sábado, 1 de fevereiro de 2014

SESSÃO 4: 25 DE FEVEREIRO DE 2014


SOB DUAS BANDEIRAS (1944)

"Champagne Charlie" baseia-se na vida de um famoso artista de music-hall inglês, George Leybourne, que viveu entre 1842 e 1884 (morreu novo, com 42 anos) e ficou conhecido por algumas das suas mais populares canções. "Champagne Charlie" terá sido a mais conhecida, mas outras houve, como "The Flying Trapeze" ou "The Daring Young Man on the Flying Trapeze" que ainda hoje se ouvem e se cantam nos pubs londrinos.
George Leybourne nasceu em Gateshead, uma cidadezinha no nordeste de Inglaterra, que fica mesmo em frente de Newcastle, atravessado o rio Tyne. Começou por aparecer, sob a designação de Joe Saunders, em casas de music-hall de Liverpool e Newcastle, onde conheceu um progressivo sucesso que o levou a Londres. Com o seu nome de baptismo George Leybourne estreou-se na capital, no Bedford Music Hall, em 1863. Mas foi a partir de 1866, quando compôs, com o compositor Alfred Lee, a canção "Champagne Charlie", que se tornou primeira figura, criando uma invulgar popularidade, acrescida por outros sucessos, como a já citada "The Flying Trapeze", escrita igualmente de colaboração com Alfred Lee.
Leybourne tinha um estilo muito próprio de actuar, misturando a canção com o humor, trajando sempre a rigor, com imaculados casacos brancos e calças vincadíssimas, estabelecendo um curioso diálogo jocoso entre as classes alta e baixa da sociedade inglesa, elogiando as coisas boas da vida, das mulheres ao champanhe. 
Em 1868, William Holland, que então dirigia o celebérrimo Canterbury Music Hall, contratou Leybourne por umas chorudas 25 libras por semana, que pouco depois chegaram a 120 por semana. O popular cantor tinha no reportório mais de 200 canções e viajou em tournée pelos EUA, com grande sucesso igualmente. Conta a lenda, e não se sabe mesmo se será só lenda, que a sua rivalidade com Alfred Vance, outro cantor de music-hall conhecido por “The Great Vance”, era enorme. Mas alguns investigadores contestam a disputa e afirmam que era mais a fama que o proveito, ou que ambos construíam essa rivalidade para melhor manterem as carreiras no auge. Ficaram famosas as disputas entre ambos com base em canções que exaltavam as qualidades de certas bebidas. O ponto mais alto desta disputa terá sido atingido com "Champagne Charlie". De resto, George Leybourne,"viveu furiosamente, bebeu em excesso, e morreu cedo". Dizem que na penúria. O que ainda ajudou mais à lenda.


Em 1944, o produtor Michael Balcon entrega ao brasileiro Alberto Cavalcanti a realização de “Champagne Charlie” (na tradução portuguesa “Sob Duas Bandeiras”), com argumento de Austin Melford, John Dighton e Angus MacPhail, que adaptam alguns momentos da tumultuosa vida de Leybourne, que no filme é interpretado por Tommy Trinder, enquanto a figura de Alfred Vance era entregue a Stanley Holloway.
A obra é uma deliciosa evocação dos tempos do music-hall na era vitoriana, rodada em grande parte nos Ealing Studios, em Londres, com uma divertida e pitoresca recriação de um período boémio, que Cavalcanti retrata entre o realismo poético e a recordação nostálgica. Dois grandes actores dos anos 40 do teatro e cinema ingleses, Tommy Trinder e Stanley Holloway, transportam o filme às costas com uma galhardia fora do vulgar. Os ambientes dessas vastas e loucas salas de music-hall, com a sua mescla de classes sociais e de rostos, deixam transparecer o clima inebriante que nelas se vivia, por entre o vício e o pecado, sempre bem acompanhado por canções que se cantavam em animados coros. O filme combina ainda uma singela historieta de amor, com um vulcânico duelo de cançonetas exaltando o tinto, o clarete, o Porto, o brande, o gin, o xerez, o rum, o whisky, até culminar no apregoado champanhe, bebida cujas empresas produtoras, dizem as más línguas, terão apadrinhado a canção.
Trinder, que foi igualmente um actor e entertainer muito popular nas décadas de 30 a 50 do século XX, compõe uma figura cockney exuberante e inspirada, com o seu longo e iluminado rosto, de grandes olhos redondos e boca aberta para um sorriso de ingénuo optimismo. Stanley Holloway, por seu turno, é como sempre brilhante na composição de um “The Great Vance”, arrogante e petulante, cheio de si e da sua arte.
Um belo filme, quase ignorado no presente, que merece bem ser recordado.


SOB DUAS BANDEIRAS
Título original: Champagne Charlie
Realização: Alberto Cavalcanti (Inglaterra, 1944); Argumento: Austin Melford, John Dighton, Angus MacPhail; Produção:  Michael Balcon, John Croydon; Música:  Ernest Irving; Fotografia (p/b): Wilkie Cooper; Montagem:  Charles Hasse; Direcção artística: Michael Relph; Guarda-roupa: Ernst Stern; Maquilhagem: Tom Shenton; Direcção de Produção: Hal Mason, Jack Rix; Som: Len Page, A.D. Valentine; Companhias de produção: Ealing Studios; Intérpretes: Tommy Trinder (George Leybourne ou Champagne Charlie), Stanley Holloway (The Great Vance), Betty Warren (Bessie Bellwood), Jean Kent (Dolly Bellwood), Austin Trevor (The Duke), Peter De Greef (Lord Petersfield), Leslie Clarke (Fred Saunders), Eddie Phillips (Tom Sayers), Robert Wyndham (Duckworth, Guy Middleton, Drusilla Wills, Frederick Piper, Andreas Malandrinos, Paul Bonifas, Joan Carol, Bill Shine, Eric Boon, Richard Harrison, Harry Fowler, Norman Pierce, Joe E. Carr, Hazel Court, Monti DeLyle, Vernon Greeves, George Hirste, Vida Hope, James Robertson Justice, Kay Kendall, Eliot Makeham, Aubrey Mallalieu, Gibb McLaughlin, Phyllis Morris, etc. Duração: 105 minutos; Distribuição em Portugal: Zon Lusomundo; Classificação etária: M/ 12 anos; Data de estreia em Portugal: 24 de Setembro de 1945.

