, sobretudo e filmes experimentais, e sempre muito ligados à pintura. No campo do cinema, os seus interesses foram para autores como Bergman, ou os franceses da Nouvelle Vague, Godard e Resnais. O seu filme favorito é “O Último Ano em Marienbad” (1961) e a actriz Delphine Seyrig. Greenaway interessou-se sempre por ópera, tendo escrito dez libretos, para uma série, “The Death of a Composer: Rosa, a Horse Drama,  The Tulse Luper Suitcases, The Moab Story”, tendo como referência dez compositores, de Anton Webern a John Lennon. A sua primeira longa-metragem data de 1980, “The Falls”,  sendo que as suas obras de maior reconhecimento internacional datam das décadas de 80 e 90. O interesse por ópera e música levou Greenaway a produzir, em 2005, um espectáculo multimedia, de colaboração com o maestro e compositor David Lang e o calígrafo Brody Neuenschwander, intitulado "Writing on Water". O espectáculo reuniu, ao vivo, a orquestra London Sinfonietta, o realizador, montando imagens numa mesa de vídeo, o compositor na regência da orquestra e o calígrafo, todos trabalhando simultaneamente, com o produto audiovisual sendo lançado num enorme ecrã que era presenciado por vastas plateias. Em 1999, Greenaway divorciou-se, vendeu a casa da família no País de Gales e passou a viver na Holanda. Em 2007, passou a Comandante da »Ordem do Império Britânico, pela sua contribuição à arte do cinema.

Filmografia
Como realizador (curtas-metragens): 1962: Death of Sentiment; 1966: Tree; Train; 1967: Revolution; 5 Postcards From Capital Cities; 1969: Intervals; 1971: Erosion; 1973: H Is for House; 1975: Windows; Water Wrackets; Water; 1976: Vertical Features Remake; Goole by Numbers; 1977: Dear Phone; 1978: A Walk Through H: The Reincarnation of an Ornithologist; Eddie Kid; Cut Above the Rest; 1-100; Vertical Features Remake;1979: Zandra Rhodes; Women Artists; Leeds Castle; 1980: Lacock Village; Country Diary; Act of God; 1981: Terence Conran; 1983: The Coastline; 1984: Making a Splash; 1985: Inside Rooms: 26 Bathrooms, London & Oxfordshire; 1988: Fear of Drowning; 1989: Hubert Bals Handshake; Death in the Seine; 1991: M Is for Man, Music, Mozart; A Walk Through Prospero's Library; 1992: Rosa; 1997: The Bridge; 2001: The Man in the Bath; 2003: Cinema16: British Short Films; 2005: Writing on Water; 2009: The Marriage;
(longas-metragens): 1980: The Falls; 1982: The Draughtsman's Contract (O Contrato); 1983: Four American Composers; 1985: A Zed & Two Noughts (Z00 - Um Z e dois Zeros); 1987: The Belly of an Architect (O Ventre de um Arquitecto); 1988: Drowning by Numbers (Maridos à Água); 1989: The Cook, the Thief, His Wife & Her Lover (O Cozinheiro, o Ladrão, a sua Mulher e o Amante Dela); 1990: A TV Dante (TV Mini-série) (4 episódios); 1991: Prospero's Books (Os Livros de Próspero); Darwin; A Walk Through Prospero's Library (documentário); 1993: The Baby of Mâcon (O Bebé de Mâcon); 1995: Stairs 1 Geneva (documentário); 1996: Lumière et Compagnie - filme colectivo (documentário); 1996: The Pillow Book (O Livro de Cabeceira); 1999: 8½ Women (8 Mulheres e ½); The Death of a Composer: Rosa, a Horse Drama; 2003: The Tulse Luper Suitcases, The Moab Story; The Tulse Luper Suitcases, Antwerp; The Tulse Luper Suitcases, Sark to the Finish; 2004: The Tulse Luper Suitcases, Vaux to the Sea; Visions of Europe (fragmento "European Showerbath") - filme colectivo; 2005: A Life in Suitcases; 2007: Nightwatching (A Ronda da Noite); Peopling the Palaces at Venaria Reale; 2008: Rembrandt's J'accuse (documentário); Cinema Is Dead, Long Live the Screen (documentário); 2012: Goltzius and the Pelican Company; 2013: 3x3D (episódio "Just in Time"); 2014: Eisenstein in Guanajuato (pós-produção); 2015: Walking to Paris (pré-produção); 2016: The Eisenstein Handshakes (anunciado).