STANLEY HOLLOWAY 
(1890-1982)
Stanley Augustus Holloway nasceu em Londres (Manor Park, Essex), no dia 1 de Outubro de 1890, único filho varão de George Augustus Holloway e de Florence May (que também tiveram uma filha). O nome Stanley foi-lhe dado como homenagem a Henry Morton Stanley, o jornalista que explorou África e foi ao encontro de David Livingstone. A influência teatral também existia na família, vinda sobretudo da parte de Charles Bernard (1830–1894), um tio avô materno, actor e empresário. Estudou na Worshipful School of Carpenters e integrou um coro infantil. Aos 14 anos, deixou os estudos, passou a trabalhar e, em 1904, aparece como Master Stanley Holloway, em “The Wonderful Boy Soprano”. Durante as décadas de 30-60 foi um actor de grande versatilidade, grangeando, sobretudo no teatro musical e no cinema, uma enorme popularidade. Mas ficou para sempre eternizado com o seu trabalho em “My Fair Lady”, nos palcos e no cinema, na composição de Alfred P. Doolittle. Viria a falecer em Littlehampton, Inglaterra, a 30 de Janeiro de 1982, com 91 anos. Foi casado com Alice Foran e Violet Lane, tendo tido cinco filhos, entre eles Julian Holloway, também actor, conhecido particularmente pelo seu trabalho na série “Com Jeito Vai…”
O primeiro emprego que se lhe conhece foi como empregado de um mercado de peixe em Billingsgate, mas desde 1907 que começa a actuar como actor e cantor em pequenas cidades da costa inglesa. Contratado por Leslie Henson para trabalhar consigo em vários espectáculos, resolve assumir a carreira de cantor e vai até Itália, Milão, onde estuda canto. Durante a I Guerra Mundial, alistou-se no Regimento de Infantaria Connaught Rangers e, em 1920, integra a Royal Irish Constabulary como agente de polícia mas abandonou o posto em 1921.
No teatro, o seu primeiro grande sucesso foi “The Co-Optimists”, que esteve em cena de 1921 até 1927, mais tarde adaptado ao cinema. Na década de 1930, foi uma estrela de variedades, pantomima, musical, music-hall, e surgiu numa série de filmes, como “Squibs” (1935) ou “The Vicar of Bray” (1937). Mas foi na década seguinte que se viria a impor no cinema, com “Major Barbara”, e em obras patrióticas que tentavam sustentar o esforço da guerra, “The Way Ahead” (1944), “This Happy Breed” (1944) e “The Way to the Stars” (1945). Depois da guerra, “Breve Encontro”, “Nicholas Nickleby” e uma aparição em “Hamlet” são interpretações importantes, seguidas por aparições em produções da Ealing Comedies, em clássicos como “Passport to Pimlico”, “The Lavender Hill Mob” e “The Titfield Thunderbolt”. Viaja então aos EUA, para “ser” o pai de Eliza Doolitle na versão da Broadway, de “My Fair Lady” (1956), mais tarde reposta em Londres (1958) e, finalmente, levada a cinema (1964). Recebeu uma nomeação para o Oscar.
Escreveu uma autobiografia, “With a Little Bit of Luck”, e foi o protagonista de uma série televisiva, ABC Our Man Higgins (1962—1963).

Filmografia
Como actor

1921: The Rotters, de A.V. Bramble; 1929: The Co-Optimists, de Laddie Cliff e Edwin Greenwood; 1933: Sleeping Car (O Expresso do Amor), de Anatole Litvak; The Girl from Maxim's, de Alexander Korda; 1934: Love at Second Sight, de Paul Merzbach; D'Ye Ken John Peel?, de Henry Edwards; Lily of Killarney, de Maurice Elvey; Road House, de Maurice Elvey; Sing As We Go, de Basil Dean; 1935: Play Up the Band, de Harry Hughes; Squibs, de Henry Edwards; Sam and His Musket (curta-metragem); Drummed Out (curta-metragem); 1936: Sam's Medal (curta-metragem); Beat the Retreat (curta-metragem); Halt, Who Goes There? (curta-metragem); 1937: Three Ha'pence a Foot (curta-metragem); The Lion and Albert (curta-metragem); Co-operette (curta-metragem); Gunner Sam (curta-metragem); Our Island Nation (documentário); Sam Small Leaves Town, de Alfred J. Goulding; Song of the Forge, de Henry Edwards; The Vicar of Bray, de Henry Edwards; Cotton Queen, de Joe Rock e Bernard Vorhaus; 1939: Sam Goes Shopping(curta-metragem); 1941: Major Barbara, de Gabriel Pascal, Harold French, David Lean; 1942: Salute John Citizen, de Maurice Elvey; 1943: Worker and Warfront No. 8 (curta-metragem); 1944: This Happy Breed (Esta Nobre Raça), de David Lean; The Way Ahead (7 de Infantaria), de Carol Reed; Champagne Charlie (Sob Duas Bandeiras), de Alberto Cavalcanti; 1945: The Way to the Stars (O Caminho das Estrelas), de Anthony Asquith; Brief Encounter (Breve Encontro), de David Lean; Caesar and Cleopatra (César e Cleópatra), de Gabriel Pascal; 1946: Wanted for Murder (Os Crimes de Hyde Park), de Lawrence Huntington; Carnival (Bailarina na Ópera), de Stanley Haynes; 1947: Meet Me at Dawn (Espero-te de Madrugada), de Peter Creswell e Thornton Freeland; The Life and Adventures of Nicholas Nickleby (Lábios que Envenenam ou Nicholas Nickleby), de Alberto Cavalcanti; 1948: Snowbound (O Segredo da Bomba Atómica), de David MacDonald; One Night with You, de Terence Young; Hamlet (Hamlet), de Laurence Olivier;1948: The Winslow Boy (Causa Célebre), de Anthony Asquith; Noose, de Edmond T. Gréville; Another Shore, de Charles Crichton; 1949: Passport to Pimlico (Passaporte para o Paraíso), de Henry Cornelius; The Perfect Woman (Uma Mulher Perfeita), de Bernard Knowles; 1950: Midnight Episode, de Gordon Parry; 1951: One Wild Oat, de Charles Saunders; 1951: The Lavender Hill Mob (Roubei Um Milhão), de Charles Crichton; The Magic Box, de John Boulting; Lady Godiva Rides Again, de Frank Launder; 1952: The Happy Family, de Muriel Box; Meet Me Tonight (Esta Noite às 8.30), de Anthony Pellisier; 1954: Fast and Loose, de Gordon Parry; The Titfield Thunderbolt, de Charles Crichton; The Beggar's Opera (A Ópera dos Mendigos), de Peter Brook; A Day to Remember, de Ralph Thomas; Meet Mr. Lucifer, de Anthony Pellisier; 1955: An Alligator Named Daisy, de J. Lee Thompson; 1956: Jumping for Joy, de John Paddy Carstairs; 1959: Alive and Kicking, de Ciryl Frankle; No Trees in the Street, de J. Lee Thompson; 1960: The Mikado (TV); An Arabian Night (TV): 1961: On the Fiddle, de Cyril Frankel; No Love for Johnnie, de Ralph Thomas; Meet Mr Holloway (TV), 1962: Our Man Higgins (TV); 1964: My Fair Lady (Minha Querida Senhora), de George Cukor; 1965: In Harm's Way (A Primeira Vitória), de Otto Preminger; Ten Little Indians (Dez Convites Para a Morte), de George Pollock; 1965-1967: The Red Skelton Show (TV); 1966: The Sandwich Man, de Robert Hartford-Davis; 1967: Blandings Castle (TV); 1968: Thingumybob (TV); Armchair Theatre (TV); Mrs. Brown, You've Got a Lovely Daughter, de Saul Swimmer; 1969: Target: Harry, de Roger Corman; Run a Crooked Mile (TV); 1970: The Private Life of Sherlock Holmes (A Vida Íntima de Sherlock Holmes), de Billy Wilder; 1971: Flight of the Doves, de Ralph Nelson; 1972: Up the Front, de Bob Kellett; 1973: Dr. Jekyll and Mr. Hyde (O Médico e o Monstro) (TV); 1975: Journey into Fear (Viagem ao Medo), de Daniel Mann.

Musicais em teatro interpretados por Stanley Holloway:
1919: Kissing Time; 1920: A Night Out; 1921 - 1926: The Co-Optimists; 1927: Hit the Deck; 1928: Song of the Sea; 1929: Coo-ee; 1929 - 1930: The Co-Optimists; 1932: Savoy Follies; 1934: Three Sisters; 1936: All Wave; 1938: London Rhapsody; 1940: Up and Doing; 1942: Fine and Dandy; 1956: My Fair Lady, na Broadway; 1958: My Fair Lady, em Londres.

TOMMY TRINDER 
(1909-1989)
Thomas Edward Trinder nasceu a 24 de Março de 1909, em Streatham, Londres, Inglaterra, e viria a falecer a 10 de Julho de 1989, em Chertsey, Surrey, Inglaterra, com 80 anos. Filho de  Thomas Henry Trinder, um condutor de eléctricos de Londres, e de Jennie Georgina Harriet Mills, Tommy Trinder foi um dos mais populares actores ingleses das décadas de 30-60. Abandonou os estudos rapidamente e aos 12 anos já trabalhava no teatro, numa tournée pela África do Sul, e depois no Collins' Music Hall.  Aos 17 anos (1926) surgia na companhia de comédia e variedades de Archie Pitt. Em 1937 era muito popular na revista “Tune In and In Town Tonight”. Durante a II Guerra Mundial, trabalhou para os Ealing Studios, interpretando “Sailors Three” ou “Champagne Charlie”. Na televisão, foi primeira figura em shows como “Sunday Night”, no London Palladium, ou “Trinder Box”, na BBC, em 1959. Entusiasta do Fulham Football Club, foi seu dirigente entre 1959 e 1976. Apareceu por seis vezes nas Royal Variety Performances (entre 1945 e 1980), e, em 1975, recebe a Comenda da Order of the British Empire.

Filmografia
Como actor

1938: After Dinner (curta-metragem); Save a Little Sunshine, de Norman Lee; Almost a Honeymoon, de Norman Lee; 1939: She Couldn't Say No, de Graham Cutts; 1940: Sailors Three (Eram Três Marujos), de Walter Forde; Laugh It Off (O Ás do Riso), de John Baxter e Wallace Orton; 1942: The Foreman Went to France, de Charles Frend; Went the Day Well (48 Horas de Terror), de Alberto Cavalcanti; 1943: The Bells Go Down (Londres em Chamas), de Basil Dearden; Millions Like Us (Milhões como Nós), de Sidney Gilliat e Frank Launder (não creditado); 1944: Fiddlers Three (Aconteceu em Roma), de Harry Watt; Champagne Charlie (Sob Duas Bandeiras), de Alberto Cavalcanti; 1950: Bitter Springs (Deserto Negro), de Ralph Smart; 1955: You Lucky People, de Maurice Elvey; 1957: Val Parnell's Sunday Night at the London Palladium (TV); 1963: The Damned, de Joseph Losey; 1964: The Beauty Jungle, de Val Guest; 1964: Not So Much a Programme, More a Way of Life (TV); 1974: Barry McKenzie Holds His Own, de Bruce Beresford.

SESSÃO 3: 18 DE FEVEREIRO DE 2014


A VIDA DO CORONEL BLIMP (1943)

Michael Powell e Emeric Pressburger são uma das duplas mais interessantes de toda a história do cinema mundial, tendo-nos oferecido, entre as décadas de 30 e 60 do século passado, um notável conjunto de obras, algumas delas absolutamente ímpares. “Falta um dos Nossos Aviões”, “A Vida do Coronel Blimp”, “Caso de Vida ou Morte”, “Quando os Sinos Dobram”, “Os Sapatos Vermelhos”, “Os Contos de Hoffmann” ou “A Vítima do Medo” (este assinado só por Michael Powell), para só citar alguns, são exemplos admiráveis de uma filmografia extremamente original, inventiva, plasticamente de uma qualidade invulgar, por vezes roçando o surrealismo (Buñuel era o grande mestre e inspirador de Powell), umas vezes irónica, outras romântica, mas sempre muito sedutora.
“The Life and Death of Colonel Blimp”, rodado em plena II Guerra Mundial, é um filme estranho sob diversos pontos de vista. Inicia-se na actualidade (da rodagem obviamente, 1943), numa altura em que o coronel Wynne-Candy (Roger Livesey) se encontra já reformado, mas ainda a chefiar um grupo paramilitar, a Home Guard, que inicia uns exercícios militares em terra. “A guerra vai começar à meia-noite” diz uma mensagem que o “inimigo” recebe. O coronel, já de considerável idade, encontra-se nos banhos turcos quando é feito prisioneiro pelo “inimigo” que, não respeitando as regras da honorabilidade militar, resolve atacar seis horas mais cedo, apanhando de surpresa tudo e todos. Sobretudo o coronel, que acaba por sucumbir ao cair dentro de uma piscina. Este preâmbulo é importante para se perceber toda a obra. Segue-se um longo flashback que abarca uma parte considerável da história inglesa da primeira metade do século XX.
O tenente Candy regressa em 1902 da guerra dos Boers, com recompensas e prestígio. Recebe então uma mensagem de uma jovem inglesa, Edith Hunter (Deborah Kerr), que vive em Berlin e que não suporta ouvir os alemães satirizarem e ridicularizarem os ingleses. Candy tenta contra-atacar com autorização militar, não o consegue e fá-lo por iniciativa própria. Da troca de insultos efectuada num restaurante resulta um duelo. O seu opositor será Theo Kretschmar-Schuldorff (Anton Walbrook) e o desafio é um verdadeiro encontro de gentlemen, que, após a troca de ferimentos, se tornam amigos. Ambos estão apaixonados por Edith Hunter, mas Candy “cede” o objecto da sua paixão a Theo.


Voltam a avistar-se no final da I Guerra Mundial, quando Theo se encontra num campo de prisioneiros e Candy intercede por ele. Antes, em operações militares em França, Candy cruzara-se com uma enfermeira, Barbara Wynne (Deborah Kerr, de novo), com quem se casara. O tempo passa, Barbara morre, em 1935, Candy reforma-se. Regressa a guerra, agora contra os nazis. 
Theo vive agora exilado em Inglaterra, sozinho, por morte de Edith, tendo deixado na Alemanha dois filhos que são dois puros “jovens nazis”. Candy volta a avalizar o carácter de Theo e, de confidência em confidência, confessa que também ele amara Edith. Entretanto, o exército achara-o velho para o activo e as suas ideias ultrapassadas, e para “sentir” alguma utilidade entrara para a Home Guard, onde tem como motorista Angela "Johnny" Cannon (Deborah Kerr, ainda). Para Candy não se pode combater os nazis com as mesmas armas. Há que manter a honra, “preferindo perder a guerra a usar os métodos dos nazis”. Theo não está de acordo, a sua experiência com os nazis é terrível. Fechado o flashback, Candy será derrotado pelos novos métodos.
Este é o segundo filme da dupla Powell e Pressburger para a produtora “The Archers”, criada por eles em 1940. O primeiro fora "...One of Our Aircraft is Missing". Powell tinha sido apresentado a Pressburger, um húngaro, por Alexander Korda, outro húngaro, e seu antigo produtor. Tornaram-se amigos e colaboradores inseparáveis.
Há quem diga que “ Blimp” foi influenciado pelos cartoons satíricos de um dos mais célebres caricaturistas ingleses de então, Sir David Alexander Cecil Low, um talentoso desenhador que não poupou Hitler, Mussolini ou Estaline. A sua obra atingiu uma tal agressividade que Goebbels colocou o seu nome no “Livro Negro” das personalidades a abater aquando da invasão de Inglaterra. Uma das suas personagens era precisamente um Coronel Blimp. Mas Powell afirmou que a ideia lhe surgiu de uma cena rodada e não incluída no seu filme anterior, e David Lean, então montador dos dois filmes, confirma conversas nesse sentido. A conversa teria a ver com sentir o envelhecimento e a falta de utilidade subsequente.


Mas esta obra que dir-se-ia plenamente integrada no esforço de guerra de Inglaterra contra a ameaça nazi não foi assim entendida no seu tempo. Durante a rodagem, esta foi várias vezes incomodada pelos poderes políticos e militares ingleses. Eles não viam com bons olhos o aparecimento de um alemão que, apesar de confessadamente anti-nazi, tinha um melhor entendimento da guerra moderna que o coronel Candy e Winston Churchill, talvez por se sentir ridicularizado pela figura do protagonista, também impediu a sua estreia, inclusive nos EUA. O filme atrasou alguns meses em Inglaterra e alguns anos nos EUA (só seria lançado em salas em 1945). Chegou a provocar o aparecimento de panfletos, como “The Shame and Disgrace of Colonel Blimp”, da autoria de dois “sociólogos”, E. W. e M. M. Robson", membros de uma tal “Sidneyan Society”, que afirmavam esta ser “the most disgraceful production that has ever emanated from a British film studio”.
O coronel Candy vive nos tempos das regras de ouro, dos duelos pela honra, da guerra com dignidade. Como um verdadeiro gentleman, ele não abdica de princípios em nome de qualquer tipo de pragmatismo. Ora, visto hoje em dia, o filme é profundamente patriótico, ainda que levemente satírico quanto ao espírito inglês, mas abertamente anti-nazi. Nada na obra levanta dúvidas a esse respeito. E a sua qualidade estética, humor, inteligência, novidade e arrojo formal transformam-na seguramente numa obra-prima indiscutível, com lugar assegurado entre as melhores de sempre da cinematografia britânica. O seu relançamento na década de 80, numa versão restaurada, concedeu nova vida ao filme e permitiu uma reapreciação mais correcta, mas foi definitivamente um novo restauro, realizado através do empenho de Martin Scorsese e da sua montadora habitual, Thelma Schoonmaker, que tinha sido mulher de Michael Powell até à morte deste, com o apoio da Academy Film Archive, o BFI, o ITV Studios Global Entertainment Ltd. e a The Film Foundation, e fundos provenientes de The Material World Charitable Foundation, de Louis B. Mayer Foundation, de Cinema per Roma Foundation, e de The Film Foundation, que permitiu a total recuperação crítica desta obra admirável, que teve a sua “re-estreia” em Nova Iorque, a 6 de Novembro de 2011, e, posteriormente, a 30 do mesmo mês, em Londres.


Este é seguramente um dos mais “ingleses” filmes jamais realizados e, no entanto, Powell divertia-se a dizer que este filme “100% british”, fora fotografado por um francês, escrito por um húngaro, musicado por um judeu alemão, o guarda-roupa tinha sido desenhado por um checo, um outro alemão assinara o design de produção, e havia ainda actores austríacos e escoceses. Sim, o realizador era inglês. “Uma equipa técnica e um elenco sem fronteiras de nenhuma espécie”.
Rodado numa época de crise, em plena guerra, não teve grandes meios de produção, mas o resultado final é admirável, dada a invenção e a habilidade que os realizadores demonstram em sugerir ambientes. As cenas de guerra não são o que se pode chamar realistas, quase se aparentam a alguns quadros surrealistas, mas oferecem uma veracidade interna notável. O aproveitamento de certos edifícios nalgumas sequências é igualmente brilhante, desde o ginásio onde se efectua o duelo, o hospital onde Candy passa algum tempo, os banhos turcos, etc. Toda a obra ostenta uma notável capacidade criativa.
Inicialmente, os actores escolhidos pela dupla de realizadores (e quando falamos da dupla de realizadores há que sublinhar que Michael Powell foi sempre mais “o realizador”, e Emeric Pressburg mais “o argumentista”, apesar de ambos assinarem a realização e o argumento, além da produção) foram Laurence Olivier, para interpretar o coronel Candy, o que não foi possível por Olivier estar na Força Aérea e o Ministério ter recusado a cedência, e Wendy Hiller para os três papéis depois atribuídos a Deborah Kerr. Mas deve dizer-se que, visto agora, este filme não se consegue libertar do trabalho de Anton Walbrook (Theo Kretschmar-Schuldorff), Deborah Kerr (Edith Hunter / Barbara Wynne / Johnny Cannon) e Roger Livesey (Clive Candy). Eles são brilhantes e marcaram para sempre a obra com a sua presença.
Mal recebido na época da sua estreia, “The Life and Death of Colonel Blimp” é presentemente um justificado e autêntico filme de culto, para o que muito terá contribuído igualmente a sua magnífica fotografia a cores, um tipo de Technicolor que caracterizou algumas das produções de “The Archers”, como “The Red Shoes” ou “Black Narcissus”. Muitos o consideram um exemplo brilhante do que “quer dizer ser inglês”, e alguns afirmam que este é “o melhor filme inglês de sempre”.

A VIDA DO CORONEL BLIMP
Título original: The Life and Death of Colonel Blimp
Realização: Michael Powell e Emeric Pressburger (Inglaterra, 1943); Argumento:  Michael Powell e Emeric Pressburger; Produção: Michael Powell, Emeric Pressburger, Richard Vernon; Música:  Allan Gray; Fotografia (cor): Georges Périnal; Montagem: John Seabourne Sr.; Design de produção: Alfred Junge; Guarda-roupa: Joseph Bato; Maquilhagem: George Blackler, Dorrie Hamilton, Stuart Freeborn; Direcção de produção: Alec Saville, Sydney Streeter, Tom White; Assistente de realização: Kenneth Horne, Tom Payne; Departamento de arte: Peter Manley; Som: Desmond Dew, C.C. Stevens; Efeitos visuais: W. Percy Day, Jason Richardson; Companhia de produção: The Rank Organisation, The Archers, Independent Producers; Intérpretes: Anton Walbrook (Theo Kretschmar-Schuldorff), Deborah Kerr (Edith Hunter / Barbara Wynne / Johnny Cannon), Roger Livesey (Clive Candy), Roland Culver (Coronel Betteridge), James McKechnie (Spud Wilson), Albert Lieven (von Ritter), Arthur Wontner, David Hutcheson, Ursula Jeans, John Laurie, Harry Welchman, Reginald Tate, A.E. Matthews, Carl Jaffe, Valentine Dyall, Muriel Aked, Felix Aylmer, Frith Banbury, Neville Mapp, Vincent Holman, Spencer Trevor, James Knight, Dennis Arundell, David Ward, Jan Van Loewen, Eric Maturin, Robert Harris, Theodore Zichy,  Jane Millican, Phyllis Morris, Diana Marshall, W.H. Barrett, Thomas Palmer, Yvonne Andre, Marjorie Gresley, Helen Debroy, Norman Pierce, Edward Cooper, Joan Swinstead, John Boxer, Ian Fleming (Maj. Plumley, 1902) , Desmond Jeans, Patrick Macnee, etc. Duração: 163 minutos; Classificação etária: M/ 12 anos; Distribuição em Portugal (DVD): Lusomundo Audiovisuais; Data de estreia em Portugal: 11 de Outubro de 1946.

MICHAEL POWELL 
(1905-1990)
Michael Latham Powell nasceu a 30 de Setembro de 1905, em Bekesbourne, Kent, Inglaterra, e veio a falecer a 19 de Fevereiro de 1990, em Avening, Gloucestershire, Inglaterra, vítima de cancro.  Filho de Thomas William Powell e Mabel Powell foi desde criança um apaixonado pelo cinema.  Tanto viveu em Canterbury, como no sul de França, onde os pais dirigiam um hotel.
Estudou na Kings School, e no Canterbury & Dulwich College e começou depois a trabalhar num baco. Em 1925 começou a colaborar com Rex Ingram, no cinema, durante a rodagem de “Mare Nostrum” (1926). Iniciou-se como realizador de curtas, nos estúdios de Denham & Pinewood. Foi o produtor Alexabder KJorda quem o apresentou a um judeu, emigrante húngaro, Emeric Pressburger, que dominava completamente o inglês, e com quem começou a trabalhar em dupla, a partir de 1942, fundando um casa produtora, The Archers, e criando um invulgar conjunto de obras que os colocam entre os maiores da cinematografia inglesa. Em 1957, deforma amigável, desfizeram a dupla, e já sozinho, Powell rodou “A Vítima do Medo” (1960) que o colocou numa espécie de lista negra. Foi descoberto por homens como  Francis Ford Coppola ou Martin Scorsese que o convidaram a trabalhar e a dar aulas na América (em 1980 leccionou no Dartmouth College, em New Hampshire, e mais tarde foi “Senior Director”, numa “Residence” nos estúdios Zoetrope). Foi casado com Gloria Mary Rouger (1927 – 1927, durou três semanas), Frankie Reidy (1943 - 1983)(durante este casamento viveu vários anos com Pamela Brown)  e ainda Thelma Schoonmaker (1984 – 1990), esta última habitual montadora dos filmes de Scorsese. Morreu de cancro em Inglaterra, em 1990.
“Faço filmes para mim. Espero que o maior número possível de pessoas os entendam. Quanto ao resto, bem, é problema delas”, disse.

Filmografia
(como realizador)
Curtas-metragens: 1928: Riviera Revels (Powell co-realiza com Harry Lachman); 1930: Caste (Campbell Gullan é o realizador, Powell não aprece creditado); 1931: Two Crowded Hours; 1932: My Friend the King; Rynox; The Rasp; The Star Reporter; Hotel Splendide; C.O.D.; His Lordship; 1933: Born Lucky; 1934: The Fire Raisers; Red Ensign; Something Always Happens; 1935: The Girl in the Crowd; Lazybones; The Love Test; The Night of the Party; The Phantom Light; The Price of a Song; Someday; 1936: Her Last Affaire; The Brown Wallet; First National; Crown v. Stevens; The Man Behind the Mask; 1937: The Edge of the World; 1939: The Spy in Black (O Espião Negro); Smith; Embankment Fellowship Co. (curta); The Lion Has Wings (O Leão Tem Asas) (documentário); 1940: Contraband; The Thief of Bagdad (O Ladrão de Bagdad) (co-realizado por Ludwig Berger, Michael Powell e Tim Whelan); 1941: An Airman's Letter to His Mother (curta); 49th Parallel (Os Invasores); (entre 1942 e 1957 todos os filmes de Michael Powell aparecem assinados, na realização, argumento e produção, conjuntamente com Emeric Pressburger): 1942: One of Our Aircraft Is Missing (Falta um dos Nossos Aviões); 1943: The Life and Death of Colonel Blimp (A Vida do Coronel Blimp); The Volunteer (curta de propaganda); 1944: A Canterbury Tale (Três Modernos Peregrinos); 1945:I Know Where I'm Going! (Sei Para Onde Vou); 1946: A Matter of Life and Death (Caso de Vida ou Morte); 1947: Black Narcissus (Quando os Sinos Dobram); 1948: The Red Shoes (Os Sapatos Vermelhos); 1949: The Small Back Room (O Seu Pior Inimigo); 1950: Gone to Earth (A Raposa); The Elusive Pimpernel (O Libertador); 1951: The Tales of Hoffmann (Os Contos de Hoffmann); 1952: The Wild Heart; 1955: Oh... Rosalinda!! (Contos Vienenses); 1956: The Sorcerer's Apprentice (curta de bailado); The Battle of the River Plate (A Batalha do Rio da Prata); 1957: Ill Met by Moonlight (Perigo nas Sombras); (a partir daqui Michael Powelll assina a solo): 1959: Luna de Miel; 1960: Peeping Tom (A Vítima do Medo); 1961: The Queen's Guards; 1963: Herzog Blaubarts Burg; 1966: They're a Weird Mob; 1969: Age of Consent (Homens Maduros); 1972: The Boy Who Turned Yellow; 1978: Return to the Edge of the World;
Para a televisão:
1963: Never Turn Your Back on a Friend; 1964: The Frantick Rebel; Espionage: Free Agent, The Frantick Rebel, - Never Turn Your Back on a; 1965: The Defenders: The Sworn Twelve e The Nurses: A 39846;
Como produtor: 1043: The Silver Fleet; 1947: The End of the River; 1951: Aila, pohjolan tytär; 1968: Sebastian; 1983: A Woman for All Time.
Apareceu como actor (pequenas aparições) em diversas obras.

EMERIC PRESSBURGER 
(1902-1988)
Imre József Pressburger (depois Emeric Pressburger) nasceu a 5 de Dezembro de 1902, em Miskolc, na Hungria, e viria a falecer a 5 de Fevereiro de 1988, em Saxtead, Suffolk, Inglaterra, aos 85 anos. Casado com Ági Donáth (1938-1941) e Wendy Orme (1947-1971).
De uma família judia, era filho de Kätherina e Kálmán Pressburger, este último gerente de uma propriedade. Estudou em Temesvár, sendo um excelente aluno a matemática, literatura e música. Passou pelas universidades de Praga e Estugarda. Quando o pai morreu foi obrigado a abandonar os estudos, tornando-se jornalista. No final da década de 20 passou a trabalhar nos estúdios da UFA, em Berlim, mas a ascensão dos nazis leva-o a refugiar-se em Paris e depois Londres, onde passa a viver a partir de 1935. Nesta cidade encontra um grupo de exilados húngaros que o apoiam, entre os quais Alexander Korda, um dos mais influentes e poderosos produtores cinematográficos, que o contrata como argumentista. É através de Korda  que conhece Michael Powell, trabalhando ambos em “The Spy in Black” (1939). Começam a colaborarem equipa e fundam uma produtora, The Archers. Concebem entre os anos 40 e 50 um conjunto de filmes dos mais importantes da cinematografia inglesa (ver nota Michael Powell, bem como a filmografia conjunta).
Escreveu os romances “Killing a Mouse on Sunday” (1961) e “The Glass Pearls” (1966). Casado com Ági Donáth (1938-1941) e Wendy Orme (1947-1953). Ferveroso adepto de Arsenal F.C. Morreu em 1988, num lar, devido a complicações derivadas de um pneumonia. Foi enterrado no cemitério de Our Lady of Grace Church, em Aspall, sendo o seu o único túmulo ali existente a ostentar a estrela de David.

Filmografia
(Alemanha e Paris)
1930: Die Große Sehnsucht, Abschied; 1931: Ronny, Das Ekel, Dann schon lieber Lebertran, Emil und die Detektive, Der Kleine Seitensprung; 1932: Une jeune fille et un million, ...und es leuchtet die Pußta, Sehnsucht 202, Petit écart, Lumpenkavaliere, Held wider Willen, Eine von uns, La Belle aventure, Wer zahlt heute noch?, Das Schöne Abenteuer, A Vén gazember;
1933: Une femme au volant, Incognito; 1934: Mon coeur t'appelle, Milyon avcilari; 1935: Monsieur Sans-Gêne, Abdul the Damned; 1936: Sous les yeux d'occident;
A partir de 1935, em Inglaterra:
1936: Port-Arthur, Parisian Life, One Rainy Afternoon; 1937: The Great Barrier; 1938: The Challenge; 1939: The Silent Battle;
Com Michael Powell:
1940: Spy for a Day; 1941: Atlantic Ferry; 1942: Rings on Her Fingers, Breach of Promise; 1943: Squadron Leader X; 1946: Wanted for Murder;
Em colaboração com Powell:
1941: 49th Parallel, 1943: The Life and Death of Colonel Blimp, 1946: A Matter of Life and Death, 1947: Black Narcissus,1948: The Red Shoes, 1951: The Tales of Hoffmann;
A seguir à separação de Powell, como argumentista:
1953: Twice Upon a Time (este igualmente como realizador); 1957: Men Against Britannia; 1957: Miracle in Soho; 1965: Operation Crossbow; 1966: They're a Weird Mob; 1972: The Boy Who Turned Yellow.

DEBORAH KERR 
(1921-2007)
Deborah Jane Kerr-Trimmer nasceu a 30 de Setembro de 1921, em Helensburgh,  Glasgow, na Escócia, e viria a falecer a 16 de Outubro de 2007, aos 86 anos, em Botesdale, Suffolk, Inglaterra, atormentada pela doença de Parkinson. Deixou viúvo o escritor Peter Viertel, com quem esteve casada mais de 47 anos. Antes havia sido casada com Anthony Bartley, piloto da força aérea (1945–1959). Foi coleccionando prémios e honrarias ao longo da sua extensa carreira como catriz, tendo sido nomeada por seis vezes para o OPscar de Melhor Actriz que nunca ganhou, mas foi-lhe atribuído um Oscar honorário, por ter sido “uma artista de impecável graça e beleza, uma dedicada actriz cuja carreira se pautou sempre pela exidencia de perfeição, disciplina e elegância”.
Filha de Kathleen Rose e Arthur Charles Kerr-Trimmer, um ca+itão veterano que perdeu uma perna durante a I Guerra Mundial, e se dedicaria depois a engenharia civil. Kerr estudou na Northumberland House School, em Henleaze, Bristol, e na Rossholme School, Weston-super-Mare. A sua orientação inicial terá sido o bailado, tendo mesmo aparecido enquanto tal, em 1938, num palco de Sadler's Wells. Mas rapidamente o teatro e o cinema a conquistariam. Teve como primeiro professor de arte dramática, um tio,  Phyllis Smale, professor na Hicks-Smale Drama School em Bristol. Surgiu em várias produções teatrais, em muitas encenações de Shakespeare para o Open-Air Theatre, ou o Oxford Playhouse. Em Londres, no West End, no inicio da década de 40. 
Iniciou-se no cinema em obras da dupla Michael Powell e Emeric Pressburger (numa das suas obras auto-biograficas, Powell confessa que ele e Deborah Kerr foram amantes nessa época), e interpretou dezenas e dezenas de filmes, sempre deixando marca da sua beleza, elegância e talento. Nalguns poderia parecer fria e distantes, mas noutros deixou vir ao de cima a sua arrojada sensualidade. Alguns actores que com ela contracenaram, como Stewart Granger ou Burt Lancaster, contam como foram seduzidos por esta mulher “The Life and Death of Colonel Blimp”, “Black Narcissus”, “Separate Tables”, “Quo Vadis”, “The Innocents”, “Heaven Knows, Mr. Allison”, “Julius Caesar”, “The King and I”, “An Affair to Remember”, “Tea and Sympathy” ou “From Here to Eternity” são apenas alguns exemplos onde ficou registado o fascínio da sua presença.

Filmografia
Como actriz
1940: Contraband, de Michael Powell (cena retirada da montagem final); 1941: Major Barbara, de Gabriel Pascal; Love on the Dole, de John Baxter; 1942: Penn of Pennsylvania (Penn, o Fundador da Pensilvânia), de Lance Comfort; Hatter's Castle (O Castelo do Homem sem Alma), de Lance Comfort; The Day Will Dawn, de Harold French; A Battle for a Bottle (curta, de animação); 1943: The Life and Death of Colonel Blimp (A Vida do Coronel Blimp), de Michael Powell e Emeric Pressburger; 1945: Perfect Strangers (Férias de Casamento); 1946: I See a Dark Stranger (A Espia da Irlanda), de Jack Conway; 1947: Black Narcissus (Quando os Sinos Dobram), de Michael Powell e Emeric Pressburger; The Hucksters (Traficante de Ilusões), de Jack Conway; If Winter Comes (Intriga), de Victor Saville; 1949: Edward, My Son (Meu Filho Eduardo), de George Cukor; 1950: Please Believe Me, de Norman Taurog; King Solomon's Mines (As Minas de Salomão), de Compton Bennett; 1951: Quo Vadis (Quo Vadis), de Mervyn LeRoy; 1952: The Prisoner of Zenda (O Prisioneiro de Zenda), de Richard Thorpe; Thunder in the East (Tempestade no Oriente), de Charles Vidor; 1953: Young Bess (Amor de Rainha), de George Sidney; Julius Caesar (Júlio César), de Joseph L. Mankiewicz; Dream Wife (A Esposa Ideal), de Sidney Sheldon; From Here to Eternity (Até à Eternidade), de Fred Zinnemann; 1955: The End of the Affair (O Fim da Aventura), de Edward Dmytryk; 1956: The Proud and Profane (Ela Amou Um Bruto), de George Seaton; The King and I (O Rei e Eu), de Walter Lang (dobrada nas canções por Marni Nixon); Tea and Sympathy (Chá e Simpatia), de Vincente Minnelli; 1957: Heaven Knows, Mr. Allison (O Espírito e a Carne), de John Huston; An Affair to Remember (O Grande Amor da Minha Vida), de Leo McCarey; Kiss Them for Me (Quatro Dias de Loucura) (dobrada nalgumas cenas por Suzy Parker); 1958: Bonjour Tristesse (Bom Dia, Tristeza), de Otto Preminger; Separate Tables (Vidas Separadas), de Delbert Mann; 1959: The Journey (Crepúsculo Vermelho), de Anatole Litvak; Count Your Blessings, de Jean Negulesco; Beloved Infidel, de Henry King; 1960: The Sundowners (Três Vidas Errantes), de Fred Zinnemann; The Grass Is Greener (Ele, Ela e o Marido), de Stanley Donen; 1961: The Naked Edge, de Michael Anderson; The Innocents (Os Inocentes), de Jack Clayton; 1963: ITV Play of the Week (episódio Three Roads to Rome); 1964: On the Trail of the Iguana; The Chalk Garden, de Ronald Neame; The Night of the Iguana (A Noite de Iguana), de John Huston; 1965: Marriage on the Rocks (Divórcio à Americana), de Jack Donohue; 1966: Eye of the Devil, de J. Lee Thompson; 1967: Casino Royale (Casino Royale), de Val Guest, Ken Hughes, John Huston, Joseph McGrath e Robert Parrish; 1968: Prudence and the Pill, de Fielder Cook; 1969: The Gypsy Moths (Os Paraquedistas), de John Frankenheimer; The Arrangement (O Compromisso), de Elia Kazan; 1982: BBC2 Playhouse (episódio "A Song at Twilight"); Witness for the Prosecution (telefilme); 1984: A Woman of Substance,  de Don Sharp (mini-série de TV); 1985: The Assam Garden, de Mary McMurray; Reunion at Farnborough, de Herbert Wise (telefilme); A Woman of Substance (mini-série de TV); 1986: Hold the Dream, de Don Sharp (telefilme).

THE ARCHERS 
(1943-1957)
Companhia inglesa de produção de filmes, fundada em 1943 por Michael Powell (1905–1990) e Emeric Pressburger (1902–1988). Produziu um importante conjunto de obras, entre 1943 e 1957. Nesta colaboração, Powell reservava-se mais o papel de realizador, e Pressburger o que argumentista e produtor, mas ambos assinavam as obras em conjunto.
Numa carta endereçada a Wendy Hiller, em 1942, convidando-a a participar em “Colonel Blimp”, Pressburger explicava, em cinco pontos, quais as intenções da produtora: “We owe allegiance to nobody except the financial interests which provide our money; and, to them, the sole responsibility of ensuring them a profit, not a loss.
Every single foot in our films is our own responsibility and nobody else's. We refuse to be guided or coerced by any influence but our own judgement.
When we start work on a new idea we must be a year ahead, not only of our competitors, but also of the times. A real film, from idea to universal release, takes a year. Or more.
No artist believes in escapism. And we secretly believe that no audience does. We have proved, at any rate, that they will pay to see the truth, for other reasons than her nakedness.
At any time, and particularly at the present, the self-respect of all collaborators, from star to prop-man, is sustained, or diminished, by the theme and purpose of the film they are working on.
Powell e Pressburger criaram uma equipa, em The Archers, onde foi possível ver, em diversos projectos, os mesmos actores e técnicos, como Esmond Knight, Cyril Cusack, Sir Ralph Richardson, David Farrar, Googie Withers, Marius Goring, Pamela Brown, Laurence Olivier, Roger Livesey, John Laurie, Anton Walbrook, Conrad Veidt, Deborah Kerr, Eric Portman, Finlay Currie, Kathleen Byron, Léonide Massine, Robert Helpmann, Valerie Hobson, nos elencos, e Erwin Hillier, Jack Cardiff, Christopher Challis, Alfred Junge, Hein Heckroth, Ivor Beddoes, Brian Easdale, Allan Gray, Sir Thomas Beecham, Miklós Rózsa, David Lean ou Reginald Mills.


Filmografia da produtora (principais títulos): Contraband (1940), 49th Parallel (1941), One of Our Aircraft Is Missing (1942), The Life and Death of Colonel Blimp (1943), The Volunteer (1943), The Silver Fleet, de Vernon Sewell e Gordon Wellesley (1943), A Canterbury Tale (1944), I Know Where I'm Going! (1945), A Matter of Life and Death (1946), Black Narcissus (1947), The End of the River, de de Derek N. Twist (1947),The Red Shoes (1948), The Small Back Room (1949), The Elusive Pimpernel (1950), Gone to Earth (1950), The Tales of Hoffmann (1951), Oh... Rosalinda!! (1955), The Battle of the River Plate (1956), Ill Met by Moonlight (1957), etc.